༺VIII༻

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PENSILVÂNIA SÉCULO XV


ஜீ፝͜͜͡͡Minha cabeça estava uma bagunça.

Estava sentado na minha cama, pensando em uma forma de contar para o meu pai que eu queria cancelar o casamento com Victoria, mas ainda não tinha certeza da minha coragem em fazer aquela petição. Sabia que era necessário se eu queria ter a chance de ser livre para ser feliz com alguém que eu realmente amasse.

Meu coração batia freneticamente, pois já estava próxima a hora em que meu pai chegaria de seu trabalho. Esfregava uma mão na outra, enquanto vibrava minha perna num ato de ansiedade sem medidas. Mordia meu lábio inferior, esperando que à qualquer momento meu pai ultrapassasse a porta.

Deitei na cama ficando com as pernas dobradas, tocando o chão. Com os braços abertos, quase tocando a cabeceira da cama, fitava o teto cada vez mais preocupado. A dúvida era a minha maior inimiga naquele momento. Sabia que tinha que optar pela minha felicidade, no entanto, estava com medo de magoá-lo com aquilo. Depois do casamento, meu pai parecia cada vez mais feliz, pois me casaria com a filha do seu maior sócio e amigo. Ele estava cada vez mais empolgado e tinha receio de tirar essa alegria dele. Temia que o homem amargurado voltasse.

Por um lado, achava aquela minha atitude um tanto egoísta, todavia, tinha de sentir novamente o que havia sentido quando vi Daynna entrar por aquele salão. Meu coração tornou-se vívido, como se agora soubesse o sentido de cada batida. Me tornei vigoroso. Meu corpo inteiro sentia uma onda enérgica correndo pelo meu sangue. Precisava me casar com alguém que fazia eu me sentir daquela forma. Podia ser muito egoísmo da minha parte, mas não podia ignorar aquele sentimento. Victoria Morgeinsthein não despertava aquilo em mim e agora eu tinha mais certeza do que nunca.

Ouvi um barulho vindo da sala. Meu pai havia chegado. Levantei-me imediatamente da cama. A porta do meu quarto estava aberta e ouvia os paços se aproximando cada vez mais do corredor, batendo contra a madeira do chão. Uma sombra cresceu no corredor e pouco depois o vi com uma expressão cansada, como todos os dias. Sabia que tudo o que queria fazer era relaxar depois de um dia enfadonho de trabalho, mas era uma das poucas horas que o via em casa, portanto tinha que romper com tudo e fazer o meu tempo acontecer.

― Pai! ― chamei-o e ele parou prestes a entrar no seu quarto.

― Oi filho! ― disse ele com um leve sorriso surgindo na sua expressão cansada. Seus olhos se estreitaram deixando os pés de galinhas e as cavidades abaixo dos seus olhos ainda mais profundas.

― Eu queria te dizer algo! ― minha voz soou vacilante.

― Me diga então!

As batidas do meu coração pareciam mais fortes e frenéticas que antes. Senti o ar ao meu redor se intensificar e tornar-se mais quente do que imaginava que realmente era. Meu peito parecia que iria explodir e por alguns segundos tudo o que consegui foi balbuciar pensando em tudo o que poderia acontecer, caso eu pronunciasse aquelas palavras.

― E então? ― papai indagou erguendo uma de suas sobrancelhas, já impaciente com a minha demora para falar. ― Estou esperando!

― Pai, antes de diga qualquer coisa, saiba que eu te amo! ― disse tocando o seu ombro com um meio sorriso.

Ele contraiu os lábios e assentiu com a cabeça. De certa forma, aquele gesto singelo me concedeu uma coragem abrupta e abundante que eu jamais havia sentido até ali. A adrenalina correu por todo o meu corpo e naquele momento soube que eu poderia fazer qualquer coisa que eu quisesse.

― Eu não posso me casar com Victoria! ― falei de uma vez por todas e senti um peso em meus ombros serem retirados quase como se aquelas palavras fossem mágicas.

Papai me olhava com uma expressão neutra e era difícil saber exatamente o que se passava pela sua cabeça. O medo voltou a me consumir por completo, congelando o meu coração, que se debatia dentro de mim, ávido pelo que iria sair da boca dele sobre o que eu acabara de falar.

