༺XXVI༻

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PENSILVÂNIA SÉCULO XV


ஜீ፝͜͜͡͡Era a noite do jantar.

Estava no meu quarto vestindo uma roupa adequada para receber Victoria e o seu pai para o jantar pré-casamento. Colocava agora minhas botas de couro que iam até o meu joelho como a última peça que eu iria usar. Logo em seguida fui até o espelho para me olhar, pois queria saber como estava a minha aparência para aquela noite. Estava tudo nos conformes em mim. Sentia que estava arrumado o suficiente.

Estava nervoso, pois naquela noite finalmente iria romper o meu noivado com Victoria, afinal de contas eu estava apaixonado por Daynna e queria estar livre para desfrutar desse amor sem nenhuma amarra. Meu interior já estava cansado daquilo. Eu sabia o que queria e não poderia mais me limitar. Tinha que brigar pela minha felicidade se quisesse realmente que fosse verdadeiro. Ser amado não era o suficiente para mim. Eu queria amar também e Daynna me proporcionava exatamente isso.

Meu pai ainda insistia naquele jantar, mesmo quando disse que não o queria. Ele era um homem bastante teimoso. Quando minha mãe ainda era viva era a sua maior pauta. Vivia dizendo ao papai aquilo, mas de uma forma bem mais divertida, no entanto comigo ele é teimoso de uma forma agressiva, o que para mim era muito pior. Não sabia que uma pessoa poderia se transformar tanto depois de experimentar o luto.

Respirei fundo tentando pensar exatamente no que diria para Victoria. Apesar de sermos amigos desde a infância, precisava falar da maneira mais branda possível com ela. Minhas palavras tinham de ser macias como seda para uma notícia que não era tão boa, tendo em vista que ela sempre fora apaixonada por mim. Nossos pais apoiavam essa união e investiram todas as forças possíveis para que esse casamento acontecesse.

Não seria fácil ter aquela conversa e às vezes as palavras certas para diminuírem o impacto não eram tão certas assim. Era como dizer que alguém partiu. Não diminuía o fato de que alguém havia morrido. A dor ainda era a mesma. Esperava que Victoria levasse isso da melhor maneira possível. Era impossível saber como uma pessoa magoada poderia agir, afinal já tinha experiência com o meu pai.

Talvez fosse por aquele motivo que eu evitasse até aquele momento ter aquela conversa com ela, pois sabia que não seria fácil. Possivelmente a magoaria e não havia como evitar. Ela mais do que eu havia se doado aquela relação. Seu tempo, seu amor e seu coração. Seria como deixá-la erguer um templo e destruí-lo após estar de pé.

Antes mesmo de Daynna eu queria romper com aquele noivado, mas não havia encontrado forças suficientes para aquilo, mas agora com Daynna em meu peito, ninguém mais poderia ocupar aquele espaço em mim e minha voz precisava externar que meu coração tinha uma dona e não era Victoria.

Ouvi batidas na porta do meu quarto e concedi que entrassem. A empregada da casa entrou ali para anunciar que os convidados de honra já haviam chegado. Assenti com a cabeça para ela que logo saiu do quarto, fechando novamente a porta enquanto eu me olhava mais uma vez diante do espaço para garantir que não havia nada fora do lugar. Estufei o peito e soltei o ar. Precisava de toda a coragem possível para o que estava prestes a fazer. Por um segundo rezei, pedindo forças a quem quer que estivesse me ouvindo dos altos céus para que atendesse à minha prece.

Respirei fundo e por fim saí do quarto, caminhando pelo corredor rumo à cozinha. Dava para ouvir as vozes empolgadas do meu pai e do pai de Victoria. Podia ouvir os tapinhas nas costas que um dava no outro de forma amigável. Me aproximei até que por fim vi Victoria parada logo atrás de seu pai com um sorriso no rosto assistindo aos dois amigos se cumprimentando, até que seu olhar me encontrou e o sorriso não sumiu de seu rosto.

Meu pai voltou-se para mim com olhos cheios de expectativas esperando que eu fizesse algo como um verdadeiro cavalheiro, gentil e atencioso, portanto me aproximei dela, beijando sua mão, enquanto percebia que ela corava por sua pele ser tão pálida. Meu pai por fim conduziu todos para os seus devidos assentos para que pudéssemos finalmente começar o nosso jantar. Fiz o que todos esperavam que eu fizesse naquela noite, mesmo sabendo que logo mais diria toda a verdade para Victoria. 

