O começo de tudo

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  Quando estava o mais longe possível do motel, pude controlar os meus sentidos e voltar a andar normalmente, onde estava com a cabeça para fazer isso? Minhas pernas doem, sinto dor em quase tudo, tanto pelo sexo tanto pela corrida por quatro quarteirões, preciso e pra casa, mas como acharei carona essa hora da no...
  — Dona? — a voz me fez estremecer por completo, fecho os olhos com força e reprimo um palavrão. Viro para a pessoa calmamente. Simas, o homem que frequenta a casa da minha mãe. O tal que não sei se é seu amigo, seu filho, seu amante, seu namorado, seu ficante, tudo o que pareça com ter-alguma-relação-com-ela.
  — O-oi — quero bater-me de diferentes formas por gaguejar, por estar aqui, por ter feito o que fiz.
  — O que faz aqui nessa hora? Nesse lugar tão perigoso — a forma como tira seu agasalho e põe pelos meus ombros me puxando para perto dele, me mostra uma pessoa totalmente diferente daqui já conheci esses cinco meses frequentando minha casa.
  — Estive procurando emprego mais cedo — curtas respostas, não quero ter que soltar nada que não devo soltar.
  — São três da manhã, sua mãe está louca me ligando, o expediente já acabou, há muito tempo, não pensou em como ela está preocupada? Não mandou nem mensagem! — paramos em frente ao seu carro e abre a porta do passageiro para mim, o olho por alguns instantes e parece paciente. Não está furioso comigo, por mais que seu tom me repreende. Entro no carro e fecha a porta, ponho o cinto e se senta ao banco do motorista.
  — Não tenho celular e não achei ser tão tarde — mentira! Sabia que era tarde, só não sabia o horário.

  Desde aquele dia de vergonha, voltei a procurar emprego, já estávamos ficando sem comida, minha mãe estava desesperada por não achar nada, as meninas não haviam encontrado nada também, eram burras mesmos, eu passava a maioria dos meus dias fora de casa, procurando emprego, fazendo coisas vergonhosas, até Simas me encontrar novamente e dessa vez ele descobriu o que eu fazia naquelas ruas. Respiro fundo tomando o último gole de bebida, aquela semana, naquele clube foi aonde voltei a ver Gargulho sem saber ainda quem era ele, tudo começou no esbarro no motel, e achei que tudo havia terminado na vez que Simas quebrou a cara dele, em uma noite que era pra ser descontraída.

  — Você não fez isso! — Simas ri das minhas conversas enquanto andamos nas ruas frias. Minha mãe não me ligou mais depois que disse que estou na companhia de Simas, ela fica tranquila sabendo que estou com ele, olhando agora, penso em como fui idiota em imaginar que ele era amante dela, nunca percebi que o carinho que ela tinha era de uma mãe por ele, por mais que Simas seja um pouco mais velho que eu, tem idade de ser filho dela.
  — Fiz! E ele ficou super envergonhado, mas eu não pensei na possibilidade di... — paramos os passos ao virar a esquina e bater de frente com a única pessoa no mundo que não queríamos bater de frente.
  — Ora, ora, faz tanto tempo desde a última vez, achei nunca mais ver essa sua cara de puta — respiro fundo, até esqueci do acontecimento com o Joe.
  — Vamos embora Dona — Simas segura minha mão e Gargulho segurou o braço dele — qual foi meu irmão? Tira essa mão imunda de mim — Gargulho ri e Simas mantêm os olhos nele, solta meu braço e o que fez em seguir me faz recuar passos — falei para soltar filho da puta — o murro direcionado ao lado da bochecha cortada me faz encolher meu corpo, em meio a tamanha violência começo a me assustar, Simas está literalmente quebrando a cara de Gargulho e o mesmo apenas ri, cada soco, cada barulho da pele se chocando me faz estremecer. Quando Simas percebe que não vale mais a pena, que aquilo para o psicopata era diversão, ajeita os cabelos os jogando para trás e vem em minha direção, o sangue no chão, Gargulho se levanta devagar.
  — Vamos para casa — Simas coloca determinada força em meu pulso quando me puxa, seu corpo ainda tem adrenalina, ainda respira tão ofegante que um pouco do que ele sente parece passar para mim através das veias de suas mãos pulsantes, ao paramos em frente ao seu carro abre a porta para mim e adentro sem hesitar, quando entra e bate a porta pulo no banco, respira calmamente agora, só se ouve nós, as ruas estão vazias, nem o som do vento se ouve, a três quarteirões, vemos o filho da mãe atravessar a rua cambaleando. Os nós dos dedos de Simas embranquece com a força que põe no volante. — Me desculpa Dona, estraguei seu aniversário — dezoito anos, você não, ele estragou.
— Vamos para casa.

  Desperto dos devaneios com uma forte dor de cabeça, o interfone toca e nem percebi, respiro fundo tentando me levantar de onde estou, o carpete não ajuda, Joseph está sentado a minha frente com a mesma cara de tédio de sempre, antes de chegar ao destino o barulho chato para, respiro fundo e fico ao lado esperando o retorno. Olho a neve cair, coço meu olho e afasto os cabelos para trás, não sei quanto eu bebi, mas a garrafa está pra baixo da metade, o bastante para está vendo as coisas meio turvas, novamente o barulho estronda meus tímpanos. Olho o celular em cima da escrivaninha, caminho para perto e vejo um número desconhecido.
  — Sim... — breves minutos em silêncio, poucas palavras no fim da ligação.
  — Olá Dona, a senhora Andréa pediu para avisar que fará uma visita hoje — suspiro e reviro os olhos, é o que menos preciso por agora. — Está tudo bem, ela disse que te ligou três vezes, pensei não estar em casa.
  — Sim, tudo bem, estive ocupada. Obrigada por avisar — desligo após seu "por nada" o que menos preciso agora é de visitas. Seguro a garrafa de bebida e olho o gato — vem — subo as escadas devagar e passa por mim correndo me olhando no último degrau, respiro fundo ao chegar no penúltimo e olho a porta no fim do corredor, foda-se.

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Dona O'Sullivan - Spin OffWo Geschichten leben. Entdecke jetzt