― Por que não pode se casar com Victoria? ― perguntou ele num tom intrigado, mas sua voz ainda era serena como antes.

― Porque eu não a amo!

Agora podia ver uma nova forma tomar o rosto do meu pai. De repente seu rosto inteiro se contraía em uma risada, que saira bem do fundo de sua garganta. Não entendia o porquê de sua risada, mas meu corpo se aliviou instantaneamente e pude sentir a leveza novamente habitar em mim. Acabei por liberar um sorriso também, deixando-me contagiar com a sua risada alta.

― Amor! ― repetiu ele com o sorriso um pouco mais contido, se extinguindo pouco a pouco do seu rosto.

― Exatamente meu pai! ― disse com um pequeno sorriso. ― Eu quero me casar por amor!

― O que você sabe sobre o amor meu filho?

― O suficiente meu pai!

― Pois eu digo que ainda não sabe nada meu caro!

― Sei sim meu pai e também já senti!

― Já? ― ele me pareceu um tanto surpreso.

― Sim meu pai, mas sinto lhe dizer que não foi pela Victoria!

― E quem seria essa garota então?

― Daynna, a conheci no baile!

― A filha do caçador?

― Sim meu pai!

― Ouça uma coisa meu filho, eu sou o seu pai e quero o melhor para a sua vida e eu acho que essa garota não é a garota certa para você. Não a conhecemos. Ela e sua família chegaram agora na cidade sem um motivo aparente. Ninguém os conhecesse direito. Como podemos saber se são boas pessoas?

― Eu não sei, mas...

― Ouça Sebastian. Victoria é o melhor para você. Você e eu a conhecemos praticamente a vida inteira. Ela é a filha do meu melhor amigo e vocês cresceram juntos. Deve haver algum sentimento entre vocês se você se esforçar um pouco...

― Meu pai eu não a amo, tudo o que sinto por ela é um carinho!

― Já é alguma coisa meu filho se trabalhar isso vocês poderão ser muito felizes juntos!

― Você me ouviu pai? ― interpelei elevando um pouco meu tom de voz. ― Eu não quero me casar com Victoria.

― Escute bem ― vociferou papai o que me assustou, pois sua voz retumbou de repente carregada e autoritária. ―, você vai se casar com Victoria porque ela é o melhor para você!

― O melhor para mim? ― bradei com indignação. ― Ou o melhor para você?

― Eu ainda sou o seu pai, portanto exijo respeito!

― Para ter respeito é necessário que se dê respeito também meu pai e você não está respeitando a minha escolha!

― Você está agindo como uma criança apaixonada!

― Eu não quero me condenar a uma vida infeliz ao lado de uma mulher que eu não amo!

Papai avançou sobre mim e me jogou contra a parede com uma das suas mãos segurando o meu pescoço. Seu olhar irradiava fúria, enquanto apertava cada vez mais a mão em meu pescoço, me deixando desesperado para me livrar daquilo. Eu era bastante forte, porém papai era maior que eu e carregava o ódio em cada fibra do seu corpo naquele momento, portanto sua força estava dobrada.

― Você vai casar com Victoria ou eu mesmo vou me encarregar de transformar a sua vida em um inferno, está me ouvindo?

Com dificuldade assenti. Sua mão estava oprimindo toda a minha garganta, de uma forma que sentia certa dificuldade em respirar, fazendo sons esganiçados, pondo minhas duas mãos sobre a sua única mão em meu pescoço. Ele soltou de uma vez o meu pescoço, fazendo com que eu caísse de joelhos no chão, ofegante. Ouvi quando a porta do seu quarto se fechou subitamente, enquanto eu ficava ali tossindo e segurando a minha garganta.

Ergui minha cabeça completamente assombrado com o que havia acabado de acontecer. Não esperava por uma atitude daquelas vinda de meu pai. Ele nunca fora violento daquele jeito. Vi o homem doce, de fala mansa se transformar em um monstro diante dos meus olhos. Quem quer que fosse aquele homem, ele não era de forma alguma o pai que eu conhecia.

Entre Almas [Livro 01]Where stories live. Discover now