A empregada serviu todo o jantar que consistia em um belo frango, vinho, saladas, além de muito pão. Todos nós comemos e por um momento senti falta dos momentos de alegria que tínhamos em família quando a mamãe ainda era viva. Há muito tempo não comia com a mesa tão cheia de pessoas, com conversas e risadas.

Percebi que durante todo o jantar Victoria me olhava com um sorriso no rosto e senti pontadas de culpa em meu coração pelo que faria. Ela não era culpada por me amar e eu muito menos por não a amar. Simplesmente não era possível mandar no próprio coração. Minha culpa entrava no fato de eu não ter sido sincero com ela desde o princípio e dizer que não a via do mesmo jeito que ela me via. Seria estranho para mim casar com ela, pois a via como a minha irmã mais nova, por mais que tivéssemos a mesma idade.

― Bem, eu acho que deveria ficar um pouco a sós com Victoria! ― disse por fim me levantando da cadeira.

Meu pai concordou com a cabeça, achando uma ótima ideia.

― Me acompanha? ― convidei ela estendendo meu braço para que ela o pegasse e assim fez, portanto logo saímos para fora de casa.

A brisa fria da noite logo nos encontrou, soprando movendo pedaços de nossa roupa e cabelos. Ao meu lado Victoria parecia tão feliz. O sorriso não saía de deu rosto em momento algum. Seus longos cabelos negros estavam amarrados em uma trança que caía sobre seu ombro e usava um vestido rosa claro, que a deixava com um aspecto bastante delicado.

Caminhamos até um banco de pedra que havia no quintal do pequeno castelo. Ela sentou-se primeiro da forma mais delicada como uma dama faria, juntando suas pernas e pondo suas mãos juntas sobre as coxas, enquanto o seu tronco permanecia ereto. Sentei-me ao seu lado olhando profundamente em seus olhos, ainda com um pouco de receio dentro de mim sobre as minhas palavras.

― Eu queria conversar com você em particular ― revelei por fim. ― Por isso te trouxe até aqui para termos um pouco mais de privacidade, já que nossos pais falam muito.

Ela sorriu.

― Você tem toda razão. É melhor termos um tempo só nosso antes do casamento para conversarmos sobre e ainda mais sob à luz das estrelas que deixa tudo com um aspecto ainda mais romântico.

Engoli em seco aquele comentário, ainda escolhendo as palavras certas na biblioteca dentro de minha cabeça. Respirei fundo tentando me encorajar ao máximo para concluir aquela ação. Precisava até mesmo falar da forma mais mansa possível para que ela entendesse que seria um rompimento pacífico de minha parte.

― Bem, antes de tudo eu queria te dizer que você é uma garota maravilhosa e eu tenho certeza que será a noiva mais bela que eu já vi...

Ela sorria e aquilo só tornava tudo mais difícil para mim.

― Mas talvez eu não seja esse homem! ― soltei por fim sentindo a corrente gélida que passava correndo pelo meu corpo completamente desenfreada.

Foi inevitável. A sua expressão caiu como uma fruta do pé no instante que aquelas palavras foram assimiladas pelo seu cérebro. Seus olhos pareciam não acreditar no que viam naquele momento. Sua fé estava abalada.

― Então você está me dizendo que quer romper com o nosso noivado?

Concordei com um gesto de cabeça.

― Mas eu tenho certeza que você achará um outro bom marido.

― Por que quer acabar com tudo Sebastian? ― indagou ela um tanto aturdida. ― Foi algo que eu fiz?

― Não Victoria, de maneira alguma.

― Então o que é?

― É que eu conheci outra garota e estou completamente apaixonado.

― Sebastian, nós dois nos conhecemos desde sempre, nos damos muito bem, temos apoio dos nossos pais, além de que temos muito bens somando juntos. Você quer jogar tudo isso fora por causa de uma garota que mal conhece?

― Victoria, ela me faz sentir como eu nunca havia me sentido antes. Meu coração palpita ao ouvir o seu nome, além de que ela é a garota mais bela que eu já vi em toda a minha vida. Ela não é qualquer garota.

Victoria se levantou abruptamente do banco e começou a se afastar com passos firmes. Ela passou a mão pelo rosto, talvez limpasse alguma lágrima que escorria naquele momento. Eu corri na direção dela, pois não queria que ela ficasse chateada. Queria esclarecer as coisas, mas quando a toquei uma luz violeta saiu de suas mãos me acertando como uma rajada de vento, me lançando na grama verde do quintal, enquanto Victoria corria para longe, me deixando ali caído e completamente atordoado.

Entre Almas [Livro 01]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang