Sede

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Não dormi, não consegui, o meu coração batia tão rápido que temia ter uma taquecarida dormindo, eu não consigo acalmar, todos já devem estar acordados. Tento ignorar a notícia, mas já se passou o tempo determinado? Oito anos, tão rapído, a memória esta fresca para mim, tudo, até mesmo o ódio.

  Desço as escadas a ouvir vozes calmas, cheiro de café da manhã elaborado e quentura de casa de família aconchegante, do último degrau da escada observo pelo reflexo do vidro da janela, como brincam pai e filho, enquanto Anna faz panquecas, família, nunca nem mesmo pensei nisso, ou isso foi tirado de mim quando mataram o meu homem. Desperto quando Joaquim caminha em minha direção, então forço um esbarro para ele não perceber que eu os observo. 

  — Você acordou! — A voz masculo desse jovem, realmente o tempo passou, o ódio que tem no meu coração agora faz eu respirar fundo, mas forço um sorriso, só para não parecer chata.
  — Felizmente — ou infelizmente — bom dia — o dia não está bom para mim.
  — Conseguiu dormir? Parece cansada ainda — você está realmente preocupada com minha aparência, ou está preocupada se ouvi a cama rangendo?
  — Tenho dificuldade de dormir fora de casa — me sento junto a família feliz, ainda não olhei para o homem da casa, não quero ter pensamentos em como ele fode a mulher dele, e nem mesmo sujar a memória do meu marido imaginando como é fuder com outro. Muitas pessoas podem achar que não devo pensar assim, sou víuva, meu marido não iria querer que eu ficasse assim para sempre e por mais que meus desejos carnais estejam gritando agora, não consigo achar falta de respeito. É como se a presença dele permanece comigo, não consigo ver oito anos que se passaram, não o esqueço e nem lembro que não sou casada, já fui, mas não sou mais. 

  Tomamos café em "família" com comidas e conversas familiares, quero inojar tudo, pois tenho inveja de como são, mas não quero ser tão escrota, o que eu menos desejava vai acontecer, vou passar a tarde inteira com Harry a só, e conversaremos de negócios em seu escritório, sem sua esposa e sem seu filho, apenas nós dois a tratar sobre coisas que vim fazer aqui. Estou no quarto olhando o celular a notícia que me tirou o sono. Ela será encaminhada para o hospital psiquiatrico, passará o resto da vida a tomar rémedios e presa com loucos, mas passará viva1 Eu não quero isso, tenho que esquece-lá e tirar da minha mente isso, deixá-la para longe, colocar no fundo da minha mente. 

   Desço novamente e me encontro no meio do sala, casa silenciosa de vozes, barulho do relógio, um pássaro longe, o miado do Joseph no andar de cima preso no quarto, carros na avenida longe, e teclas de teclado do notebook. No escritório, caminho até lá calmamente e chego a porta o vendo com sobrancelhas franzidas, uma mecha do cabelo caindo por cima de seus óculos de grau, seus olhos vão de um lado para o outro enquanto lê o que escreve, e então, suspira tirando os óculos e massageando os olhos caindo para trás no encosto da sua cadeira.
   — Se estiver ocupado, volto depois — não havia percebido a minha presença, me olha rapidamente quando ouve minha voz. Posso dizer que, deve ter se assustado e seu coração bate rápido agora, assim como ontem ele se esqueceu da minha presença, hoje também deve ser esquecido.
   — Você é silenciosa demais para sentir a presença — sorrio com essas palavras e adentro por completo o seu escritório.
   — Quero conversar e decidir logo os negócios. — Me sento à sua frente na poltrona aconchegante.
   — Está aqui há dois dias, pensa em voltar já? — apoia sua cabeça nas mãos que estão apoiadas pelo cotovelo na mesa.
   — Sou uma mulher ocupada, estar de férias em Londres, nunca é estar de férias. Qualquer hora vão me ligar para voltar para empresa, ou para negócios em família — suspiro.
  — Bom, então me explique por que dá sua vinda. — Olho-o nós olhos.
   — Há um homem, o nome dele é Baccievas. Ele é um pé no saco cuzão — mexo na caneta acima da mesa. — Quer fazer um contrabando de coisas, mas preciso que seja discreto, a metade será com algumas mercadorias legais, mas preciso do seu pessoal...

   Harry cuidará do resto, Felipe está cuidando de outras coisas por mim, estou andando pelo bairro, crianças estão correndo para um lado e para o outro, acabaram de chegar da escola e o ônibus não entra nesse condomínio, então todos correm cada um para sua casa a gritar um com o outro, as crianças de hoje em dia não é como antigamente, um ser tão minúsculo grita com o colega e vizinho o chamando de "bunda mole medroso que não consegue segurar uma bola". As coisas tem mudado, até mesmo os humanos, a tal "evolução", evoluímos junto com o mundo, é louco pensar nisso pois, enquanto vivemos, não percebemos nada até paramos para analisar tudo ao nosso redor. Vivemos uma vida no automático. Sento no banco de uma praça pequena no fim do condomínio pensando na última pergunta que fiz a Harry.

   — Se você não tivesse conseguido salvar Joaquim a nove anos atrás. O que você estaria fazendo até hoje?

  Inicialmente ele não entendeu e não me perguntou nada, quando por fim respondeu havia se passado alguns minutos difíceis.

   — Eu com certeza teria caçado aquelas mulheres, se eu não as matasse, não descansaria. A minha vida inteira sempre tive em mente, que punição para assassinado, nada mais justo do que a morte.

   Eu não paro de pensar naquela mulher, não pensei nela durante esse tempo todo. Não constantemente, mas agora, que sei que ela pode estar livre e viva. Uma sede de sangue me consome como nunca me consumiu antes.

Perdão pelo capítulo tão curto. O próximo será maior e cheinho de maravilhas.

Dona O'Sullivan - Spin OffWhere stories live. Discover now