Família O'Sullivan

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 Capítulo 07

  Acordo assustada com um forte trovão, meu coração bate rápido no peito quando me sento a cama sentindo a sensação ruim que é o susto e afasto meus cabelos, a luz se acende devagar por conta do barulho e lembro-me que havia faltado energia antes, Joseph não está comigo, então olho o relógio na parede, marca três da manhã. Me levando devagar e vou até à porta que está meio aberta, seguro na maçaneta e a abro por completo, o corredor está escuro até a ponta do primeiro degrau, que se encontra claro pela luz da sala. Assim que dou meu primeiro passo meus olhos vão até o quarto ao meu lado, olho para debaixo da porta como se pudesse ver algo, não vejo nada obviamente, está tudo escuro e sinto um arrepio subir toda a minha espinha, meus olhos fecham com força e respiro fundo. Fecho a porta atrás de mim e resolvo logo descer, encontro Joseph na sala sobre um monte de almofadas que deixei no sofá, não dá para ver a chuva estando na altura que estou, está tudo escuro, o prédio mais alto de toda Irlanda, e esse país nem tem tantos edifícios assim.

  Preparo um chá e resolvo continuar com o design do restaurante, indo para a sala me deparo com as flores no balcão, deveria ter deixado no escritório me arrependi de deixá-la aqui, o cheiro enjoado está em todo o ambiente e isso me faz embrulhar o estômago, tudo por medo de uma coisa que não vai me fazer mal algum, minha mente. Da minha bolsa do trabalho tiro o bilhete do buquê que está no meu escritório na empresa, agora tenho dois bilhetes cafonas, os jogo para o balcão e resolvo subir logo. Sentada olho a minha agenda para saber da minha última programação na empresa por esse mês, uma reunião na cidade vizinha, é Joseph, temos uma viagem juntos! Na última linha tem um compromisso muito ruim, essa noite, ótimo, é o que eu precisava exatamente! Adrenalina, passei a gostar dessa parte da minha vida, odiar também, e meio que odeio mais que gosto.

  O dia amanheceu ainda chuvoso, escutei a tempestade, já estou na minha sexta xícara de café e ainda não preguei os olhos, falta uma última coisa para terminar de vez o restaurante, paro para descansar olhando o dia, tudo está um silêncio total, nem mesmo se escuta as buzinas, por isso amo esse andar, o último afastado de todos, caminho até a vidraça e olho para as ruas cheias de neblina, o limpa-neves está passando, sem carros, sem pessoas, tudo lotado de neve, faltam mais três dias aqui, espero sermos liberados logo. O último gole de café e fecho o computador, saio do quarto e encontro Joseph do mesmo modo que deixei às três da manhã, dou meia volta e subo as escadas devagar voltando para a cama, desta vez durmo para valer.

  Segura minha mão? Olho em seus olhos e sorri para mim, seguro em seus dedos gelados e compridos, me puxa pela cintura e começamos uma dança no meio de tantas outras pessoas, na companhia das estrelas, na trilha sonora do mar, no aconchego do nosso amor, em cada volta do nosso corpo o meu vestido roda, o seu sorriso aumenta em dentes alinhados, me segura firme e olho em seus olhos, nossas risadas tomando todo o lugar, cheias demais e gordas demais para a nossa garganta apenas. No fim, quando paramos de rodar de um lado para o outro nos olhamos, seus olhos em cores amareladas, seu sorriso de lado, suas bochechas levemente coradas pelo sol de hoje. Aos poucos perco o seu toque em minhas mãos, olho para elas e vejo que está sumindo, então olho para seu rosto e parece fumaça de cigarro, evaporando para o céu, e no fim eu estou sozinha, das chamas não sobraram nem mesmo as cinzas.

  Abro meus olhos e devagar, olho para o teto e tudo está escuro, um sonho. Uma lágrima solitária cai dos meus olhos, a primeira de muitas que surge logo em seguida, o sonho me trouxe a lembrança de como era me sentir ao lado de Simas, o sonho me fez sentir a antiga Dona, me sento a cama, pois, sinto a faltar o ar pelo nariz cheio, uma dor no peito me faz levar a mão na região enquanto continuo a chorar. Um sonho depois de anos de pesadelos, senti verdadeiramente Simas depois de cinco anos, não foi medo, foi amor e esse sonho me faz recordar nossa viagem a praia, dias antes da sua morte, momentos muito bons guardados comigo, apenas para reviver. Tento respirar sentindo a dor no peito, engulo em seco fechando os olhos com força e tentando acalmar.

  — 1... 2... 3 — conto repetidamente até acalmar a ansiedade, olho para o relógio, está perto da reunião em família, me levanto ainda sentindo dor, pego Joseph do tapete o ponho na cama, tiro toda minha roupa e olho para as janelas, já está escuro e são cinco da tarde ainda. Tomo um banho quente e demorado, lavo os cabelos, faço a limpeza de pele e cuido de mim, fora do box ponho uma lingerie preta de renda, passo hidratante pelo corpo e escovo meus cabelos, indo para o quarto minha pele se arrepia e Joseph mia passando entre minhas pernas, separo a roupa de inverno e calças de alfaiataria preta, agasalho preto e gola alta e um sobretudo, botas e alguns acessórios, me visto rapidamente, coloco perfume e pego minha bolsa, uma pistola 9mm, batom, um soco-inglês e o celular, um beijo na testa do peludo e deixo o quarto. Saio em passos firmes pelo corredor até o elevador, me encontrar com a familia de Simas, que também por uma parte é minha, muitas vezes é desafio, pois, são poucos que me aceitam, poucos aceitaram a minha liderança pelos negócios da família e da vida pessoal do meu marido, mas é isso, não escolhi nada por minha total vontade, a única pessoa que estou feliz em ver é Carmélia, prima de Simas, minha melhor amiga e quem vejo a cada duas vezes no ano, ela fez bem em ir morar longe desse lugar, estou com vontade de viajar, México talvez.

  Entro no carro e ligo o rádio, música boa, quarenta minutos até a casa dos O'Sullivan's, chuvinha e o perigo das ruas, jogo a bolsa para o banco do passageiro e acelero. Tenho um tempo para mim, mas isso para mim nunca foi problema nenhum, tenho muito tempo a só com a minha insignificante presença, a rua pacata me da um convite, piso o pé no acelerador e abro os vidros, meus cabelos voam para todo lado, cada minuto mais um quilômetro, mais um pouco até ver os faróis longe de algum carro, vou desacelerando e respiro fundo, um pouco de vida para dentro de mim. Viro a esquina e em dez minutos paro o carro atrás de outros, ainda dentro suspiro, vamos lá Dona!

Dona O'Sullivan - Spin OffOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz