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~ jude montoya

O que eu sabia sobre Sam Carvert: ele era estupidamente bonito. Era britânico. Tinha alcançado a fama com a saga Sweet Evil. Onde ele era o protagonista. E era isso.

Eu não conhecia esse homem sentado a minha frente. Não éramos amigos. Não sabia quem era Samuel. Só o ator que faz as adolescentes sonharem com um futuro juntos.

— A mala era assim tão importante pra você? — Me vi perguntando.

— Pra mim não. — Disse simples. — Mas eu a peguei com a minha mãe, ela está doente. E essa mala foi presente do meu pai que faleceu no Afeganistão. Um arranhão na lembrança. — Completou, abaixando a cabeça, triste.

Ah!

Eu faço mesmo tudo errado!

— Sinto muito, de verdade. — Falei. Eu chutei algo com valor sentimental. E eu bem sabia como era ruim quando isso acontecia. — Eu... Eu compro uma nova! — Soltei, em prontidão.

Mas então, notei a expressão estranha de Sam. Retorcida.

O encarei, de olhos semi-serrados.

— Você acreditou nisso mesmo? — Perguntou então, rindo da minha cara. Que idiota! — É só uma mala. Cara. — Completou.

E e eu me coloquei a dispor de comprar uma mala nova, mas agora, não. Primeiro que ele era um ator muito bem pago. Muito mesmo. Milhões caiam na conta desse cara.
E detalhe, roteiristas jamais ganhariam como um ator. Jamais mesmo. E era isso.
Uma mala Burberry era dinheiro substancial pra mim, e pra ele, não era nada.

Era a minha deixa pra sair dali, dei a volta na mesa pronta pra ir embora, mas acabei na situação vexatória de tropeçar em uma pequena erosão na calçada, e ter que me segurar nele pra não cair. E por instinto, creio eu, ele me segurou pela cintura para me manter de pé.

Senti a pele do meu rosto queimar, e me afastei em prontidão de suas mãos.

"Obrigada" soltei, rapidamente.

— Você não olha mesmo por onde anda... — Disse, colocando seus óculos de volta no rosto.

Revirei os olhos, antes de sair dali.

Caminhei pela cidade de arquitetura rica em cultura, eu gostava do clima e das construções históricas... Tudo ali parecia a remeter a arte. Terminei naquela tarde, frente ao castelo de Edimburgo, e enfim, o dia de turista teve seu fim, pois o trabalho começava na manhã seguinte.

(...)

Felizmente eu dormi uma noite inteira antes de ir trabalhar, sempre tenho medo de ter terrores noturnos quando estou longe de casa ou de pessoas que confio. O último que tive, foi há mais de dois meses, felizmente Nia estava no apartamento que dividiamos, e me ajudou a me acalmar. Era sempre o mesmo pesadelo que me paralisava: meu pai sendo carregado morto, com um tiro de fuzil na cabeça, para dentro de casa. A imagem, a agonia de ve-lo daquela forma me atingia em cheio, e eu acordava, em pânico. Na infância eles eram mais frequentes mas minha mãe achou que ia passar, mas depois, eu passei a esconder dela, eu não gostava de a ver sofrer. A terapia me ajudou um pouco quando fui convencida por Jack, a procurar ajuda, e os remédios pra dormir as vezes eram a solução, mas não gostava de depender deles. Então, quando eu dormia bem sem precisar de nada, era reconfortante.

Assim que levantei, me vesti com uma roupa quentinha e confortável, ficávamos muitas horas no set, e como a maior parte do trabalho na Escócia era externo, eu preferia ter mais mobilidade.

Peguei todo meu material de trabalho, que eu ja tinha organizado em uma mochila na noite anterior, e desci para o hall do hotel. Era por volta das 6:25 da manhã, e parte da equipe já estava ali. Os atores iriam em vans diferentes.

Comum de DoisWhere stories live. Discover now