༺XXXVI༻

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PENSILVÂNIA SÉCULO XV


ஜீ፝͜͜͡͡O que eu havia feito?

Estava com um homem completamente sem vida em minhas mãos depois de ter sugado todo o sangue de seu corpo. A pele clara do homem agora estava totalmente pálida e seus olhos fechados, depois de uma luta contra a morte que eu mesmo trouxe à ele, como o próprio ceifador. Larguei o corpo no chão atordoado com o que eu havia acabado de fazer. Nunca tirara a vida de alguém antes e agora sentia uma dose extremamente alta de culpa atravessando todo o meu corpo de uma vez, enquanto dava passos para cada vez mais longe dele ainda incrédulo.

Os homens cujo os corpos eu havia jogado para longe, agora se levantavam do chão, todos com expressões furiosas e outros espantados com o que eu fizera. Olhei na direção deles que logo investiram contra mim com as ferramentas que outrora seguravam em suas mãos. Senti o desejo de ir até as suas gargantas voltar de imediato e senti os dentes em minha boca crescerem novamente e minha garganta se mover com novas veias prontas para receber o sangue deles, então vi que o sol e vi que os primeiros raios do sol já atingiam o céu azul daquele dia.

De certa forma os primeiros raios vinham em minha direção e logo coloquei a minha mão na frente dos meus olhos, me incomodando com o brilho, então senti uma queimação em minha pele, que me fez gritar de certa forma quando senti o sol me atingir. Não sabia o porquê daquilo, mas ardia como se milhões de agulhas afiadas atingissem minha pele de uma só vez, rasgando-a. Os homens continuavam se aproximando de mim, portanto corri o mais rápido que pude dali e procurei um lugar seguro para ficar antes que o sol atingisse tudo e fizesse minha pele queimar ainda mais.

Não sabia ao certo onde deveria ficar agora, corri por todo lado até que me lembrei do chalé onde Daynna e eu nos encontrávamos todas as noites e corri na direção para me abrigar o mais rápido possível para me livrar dos raios solares que poderiam me ferir.

Não demorou muito até que eu estivesse no velho chalé abandonado, portanto logo entrei ficando em um canto da parede onde a luz quase não tocava. Respirava ofegante, não por ter corrido até ali, mas por ter sido ferido pelos raios solares. A ferida em minha mão já não estava mais ali. Minha pele havia se regenerado quase que imediatamente. Olhei para minha mão completamente impressionado com os meus poderes de cura.

Estava aliviado por estar ali agora. Eu estava prestes à matar aqueles homens. Todo o meu ser desejava penetrar suas gargantas e roubar todo o sangue que corria por eles, mas o sol me deteve e de certa forma agradecia por aquilo ter acontecido, pois não suportaria mais ter que carregar a morte de outras pessoas em minha vida. Eu havia matado um homem e aquilo era mais do que eu poderia suportar.

Desde que minha mãe morreu e meu pai se tornou aquele homem extremamente amargo, eu havia prometido não ser como ele, mas agora eu era bem pior. Havia matado um homem bebendo o seu sangue e o pior de tudo é que havia gostado de fazer aquilo para saciar à minha sede por sangue que parecia crescer à cada minuto dentro de mim. Precisava provar daquilo novamente, mas meus princípios me faziam sentir culpa. Não poderia matar pessoas sempre que eu quisesse beber sangue. Não sabia porque sentia aquele desejo. Me sentia como um demônio condenado à viver uma vida miserável.

Agora me lembrava das palavras de Victoria em minha cabeça, me dizendo claramente que eu provaria algo que era pior do que a morte e já via os primeiros resultados dessa afirmação. Aquele ser no qual ela havia me transformado não era eu. Eu era muito melhor que aquilo. Muito melhor. 

Agora seria obrigado a ficar ali até o cair da noite, quando finalmente pudesse sair dali, mas tinha medo de que ficasse novamente descontrolado e matasse outra pessoa. Em meu interior naquele momento estava havendo uma guerra na qual apenas um lado poderia sair vencedor. Meu lado humano que queria ser bom e não matar mais ninguém e meu novo lado animalesco que queria matar aquela sede descontrolável por sangue.

