༺XXXIV༻

546 64 40
                                    

PENSILVÂNIA SÉCULO XV


ஜீ፝͜͜͡͡O mundo estava diferente.

Levantei do chão sentindo minha cabeça completamente pesada e meu corpo inteiramente dolorido. Minha visão estava embaçada, mas aos poucos foi ganhando foco novamente. Sentia uma dor na barriga de tanta fome. Não sabia quanto tempo havia se passado, mas ainda era noite, portanto achava que talvez havia ficado apagado por no máximo algumas horas.

Logo senti minha audição se ampliar ouvindo o som da cachoeira se ampliar inda mais, causando um som grandioso como algo arranhando minha audição diretamente. Depois passei a ouvir sons que estavam muito distantes dali como animais acasalando ou correndo em meio a mata. No minuto seguinte ouvi todos os sons de uma vez zunindo em meu ouvido fazendo com que eu caísse de joelhos e bloqueasse o máximo daquele som, tapando minhas orelhas com as mãos para não ter que escutar aquele som ruidoso.

Demorou alguns segundos para aquela sensação passar. Finalmente fui tirando as poucos as mãos dos meus ouvidos e tudo parecia se normalizado, então minha visão começou a ir além do meu esperado, causando-me uma dor imediata com tanta informação que passava de uma vez. Fechei os olhos por um minuto esfregando-os com os meus dedos indicador e médio, até que senti-me confortável novamente para abrir os meus olhos.

Não sabia ao certo o que estava acontecendo comigo, mas não era nada bom. Naquele instante as imagens de Victoria lançando um feitiço para que eu ficasse imóvel antes de despejar aquele líquido vermelho em minha boca, vieram à tona em meu cérebro como um soco muito bem aplicado, me deixando desnorteado por alguns segundos vendo aquela cena contra a minha vontade em meu cérebro. Senti quando ela quebrou o meu pescoço naquele instante e me fez apagar. A sensação ainda estava ali inveterado em mim. Passei a mão levemente pela minha garganta sentindo o impacto, mas estava tudo em seu devido lugar.

Lembrei-me do que ela dissera sobre o que iria fazer comigo seria bem pior do que a morte. De certa forma sentia que havia morrido e voltado à vida, como se um grande veículo tivesse passado sobre mim e me deixado completamente esmagado. Mal conseguia me manter de pé naquele instante. Podia sentir o vazio que se instalara em meu interior. A fome me inquietava naquele momento, fazendo com que eu me locomovesse aos poucos atrás de algo para comer.

Segui pela floresta ouvindo os vários sons próximo e longe, mas aos poucos começava a me acostumar com a altura de cada coisa à medida que caminhava mais e mais. Ainda me sentia um pouco desnorteado com tudo o que estava acontecendo e me perguntava o que de fato Victoria tinha feito comigo. Tinha de esperar para ver o que iria mudar, mas tinha medo do que poderia ser. Não conseguia imaginar com minha mente limitada o que seria. A única que poderia me dar um veredito era Daynna e era indo encontrá-la que eu estava indo naquele momento.

Ouvi um som distante de passos. Não sabia ao certo de onde vinham, mas pareciam cada vez mais próximos, até que tive um reflexo espontâneo e corri por um momento. Não uma carreira qualquer. Uma que que me deu um impulso que nunca havia visto antes. Em cerca de um segundo havia corrido um quilômetro inteiro. Olhei para trás vendo que estava longe suficientemente da onde me encontrava antes e fiquei impressionado com aquele feito. Não sabia como tinha jeito aquilo, mas estava começando a sentir o poder correr pelas minhas veias.

Corri mais uma vez para ter certeza de que aquilo fora real e não apenas coisa de minha cabeça e cerca de segundos eu estava novamente na cachoeira. Olhei minhas mãos e aparentemente não havia nada de tão diferente em mim. Mas como poderia estar fazendo aquelas coisas extraordinárias? Não sabia ao certo, mas aparentemente o líquido que Victoria tinha me dado para beber tinha causado aquilo em mim. A pergunta que rondava minha mente naquele instante era: por que ela teria feito isso comigo? O que ganharia me dando poderes? 

Mesmo não sabendo a resposta para aquelas perguntas, eu sabia que havia um motivo maior para aquilo tudo e tinha medo de descobrir que a resposta que eu tanto buscava naquele instante, na verdade eu não queria ouvir. Não sabia mais o que esperar de Victoria àquela altura. Eu sequer a reconhecia mais. É como se fosse outra pessoa. A garota que brincava comigo na infância havia simplesmente se apagado e não conseguia mais saber quem ela havia se tornado. Por quanto tempo eu fui tão ignorante com relação à ela?

Não era fácil conhecer o pior lado de outra pessoa, ainda mais quando essa pessoa cresceu ao seu lado e foi a sua melhor companhia por anos. Era inevitável se sentir enganado. Era como viver em uma mentira tão bem elaborada por anos sem ao menos perceber. O choque de realidade me tomava cada vez mais com o modo imprevisível que Victoria assumiu nos últimos dias para mim. Era como se eu conhecesse um novo mundo cujo nunca houvesse reparado antes. Uma terra totalmente inexplorada além dos limites que eu já havia ido antes.

Os passos vinham cada vez mais em meus ouvidos. Pela frequência de passos podia ver que não se tratava apenas de uma pessoa, mas sim um pequeno grupo. Mais uma vez fui tomado pelo meu reflexo e corri até onde o som vinha o mais rápido que meu corpo permitia naquelas condições.

Por vim avistei ao longe, próximo à uma fazenda, um pequeno grupo de homens que carregavam em suas mãos ferramentas de lavouras. Eles eram silenciosos entre si, então pude finalmente notar o céu ficando cada vez mais claro, mesmo que o sol ainda não tivesse chegado. Eram os trabalhadores se preparando para mais um dia de trabalho árduo.

Algo dentro de mim logo se inquietou. Num segundo os olhava indo para o seu trabalho e no outro, sentia desejo de morder suas gargantas e sugar todo o sangue de seus corpos. Minha boca começou à salivar e já podia sentir o gosto de sangue em minha boca como a bebida mais agradável que já havia provado em toda a minha vida e foi apenas questão de segundos até que eu estivesse em meio à eles mordendo seus pescoços sentindo o sabor glorioso do sangue em meu paladar. O gosto de ferro salgado, se misturando ao doce de minha saliva gerava um sabor inexplicável.

Alguns dos homens tentaram me acertar com os instrumentos que estavam em suas mãos, mas consegui com minha velocidade desviar de todas as investidas e jogá-los ao chão com apenas um golpe. O homem que havia largado ao chão com o pescoço furado, ainda se mexia e implorava para que eu não o matasse, mas a adrenalina em meu corpo era forte demais e tudo o que eu conseguia pensar naquele momento era o quanto eu queria mais daquele sabor em minha boca. Seu sangue jorrava no chão como vinho em um barril furado e eu logo voltei a sorver todo o líquido de suas veias até que não restasse mais nada ali e o homem estar completamente imóvel.

Entre Almas [Livro 01]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن