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~ jude montoya

Naquele fim de tarde, com ajuda de Genevieve, eu consegui entrar por cinco minutos na UTI, teria que ser rápido pois os médicos pretendiam tirar Jack da sedação ainda naquela noite.

Eu podia falar qualquer coisa sobre como ver alguém que se ama naquele estado é difícil, todos aqueles fios, tubos, o som das máquinas, faixas, os cortes, os machucados, era assustador, mas isso é algo óbvio. Mas a sensação é bem mais complexa que essa, é pura impotência. De se sentir pequeno, subjugado por algo muito maior.... Eu falei brevemente com ele, pedi para que não desistisse, não que ele tenha me escutado, e se escutou, provavelmente não entendeu pois eu estava meio engasgada com o choro. Sempre que via alguém fazer isso nos filmes, parecia estranho e eu jamais colocava coisas do tipo em meus roteiros, mas de certa forma, era um curioso conforto.

Quando saí do hospital naquela noite, eu fui para casa, quando cheguei, Martin me esperava, para discutirmos nosso próximo passo no processo e tudo o que estava por vir.

Pois Samuel já havia acionado seus advogados, alegando sua inocência. E o que provava que uma briga judicial me esperava iminentemente.

E por último, a produtora terceirizada que fez minha ponte para a série da HBO, entrou em contato comigo, a situação de escândalo a poucas semanas de lançamento de Herdeiros do Rei, era negativa.

Era certo que a recém rejeição de Sam é um problema, mas eu não tinha mais o que fazer, e não recuaria. E para ser sincera, deixei claro para eles: Sam que resolva suas questões com o estúdio, não vou colocar panos quentes em nada para beneficia-lo.

Só eu sabia como me sentia... Como tudo em mim estava machucado, como eu me sentia humilhada, e o pior, como se eu tivesse culpa. Eu sabia que não tinha, mas a sensação não ia embora mesmo assim.

Então, pediram que eu divulgasse a série, evitando claro, os posters ou teasers que haviam Sam em destaque. Mas que divulgasse evidenciando que sou a roteirista. E isso, eu faria. Pelo meu trabalho, pelo esforço que tive. E eu sei que apesar de tudo, a série ficou incrível

Felizmente respeitaram o meu pedido de cancelarem minhas entrevistas, deixando apenas a de Zoe Garland, que no caso eu conheço pessoalmente e sei que ela seria muito profissional, pois eu sabia que os jornalistas iriam querer tirar tudo de mim, menos algo sobre meu trabalho na série.

E também havia o silêncio do estúdio sobre "Ação e Reação", já estavamos em pré-produção, e eu teria que ir a New York na próxima semana, mas enquanto Jack não estivesse melhor, eu não iria sair da cidade e isso era certo pra mim.

Na manhã seguinte, minha mãe e eu saímos um pouco até o parque perto do condomínio, só para respirar ar puro, mas não deu muito certo, pois fui abordada por dois jornalistas, foi difícil me livrar deles mesmo que eu repetisse milhões de vezes que não falaria do assunto com eles, principalmente por não terem nenhum tato ao fazerem perguntas invasivas sem nenhum tipo de sutileza, quando entramos no prédio que fui atender meu celular que não parava de tocar, era Roslyn que estava no hospital, querendo me informar que levaram Jack para o quarto durante a madrugada, com seu quadro tendo progressos significavos os médicos não viram necessidade de mante-lo na UTI, e o melhor, era ele ter acordado por um instante agora a pouco.

Quem estava no quarto no momento era sua mãe, ele estava no respirador e não falou muito.... Na verdade, ele apenas balbuciou algo que pareceu ser "como eles estão?"

Eles. Eles, são os filhos dele.

Quando sua mãe o tranquilizou dizendo que eles estavam bem, ele voltou a ficar inconsciente.

Segundo os médicos essa oscilação de consciência era comum.

Quando desliguei o celular, abracei minha mãe que estava pendurada em mim ouvindo as noticias, a abracei bem forte.

Comum de DoisDonde viven las historias. Descúbrelo ahora