Antes de matar aquele homem, tudo o que senti em meu corpo fora uma adrenalina latente que me cegara por um momento e me fizera apenas querer provar um pouco de sangue. Meus instintos tomaram conta de mim, entorpecendo minha mente, focando apenas no quanto precisava matar minha sede, portanto num minuto nada mais importava, e no outro eu me sentia culpado por ter matado um homem pela primeira vez na minha vida.

As lágrimas logo começaram a banhar o meu rosto, que logo atingiram os joelhos da minha calça, já que estava abraçado às minhas pernas. Afundei meu rosto entre meus braços e pernas, sentindo todas as minhas frustrações saindo por aquelas gotas expelidas pelos meus olhos, até que ouvi um barulho na porta de entrada do chalé e senti meu corpo inteiro congelar, pensando que poderia ser Daynna. O medo de machucá-la naquele instante cresceu em mim, quase me sufocando. Me abaixei no chão, cobrindo o meu rosto para não olhar para ela. Não queria que ela me visse daquela forma e pior ainda que eu a machucasse. Abracei minhas pernas, enquanto ouvia o ranger da porta se abrindo, com a testa apoiada em meus joelhos e meu rosto enfiado no espaço que formei entre os meus braços.

― Ora, ora ― disse a voz e logo uma risadinha foi dada, então a porta se fechou.

Olhei para cima imediatamente, vendo um vestido cor vinho e uma capa preta. Ela tirou o capuz da cabeça e pude ver seu rosto pálido como a morte e a boca corada portando um sorriso maléfico de pura luxúria.

― Sabia que te encontraria aqui querido! ― disse ela com o mesmo sorriso zombeteiro que vi na noite passada.

― Não me chame de "querido".

― Oh, me desculpe querido.

Revirei os olhos ao ouvi-la me chamar novamente daquela palavra.

― Como me encontrou?

― Fácil. Rastreei a minha magia em você até aqui.

― E como chegou tão rápido?

― Sebastian querido, eu sou uma bruxa, portanto me teletransportei até aqui sem nenhuma dificuldade meu bem.

― Você é sádica.

― Oh, não gostou de eu ter te transformado num ser extremamente poderoso?

― Eu não queria ser poderoso, queria ser feliz com a mulher que eu amo.

― Entendi ― disse ela com desprezo em sua voz.

― Eu matei um homem por causa desse feitiço imundo que você me lançou.

― Nossa, já fez até a sua primeira vítima. Uma pena eu não estar lá.

Me espantava ver o quanto ela era fria. À todo momento mais constava que ela não era a garota que eu havia conhecido há muito tempo atrás. Ela havia sido tomada pela escuridão e eu não sabia como explicar aquilo. Sentia arrepios ao vê-la daquela forma. Descobri que nunca a havia conhecido de fato.

― Por que me transformou nessa besta sedenta de sangue?

― Não consegue nem adivinhar por que? ― devolveu à pergunta num tom sagaz.

― Por que queria se vingar de mim?

― Bem, de certa forma está correto, mas não é tudo queridinho. Eu te transformei num demônio sugador de sangue, porque a Daynna é uma caçadora de demônios, portanto você e ela jamais poderão ficar juntos. Você vai tentar convencer ela de que ainda é o mesmo homem pelo qual ela se apaixonou, mas tudo o que ela vai ver é um demônio em você porque a maldição dela é matar todo e qualquer ser com sangue demoníaco, incluindo você mon amour, então se eu fosse você evitaria cruzar o caminho dela ou, você pode ser tolo o suficiente para morrer pelas mãos dela.

― Você é que é um demônio Victoria, não eu.

― Bem, diga isso quando a lâmia do seu verdadeiro amor estiver ultrapassada em seu corpo e você estiver se desfazendo em poeira negra ― disse ela enquanto dava uma gargalhada alta que preenchia todo aquele ambiente.

Senti o ódio percorrer todo o meu corpo, fazendo com que eu cerrasse os punhos e investisse contra ela, mas ela foi mais rápida que eu, lançando uma energia roxa em minha direção, fazendo com que eu colidisse contra a parede atrás de mim e antes que eu pudesse chegar até ela novamente, ela já havia sumido dali, deixando-me naquele local sozinho com o peso de suas palavras que ficaram ali, rondando minha mente, como fantasmas que voltavam do além diretamente para me assombrar por quase todo o tempo mais daquele dia.

Entre Almas [Livro 01]Where stories live. Discover now