Amargura

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  Olho para as flores em minhas mãos e logo para ele se aproximando, então vou em sua direção. Que cretino! Meus pés batem na neve fazendo barulhos ao afundar nela, ele recua os passos que estavam sendo direcionados a mim.
  — É você não é? — jogo o buquê em sua direção e várias pétalas ficam por cima do homem enquanto outras caem a superfície branca, parecendo mancha de sangue.
  — Eu o que? — segura em uma rosa a olhando.
  — Que manda essas flores com aquelas cartas idiotas. O que significa? O que você quer comigo? O que você iria fazer aquele dia? — me olha e tem um semblante confuso e assombroso.
  — Não fui eu! Não iria fazer nada e não quero nada com você, maluca! — por um minuto quase o bato, mas reparo bem nas suas expressões faciais, o medo, a confusão e curiosidade. Verdade nos seus olhos acima de tudo. Olho as pétalas, parecendo gotas de sangue na neve, tão vermelhas, as palavras, os cartões rodando em minha mente, não, não poderia ser realmente ele.
— Então quem foi? — pergunto mais para mim do que para ele, me viro de costas a olhar a única rosa sobre o túmulo de Simas.
  — Um admirador secreto, quem mais seria? Por que não tenta?
  — O que você sabe da minha vida? — aponto o dedo na sua cara, uma risada sem humor corta sua garganta.
  — Sei que é viúva, visita uma vez por semana seu ex marido por anos, deveria dar uma chance para alguém — o olhando percebo o quão novo deve ser, e me pergunto o que faz aqui neste lugar ao invés de uma empresa ou vida melhor. Se for mais velho que eu deve ser de três a quatro anos. Viúva, disse viúva, nem havia pensado por anos nessa palavra, não pensar nela me faz ter a sensação que ainda sou casada com ele.
  — Ninguém substituirá Simas — se afasta de mim e devo da medo mesmo quando estou raivosa, já que sua expressão não e das melhores.
  — Tudo bem, mas só são flores que mulher não gosta delas? — sorri, mas não tem nada no seu sorriso a não ser desespero.
  — O tipo de mulher que traz elas para o amado há cinco anos — a resposta seguinte me magoa, nem deveria já que surgiu de um estranho, um estranho que me observa nesses anos talvez.
  — Nem sei como recebe flores, é tão fria e amarga que ninguém deveria te amar. Morreria de amargura — abana sua cabeça em negação e tira as rosas da sua roupa, sua expressão agora é raivosa, porque me disse isso, nem me conhece? Ou conhece o bastante para poder afirmar isso? E se ele estiver certo? E se me tornei fria e amarga? Se não vejo mais sentindo de vida? Uma coisa sei, não amarei mais ninguém como amei Simas, e nem sei se permitirei alguém me amar, morreria mesmo de amargura, e de amor não correspondido. Olhando o homem se afastando, sinto uma lágrima cair olhando as pétalas, logo congela e cai apenas uma gota de gelo para o imenso branco embaixo dos meus pés. Me viro entre calcanhares e fico mais um tempo sobre o túmulo antes de ir para casa com esse pensamento, choro o caminho todo, pois, me tornei tudo aquilo que nunca quis, em todos os aspectos, não tive o emprego dos sonhos, me tornei milionária, sim, moro no lugar que sempre sonhei, sim, mas não alcancei tudo isso como havia sonhado.

  O celular toca e é Andréa, não atendo, não estou no meu melhor momento e não quero discutir com ela, só quero chegar, deitar e dormir até a noite, para passar tempo e esquecer o ocorrido, como uma pessoa que não me conhece me diz aquilo? Se até ele que não me conhece percebeu que sou assim, e as pessoas ao meu redor? Andréa me disse que sou fria, não jogou na minha cara, mas disse. Novamente o celular toca, olho-o por um tempo enquanto o sinal está fechado, e resolvo atender.
  — Querida! — respiro fundo e volto a dirigir.
  — Oi Andréa — ouço alguns barulhos ao fundo.
  — Todos os meninos estão aqui hoje! Que tal vir jantar conosco? — analiso a sua pergunta, dormir seria bom, mas com certeza não faria e passaria o dia a pensar, estando junto a eles nem mesmo me lembraria pelo resto da noite.
  — A última vez que estive aí a casa foi invadida e discutimos, tem certeza que me quer na sua casa novamente? — ouço sua risada.
  — Esqueça isso querida, venha, eles vão embora amanhã — lembro de Carmélia, por ela e Felipe, apenas.
  — Chego em uma hora.

  Entro em casa recebendo carinhos de Joseph, a levo comigo para o quarto e separo uma roupa quente, uma calça preta por cima de outra quente, botas, blusas de frio, coat preto e gorro. Visto primeiro a calça quente por baixo da larga social, a bota com saltos quadrados, uma regata fina preta, uma blusa de frio colada de manga longa por cima, outra blusa de frio mais quente preta e o gorro. Arrumo os cabelos ao lado dos meus ombros, coloco na bolsa o celular, a carteira, o outro celular caso tenha uma ligação da empresa, um batom e pego minhas luvas de couro colocando-as.
  — Não está esquecendo de nada? — ouço sua voz e não o olho, apenas para o objeto na gaveta, respiro fundo e o seguro jogando para a bolsa pondo por fim o coat e fazendo um carinho em Joseph, coitado, fica tão só que acho que adotarei uma gata para ele. Desço novamente, e já escurece o dia, daqui a pouco já estará escuro. Deixo comida o suficiente para o gato e saio, um jantar com todos os irmãos, com a família completa.

Dona O'Sullivan - Spin OffOù les histoires vivent. Découvrez maintenant