A poesia

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Capítulo 08

  Uma música toca no rádio em cima do vaso sanitário, o cheiro do sabonete me acalma enquanto a água quente relaxa todo o meu corpo, deito na banheira e resolvo relaxar, o rádio trava e as vozes começam a se cortar, olho para ele de soslaio não tem como ir lá e mexer na antena, então tento relaxar ainda com ele chiando, fecho meus olhos novamente e depois de cinco minutos ele para. Silêncio total aproveito a água quente no meu corpo, sinto cada músculo relaxar, uma sensação boa de alívio, um barulho me faz assustar e nem dá tempo de olhar quando sou empurrada para debaixo da água, meus olhos se arregalam e andem pelo sabão, mas antes de fechar vejo o terno preto, me debato sem ar, meu pulmão queima e sinto água invadir minhas vias aéreas.

  Abro meus olhos rapidamente com uma forte inspiração e me sento na banheira, olho de um lado para o outro no banheiro, para a água assustada e suspiro sentindo as minhas costas doerem, respiro fundo e resolvo sair, me levanto me vestindo no roupão, desligo o rádio e o levo para o quarto. Um relâmpago ilumina o ambiente, não chove, mas pode chover. Ponho uma roupa quente e confortável e desço para apagar as luzes e trancar a porta.

  Ao chegar no último degrau da escada olho para o balcão na cozinha, da para sentir daqui o puro cheiro de morte, ando rápido até o buquê e o pego com tanto ódio que pétalas caem ao chão, amasso as flores jogando no cesto de lixo, os dois e logo depois de recolher as pétalas no canto observo que a comida de Joseph está no mesmo lugar que deixei antes, intocável.
  — Joseph, menino! — chamo e nada, não escuto o sino da sua coleira, o que é o fácil localizador quando ele está perto, me levanto do chão e observo com um breve olhar, toda a sala vazia, a almofada que ele costuma dormir não está ocupada, começo a chamar pela casa, nem mesmo sinal do gato — psi, psi! — meus dedos estalando para chamar atenção e acabo por parar no corredor, não abri nenhuma porta para ela entrar, a piscina está fechada, o escritório está fechado, onde está ele? Subo para ver se não está embaixo da cama, mas antes de completar os degraus consigo ver por debaixo da porta do quarto no começo do corredor, as patinhas peludas, como ele entrou ali? Meu coração bate rápido, sinto o sangue latejar no meu ouvido, engulo em seco olhando para o chão querendo ver sua sombra, completo os degraus e vou em direção a porta, meu coração batendo nas minhas costas me dando um breve pavor. Toco na maçaneta e giro.
  — Ah! — o telefone toca, olho minhas mãos e solto, está trancada, eu tranquei! Olho mais uma vez para minhas mãos e desperto do meu pavor com mais toques do telefone, desço as escadas rapidamente e atendo, ninguém, suspiro e carrego comigo o aparelho, caso retornem, volto a subir, olhando para a porta ainda com receio. Quando entro para o meu esconderijo, minha bolha e meu mundo, lá está ele, safado, deitado sobre a poltrona de frente para a janela. Deixo meus ombros caírem e fecho a porta atrás de mim sem nem mesmo olhar para o corredor, resolvo dormir, o sono está me dando alucinações, meus horários estão desregulados, essa tempestade está acabando com minha rotina diária e comigo, seguro-o levando comigo para a cama e o deito, faço o mesmo me cobrindo e durmo tão rápido quanto esperado.

  A minha manhã foi muito agitada, o dia já está bom para sair, sem sinal nenhum de tempestade, só do frio que faz meus ossos doerem. Fiz uma breve reunião com Finn para avisar a todos que darei o resto da semana de folga, voltaremos pela semana que vem, não me parece bem voltar para trabalhar dois dias perto do fim de semana, também vai me dá tempo para sair com Felipe. Me levanto da cama convidativa para um dia todo de preguiça e escorrego em papéis.
  — Droga — juntando todos os documentos acabo por ver os três bilhetes, dos quatro buquês, seguro os para mim e os observo. Todos não tem sentido, não são românticos e isso me fez chegar a conclusão que não é nenhum admirador secreto. Abro todos e observo o que está escrito.
  — A chama do fogo se acenderá, do começo de novo volte a dançar — repito, então leio devagar os outros e meus olhos se arregalam, é uma poesia. Junto todos os três e os observo.

    A chama do fogo se acenderá, do começo de novo volte a dançar
   Sorria alegre balance seu corpo, volte para o topo tudo de novo
  Dance, dance sem parar
  Sorria, sorria sem exitar
  Até o topo sem se envergonhar.

  Jogo os longe, balanço a cabeça de um lado para o outro e bebo o resto do uísque. São só palavras, digo isso para mim repetidamente enquanto escovo os dentes, penteio os cabelos e jogo água na cara, e se não for só palavras, disse para Andréa que iria descobrir quem manda esses buquês, consequentemente descobrirei quem é o autor. Visto roupas quentes demais, jogo meus cabelos para dentro do capuz e minhas mãos para os bolsos do coat. Desço e seguro nas chaves, por algum motivo, resolvo visitar Simas sem ser um sábado, não pensarei em motivos, para não resultar em surtos.

  Quando a porta do elevador se abre a minha maior vontade é de voltar, lá está mais um buquê, desta vez vermelho, Austin já estava prestes a ligar, pois tirou o telefone do ouvido e sorriu para mim.
  — Mais um, menina — seguro na maldição e sorrio para o senhor.
  — É mais um, boa tarde Austin! — desço para o estacionamento, enjoada com o cheiro ridículo. Ah como eu quero saber quem é o infeliz!

  No carro espero o sinal ficar aberto, um CD toca me deixando calma, não tem neve, com certeza o limpa neve passou agora pouco. Olho para o buquê e logo para o cemitério a minha frente, estaciono o carro e seguro as flores indo em direção ao túmulo do meu amado. Sorrio, está aqui me dá uma paz e alívio tão bom, olho sua foto e sorrio, os tempos não têm sido fácil, andoa viver automaticamente, fazendo coisas que sempre faço sem nem perceber, às vezes penso em romantizar minha vida, minha vida fora da máfia, fazer por gosto, seguir, será que é o que Simas gostaria! Estou congelando!
  — Sinto tanta sua falta — meu corpo todo dói pelo frio, só mais cinco minutos.
  — Estou ao seu lado todo dia — meus dedos se fecham em punhos ao ouvi-lo, de soslaio consigo o ver, rodando seu único anel no dedo, com o terno preto, não tem buracos, não tem sangue, é apenas ele.
  — Sinto falta do que você era. Do que vivemos, do que tínhamos para viver — coloco uma única rosa no seu túmulo, as amava por causa dele, agora as odeio por causa dele. Seguro o cartão e guardo, mais um para completar a poesia sobre mim, mais um para eu me perguntar quem sabe tanto da minha vida a ponto de fazer isso.
  — Ei! Boa tarde Dona! — olho para o zelador que vem em minha direção com uma pá, a sua roupa cheia de neve e acena, como não pensei nisso antes?

Dona O'Sullivan - Spin OffOnde histórias criam vida. Descubra agora