13 - Acolhimento

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Sayumi Aizawa

Eu me recusei a voltar por uma daquelas coisas que aquele mordomo estranho fazia, então Dabi, com muita má vontade, me acompanhou pelos becos do subúrbio onde estávamos.

- Então, essas suas cicatrizes doem? - Eu odiava quando o clima ficava estranho.

- Cala a boca, não falo com idiotas

- Mas eu falo, tô falando com você, né? Então, doem?

Eu senti medo, mas, ao mesmo tempo, sentia que ele não iria me matar por isso, era besteira. Ele não era uma pessoa ruim por dentro. Desviei quando ele tentou apertar meu braço.

- Você é uma sem noção! A gente não precisa de você, é só uma garotinha mimada com problemas com o pai!

- E você é só um homem mimado com problemas com o pai, Touya! - Me arrependi das minhas palavras no segundo que saíram da minha boca, mas, eu tinha urgência em parecer forte e superior. Ele ficou tão bravo que aquelas chamas azuis se acenderam nas mãos dele.

- Eu nunca disse isso! Quem é você?! Como sabe meu nome?!

- Quando eu te perguntei pela primeira vez quem era você, você pensou nessa resposta! Não é culpa minha! É minha quirk!

Ele podia me matar naquela hora, agora eu achava isso. Me afastei dele o máximo que podia, pensando em como fugir dali antes que ele me queimasse viva.

- Então é por isso que o Shigaraki aceitou isso. Ele quer um detector de mentiras pra brincar!

- Não sou brinquedo, seu babaca!

- É sim! O Shigaraki vai te usar e te jogar no lixo porque você não é ninguém, você é fraca!

- Ok, eu já sei disso. Mas se ele vai fazer comigo, também vai fazer com você!

Ele suspirou e deixou de olhar pra mim, tentava se acalmar da raiva que sentia.

- Desculpa tá, Dabi? Não se preocupa, não vou contar nada sobre...seu passado pra ninguém.

- Você não sabe nada sobre meu passado, garota! Não importa o que você acha! Não importa o que você pensa que ouviu! - Ele gritava se afastando de mim.

- Você vai me abandonar aqui?

Olhei ao redor, não reconhecia aquele lugar, era só um beco aleatório e sujo.

- Dabi!! Eu não sei como ir embora! - Fui atrás dele, tentando o puxar de volta.

- Se vira!

Ele me ignorou mesmo. Filha da puta. Fiquei perdida naquela sarjeta, tentando encontrar um lugar conhecido. As pessoas com quem eu cruzava não pareciam receptivas, não me atrevi a pedir informação. Queria chorar de raiva dele, mas me contive e andei por algumas horas até encontrar uma rua principal. Naquela hora, eu voltei a ser a menina indefesa que sempre fui, largando o papel de má e corajosa. Voltei pro dormitório, atrasada e cansada demais.

- Ei! Onde você tava? Já passou do horário de voltar! - Meu pai disse, olhei ao redor e estava vazia. Acho que hoje os alunos poderiam ir dormir na própria casa. Eu ainda podia ouvir alguns pensamentos, mas não sabia de quem era.

- Eu tava ocupada, pai - Mostrei o case do violino, ele não tinha porque desconfiar de algo.

- Sabe o que o Hizashi disse? Que ele não confia mais em mim e isso é culpa sua! - Ele se aproximava de mim, usando uma voz ameaçadora e apontando o dedo na minha cara.

- Resolve você, Aizawa. Eu não tenho culpa.

- Você me colocou nessa situação, é melhor desmentir pro Hizashi ou eu não vou te perdoar.

Ele é impossível. Não tinha mais paciência, não tinha força de vontade pra conversar com ele.

- Eu não preciso do seu perdão! Saí da minha frente! - Eu empurrei ele e passei por ele, sabia que ele estava vindo atrás de mim.

- Não pensa em tocar em mim! Eu vou gritar tanto que até a policia vai vir e ai eu duvido que você continue sendo herói! - Minha voz tremia. Por que eu tinha mais medo dele do que do Dabi? Isso não fazia sentido. Era uma verdade dura. Continuei andando em direção ao meu quarto, as lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu tentava não fazer nenhum barulho. Isso irritaria mais ele. Ele odiava quando eu chorava, podia lembrar de todas as vezes que ele me chamou de dramática, chorona, vitimista.

Entrei no quarto e me joguei na cama chorando.

- Tá chorando? - A voz de Todoroki soou no meu quarto. Ele já tava lá, tava me esperando e eu estava concentrada em outras coisas pra percebê-lo previamente.

- Não faz isso! Que susto! - Joguei uma almofada nele por causa do susto.

- Desculpa, é que você disse que íamos conversar, quer que eu vá embora? - Ele já se dirigia a porta.

- Não, fica. Tá tudo bem. Senta, vamos conversar.

Ele se sentou ao meu lado, sem olhar nos olhos, mas isso era típico dele e não me incomodava em nada.

- Então, o que quer saber, Todoroki?

- Você sabe do meu pai?

- Então, eu não sei tudo. Só sei que você tem muita raiva dele e que ele te maltratou muito porque acha sua individualidade perfeita.

- Ok...Se você sabe disso, eu também quero saber do Aizawa-sensei. O que ele fez pra você?

- ...Ele é só péssimo pai.

- Ausente ou...péssimo péssimo?

- Ele me odeia! Sério, acha que só atrapalhei a vida dele e sou uma inútil. Ele fez minha mãe ir embora!

- Sua mãe? Achei que tava morta.

- Eu sei, mas ela não tá morta...Eu acho! Ela foi embora quando eu tinha 8 anos, depois que meu pai agrediu ela. Só deixou uma carta dizendo que ia sair do país, mas que continuava me amando.

- Bom, então não dá para saber como ela tá. Sinto muito por isso, sei como é ruim ficar longe de quem a gente ama.

- Sinto muito pela sua mãe também.

- É, bom, não tem mais nada que eu queira saber.

- Qual conclusão, Shoto?

- Aizawa-sensei é tão ruim quanto Enji. Me faz mal pensar que confiei tanto em alguém assim.

- Não precisa ficar com pena. Você vai superar sendo um herói, eu vou superar do meu jeito.

- Qual seu jeito?

- ...Ainda não sei, te conto quando descobrir.

Sorri pra ele, que depositou uma caixinha de chocolate na minha cama, saindo do meu quarto em seguida. Ele era um verdadeiro príncipe e me fazia sentir acolhida do jeito dele. Talvez, só talvez, a próxima geração de heróis fosse ser melhor que a antiga. Eu esperava estar viva pra ver quando os heróis seriam motivo do meu orgulho e não do meu medo. 

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Eu sou péssima em dar título pros capítulo kkkkkk

I'm Still Here [Finalizada]Where stories live. Discover now