Dona O'Sullivan - Spin Off

Floricultor

   Capítulo 09

   Faz uma hora e meia que estou em transito, questiono várias vezes se era para ter aceitado o convite, tanto pela neve, tanto pelo relacionamento na casa, respiro fundo sem paciência, sou uma pessoa acostumada e calma para espera, mas, ultimamente, não tenho muito a calma que tinha antes. Ligo para Andréa avisando sobre a demora e me diz que há dificuldade dos outros também em se locomover para a sua casa, por parte de mim fico aliviada quando não é apenas eu atrasada.
  — A primavera será já na próxima semana e promete ser uma das semanas mais frias em décadas na Irlanda sem ser inverno, então você que já estava planejando um piquenique com a família e comemorando a ida dos casados pesados para a vinda de um leve vestido, aguarde um pouquinho pois a última semana do inverno e a primeira semana da primavera prometem bater o recorde do frio com a previsão de cinco graus abaixo — troco a rádio a fim de ouvir notícias boas, não que o maldito frio se estenda, minha vida já tá atrapalhada demais para isso, com essa afirmação só confirma que as obras irão atrasar e não serão entregues no tempo que planejei, sendo assim tendo que mudar todos os planos até mesmo a reunião, o único lado bom é que tenho tempo de terminar outras plantas, de resto, não há nada bom, ainda mais com esse homem que não sei quem é me entregando as flores. Estaciono o carro atrás de mais três estacionados no quintal de Andréa, ao subir os três degraus nem mesmo preciso bater na porta, lá estava ele, Angelo com um mínimo sorriso.
  — Dona — me abraça e retribuo o gesto do mesmo, logo ouvindo os saltos.
  — Querida pegou um belo trânsito, por que não dorme conosco hoje? — me abraça deixando dois beijos em cada bochecha, você não me engana cobra, não me compra, me odio tanto tempo para distribuir amores só depois da morte do filho? Se antes com ele aqui você não dava o gosto de mostra-lo que gostava de mim, por que na ausência dele quer mostrar?
  — Mais tarde quando voltar estará melhor, não se preocupe agora era horário de pico — concorda com um aceno e logo vejo Felipe e os outros três irmãos. Angelo se senta ao lado do seu inseparável gêmeo Peter, Nathanael está ao meu lado e Felipe ao lado da mãe, James senta na cabeça da mesa e logo o nosso jantar é servido, a noite fria já está entre nós e o primeiro assunto é a empresa.
  — Soube que está planejando outras três obras depois da inauguração das outras, para o fim do inverno — James toma o vinho branco da sua taça.
  — Um restaurantes intitulado como Sima's, em homenagem ao nosso querido e dois prédios na street 3'9, duas grandes empresas já estão de olho neles — ouço Angelo estalar a língua e o olho perto de mim.
  — Será que serei o chefe desta cozinha — estreita os olhos para sua mãe e sorri.
  — Angelo irá se mudar para cá querida, ficará com a gente e — enfatiza o "e" olhando seu filho com brilho nos olhos — está mesmo pensando em abrir um restaurante com todas as coisas que aprendeu ao redor do mundo — dá para sentir seu orgulho de onde estou.
  — Disse que tem duas empresas de olho nos edifícios, sobre o que elas tratam — bebo um pouco do vinho para engolir minha comida e responder a pergunta de Nathanael.
  — Uma delas é uma editora famosa, outra é de uma grande estilista, está querendo expandir para Irlanda, ambas são do mesmo homem — concordamos.
  — Já pensou em um valor? — aceno que não para James.
  — Todos os meus planos foram adiados pela frente fria que fará nessa última semana e na primeira da primavera. As reuniões com os empresários, arquitetos, engenheiros e os restantes envolvidos tudo foi adiado. Me dá tempo de rever as plantas, mas me deixa ansiosa, estou pensando em outros negócios, durante esses dias com tudo parado, mas os aviões estão limitados, e o casal de Londres, como vão vir?

  O jantar correu bem, além da minha empresa conversamos também sobre os planos dos rapazes e descobri que passaram uma temporada aqui, Angelo se mudará mesmo para uma vida Irlandesa, isso me fez refletir se ficarei o resto da minha pobre vida aqui neste lugar, ou se me arriscarei em outros países, com essa reflexão descubro que perdi realmente o amor na vida, tenho grandes oportunidades, mas nenhuma vontade de conhecer nenhum lugar, talvez morra mesmo aqui, infeliz, sozinha, fria e amarga, sem um amor, com uma lembrança do passado, com um coração que nunca se reconstruiu, com um fantasma para sempre lembrar de Simas, uma lembrança que não é minha. A figura que vejo foi o que vi em breves minutos antes de desmaiar e só vê-lo dois dias depois deitado, frio e todo maquiado num caixão. Se ao menos a lembrança fosse o Simas que conheci, que me fez feliz em anos e foi assim que fui para casa, pensando em como terminaria minha vida depois de duas hora de conversa com pessoas sem nem mesmo ouvir o que estava a ser dito, meus pensamentos ficaram em torno disso até estacionar em casa exatamente as nove e cinquenta da noite em um frio de matar com um dor no peito recorrente a pneumonia que tive, e uma dor horrível nos meus ossos, até mesmo meus olhos doem, necessito urgentemente de uma xícara quente de chá e minha cama, tudo doí.

  Cumprimento Jason e chamo o elevador enquanto verifico nos celulares se não há nenhuma mensagem nem da empresa nem mesmo de Noah, antes que guarde recebo sua mensagem perguntando se já estou segura em casa, resolvo responder quando já estiver dentro de casa, enquanto isso o elevador sobe. Amanhã será o último dia da semana, dependendo deste final de semana na segunda já começa os preparativos do que será a primavera, os planos para pelo menos até o final de setembro, todos os edifícios estarão prontos para o fim de fevereiro do ano que vem, aí sim prepararemos a inauguração com já então o chefe presente no restaurante. Jogo as chaves para lá e o coat para o cabide, prestes a entrar na cozinha recebo uma ligação. Acabei de subir da portaria, o que será?
  — Algum problema Jason?
  — Não senhora, mas há um homem aqui embaixo com um buquê, diz ser da floricultura e disse que tem ordens para entregar as flores pessoalmente, deixo subir ou a senhora descerá? — ata Jason, um floricultor as nove da noite, num frio de matar, na tempestade lá fora? Subir? Quem é o filho da p...
  — Deixe subir.