༺XXXII༻

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PENSILVÂNIA SÉCULO XV


ஜீ፝͜͜͡͡Esperava no lugar marcado.

Estava sentado em uma pedra na beira do rio, completamente agasalhado pelo frio da noite com uma lamparina ao meu lado para iluminar à escuridão. Meu coração estava à mil por hora. Sentia uma energia congelante que passava pelo meu corpo me deixando alucinando. Eu estava mais ansioso que nunca por aquele encontro, pois queria contar a novidade sobre o apoio de meu pai ao casamento. Finalmente poderia ser feliz ao lado dela, sem nenhuma objeção e aquilo me empolgava. Já podia ver uma vida plena ao lado dela.

O tempo parecia passar mais devagar ao meu redor apenas por eu estar ansioso. Apenas o som da água ali me acalmava, mas ainda não me cessava o nervosismo para ver logo Daynna. Esfregava as mãos uma na outra, enquanto vibrava a minha perna com a tensão do meu ser sendo descarregado naquele movimento frenético.

A espera nunca era pacífica. Ela fazia um segundo durar uma eternidade e todos os sentidos se arrastavam num minuto interminável. Não sabia ao certo quanto tempo havia se passado desde que eu havia chegado, mas parecia ter se passado mais do que gostaria.

A cachoeira caía e o seu som era alto, mas se comportava como uma música suave aos meus ouvidos que amenizava as minhas tensões de maneira intermitente. Não sabia de onde vinha toda aquela água, mas era encantador vê-la caindo de encontro à reservatória ao solo.

Estava com a carta dela em mãos para ter certeza de que o encontro marcado era de fato ali. Aproximei a lamparina da folha lendo novamente o bilhete que era completamente objetivo. Tinha certeza de que era li, mas ainda não havia nenhum sinal dela.

Agora me perguntava o porquê dela ter escolhido aquele local. O que havia ali que ela queria me mostrar? Tentei achar com o meu olhar algo de especial ali, mas não achei nada até então. Talvez ela só quisesse um lugar bonito como aquele para passar um tempo à sós comigo. Assim que ela chegasse tudo poderia ser enfim esclarecido.

Continuava pensando no quanto estava feliz por tudo estar prestes a dar certo na minha vida. Já podia me ver uma vida plena e feliz ao lado de Daynna. Sabia que não poderia viver uma vida normal por ela ser uma caçadora e estar sob uma maldição que a obrigava a caçar e matar todos os seres sobrenaturais criados por sangue-demoníaco.

Ainda não conhecia de fato a família de Daynna, havia apenas visto seu pai e sua irmã na noite do baile. Uma apresentação formal seria muito bom tendo em vista que estava pretendendo me casar com ela. Precisava da bênção de seu pai para que o casamento ocorresse da maneira como pretendia, com toda a felicidade do mundo nos rodeando. Queria que o nosso casamento fosse uma festa e tanto, marcando a consolidação do nosso amor.

Uma brisa gélida passou por mim mais uma vez, fazendo com que eu me encolhesse um pouco enquanto ela passava por mim. Esfreguei as minhas mãos nos braços do meu casaco. Não usava luvas portanto minhas mãos estavam bastante geladas. Coloquei-as sobre a minha boca, soprando o ar quente que vinha de dentro de mim na intenção de aquecer um pouco mais minhas palmas. 

― Vejo que você veio mesmo! ― uma voz se fez presente de repente, me assustando e fazendo com que eu olhasse na direção.

Uma mulher com uma capa preta e um capuz sobre a cabeça, impedindo que eu visse o seu rosto estava parada à quase dois metros de mim. Meu coração logo se encheu de alegria, achando que poderia ser Daynna, mas sentia alguma coisa diferente na atmosfera, que fez com que eu hesitasse por um momento. Não sabia ao certo o que estava acontecendo até que ela levou suas mãos até o capuz o removendo de sua cabeça e revelando os seus cabelos extremamente negros, caindo sobre seus ombros.

― Victoria! ― pronunciei seu nome com total espanto.

Meu coração batia à mil por hora pensando o que ela poderia querer fazer comigo naquele momento. Prendi minha respiração por um segundo. A cena de suas mãos soltando uma luz arroxeada que me atingiu no peito com impacto, logo me veio a cabeça, me causando um frio na espinha. Tinha medo daquele encontro. Era difícil saber o que se passava na cabeça dela naquele momento. Tudo o que enxergava era uma expressão astuciosa com um sorriso zombeteiro, como uma criança prestes a fazer uma travessura.

Não sabia o que ela estava fazendo ali ou como sabia que eu estaria ali. Tudo o que me preocupava naquele instante era que Daynna chegasse ali e toda a nossa história de amor tivesse um trágico fim. Em meu interior sabia que ela ia tentar fazer alguma coisa para se vingar de mim por tê-la dispensado e aquele momento havia chegado. Com poderes como os seus seria fácil me eliminar ou me transformar em alguma coisa. O que quer que fosse fazer, me deixava bastante aflito.

― É bom vê-lo novamente Sebastian! ― disse ela com certa satisfação em seu tom.

― O que você quer aqui? ― perguntei sentindo o medo alojado em meu peito. ― Como me encontrou?

― Sebastian, me encontre hoje à noite perto da cachoeira, tenho algo para te mostrar. Assinado, D.

Ela gargalhou, uma gargalhada diabólica que eu nunca tinha visto antes em todos os anos que convivi com ela. Parecia outra pessoa. Uma pessoa fria e maléfica. Seus olhos brilhavam com a intensidade pela sede de vingança que sentia naquele momento.

― Então foi você que me mandou aquele bilhete?

― Isso mesmo. Que garoto inteligente.

― Por que?

― Porque queria me vingar de você e também porque me viu usar a minha magia, portanto matarei dois coelhos com uma cajadada só.

― Então vai me matar?

Ela negou com a cabeça e com o dedo indicador, fazendo um som com a boca.

― Vou fazer algo muito, muito pior meu querido.

Suas mãos começaram a brilhar com a mesma luz roxa que eu havia visto na noite em que rompi com ela. Ela lançou a luz em minha direção, sem que ao menos desse tempo para eu correr ou tentar me desviar, então logo senti todo o meu corpo paralisado, enquanto ela dava mais uma de suas gargalhadas.

Ela se aproximou de mim com um sorriso triunfante. A única coisa que conseguia mover naquele momento eram os olhos. Ela me avaliou e dissimulou uma expressão triste, fazendo um biquinho, mas logo voltou a sorrir com escárnio. Ela pegou algo na bolsa de couro que carregava atravessada ao corpo e logo pude ver um frasco com um líquido vermelho dentro. Não sabia ao certo o que era, mas sabia que poderia ser o meu fim.

― Não se preocupe Sebastian, só vai doer... Muito.

Ela riu novamente e abriu a minha boca com a sua magia, contra a minha vontade. Era inútil lutar contra aquela força que se estabelecera sobre o meu corpo. Ela retirou a tampa do frasco olhando para o líquido vermelho ali dentro, então por fim despejou até a última gota em minha boca, fazendo com que eu engolisse tudo completamente. Ela riu novamente, então senti meu pescoço estralar e mergulhei na mais profunda escuridão.

Entre Almas [Livro 01]Onde histórias criam vida. Descubra agora