Ar fresco

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  Londres é um lugar explendido! O ar daqui parece até fresco, mas na verdade, é só o frio, já estou acostumada com o clima, Irlanda não fica tão longe daqui, somos praticamente vizinhos, mas aqui é tão poluído quanto lá.  Anna ficou de me pegar no aeroporto, já faz dez minutos que estou aqui, se vier sozinha será bom, preciso fazer uma terapia rápida com ela.  Não confio em ninguém para conversar sobre o meu segundo trabalho, quem iria saber das atrocidades que faço e não iria denunciar para a justiça? Mesmo que eu não faça grandes coisas, poderiam inventar, pensar em outras baboseiras, preciso ter amigos com que contar, e mesmo assim seria desconfiada com eles, Anna me entende, passou pelo que passei, temos uma vida quase igual em alguns sentidos, ainda acho que ela teve uma vida pior que a minha.

  No carro junto a ela não tive nenhuma oportunidade de dizer algo, é nesses momentos que lembro como é solitário viver só. Acaricio o gato dentro da casa de transporte, dorme como um anjo, meu velhinho companheiro. 

  — É tão louco como fazemos tantas coisas erradas e não somos descobertos né? — Anna me olha por breve minutos, estou acariciando o gato ainda, mas percebo pelo canto dos meus olhos. Vira a esquerda e já vejo um condominio de casas bonitas, parece uma vila, crianças correm em um parque. 

  — É, parece que somos ocultados, ou, realmente as autoridades não são tão eficases no que fazem, pois estamos embaixo do nariz delas, as vezes matando companheiros, as vezes sendo os companheiros. — Sorri para mim. — Acho que Joaquim vai amar o Joseph — sorri com a ideia dele pegando o velho gato tão frágil.

  Trouxe apenas uma mala, não pretendo passar muitos dias aqui, depende de como será meu tédio, quero esparecer e relaxar, mas também vim a trabalho. Ao abrir a porta para mim tive a velha visão de uma casa de família, nem mesmo parece que por anos foram do crime organizado. Que aconchegante, cheiro de canela misturado com madeira, um lugar bem iluminado, decoração minimalista, mas bem distribuido, bom gosto. Diferente da minha casa sem graça. Um gato vem até nós, ele só está interessado no velhote na caixa, abro-a e os dois recuam, o rabo dele está tão grosso que parece de um esquilo.
  — Mãe — ouço em algum lugar da casa — chegou? — que voz angelical e, ao mesmo tempo, tão madura pro tamanho que eu lembro que ele tinha, de repente aparece um garoto de cabelos longos e castanhos correndo em nossa direção, está enorme desde a última vez que o vi, ele era tão pequeno, nós estávamos todos em uma guerra pra salvar a vida dele, e olha, que saúde!
  — Joaquim, está é a nossa convidada a quem te falei, Dona — o garoto se posiciona bem para falar comigo, estende sua mão e abre um sorriso.
  — Prazer em conhecer você! — ele deve ter o que? 12 anos agora?
  — O prazer é meu Joaquim — sorri apertando sua mão.

   No quarto disfarço minhas malas e observo o gato a cheirar todo o lugar. Deixarei ele preso aqui, não quero perde-lo numa terra tão distante, me sento na cama a observar também, ele sobe deitando em meu colo. Que lugar quieto, nem mesmo se ouve o falatório deles. Um carro faz barulho ao passar pelo portão, olho pela janela, Harry, daqui desse quarto tenho uma visão favorável desse condomínio, é fechado e parece um bairro comum de cidadezinha no interior, nem mesmo parece que estamos numa cidade tão movimentada. Sai do carro, que belo homem! Está com um corte diferente de cabelo desde a última vez que foi na Irlanda a não muito tempo, está de roupas casuais, não estava trabalhando. Saio da janela, não estou aqui para observar o marido da minha aliada, não direi colega nem amiga, não sei se poderia contar com ela para isso. Estou aqui a negócios, eu nunca descanso definitivamente, deixo minha mala de lado e sento na cama com o notebook preciso da uma olhada nas mercadorias que serão transportadas. Depois do jantar, me deixaram ir ao escritório trabalhar melhor, não é como se fosse demorar horas, mas agora estou demorando mesmo, são complexas as coisas que preciso pedir, irão passar pela alfândega preciso ser cuidadosa para não dar nada de errado, meus homens estarão esperando para transportar tudo até um lugar seguro, ai entra Harry e companhia, falando nele:
  — Desculpe, esqueci que estava aqui, ficamos tão sós os 3, que acabei esquecendo de você — sincero, está sem camisa, posso observar as tatuagens, um belo físico, abaixo meu olhar para o notebook e abro um pequeno sorriso descontraído, tento parecer nada incomodada, mas na verdade, o sorriso é de sapequice.
  — Eu que me desculpo, estou a mais tempo do que achei que estaria — sei que não devo cobiçar marido de ninguém, mas ele é um puta gostoso. — Bom, já vou indo dormir, estou cansada da viagem.
  — Boa noite Dona — sorrio e passo por ele.
  — Boa noite — posso está sendo atacada or pensamentos de uma mulher que não tem um homem a oito anos, não gosto de pensar nisso, não gosto da ideia de estar esquecendo do meu amor por Simas, respiro fundo tentando esquecer dos pensamentos que vem a minha mente com o anfitrião da casa, não posso prosseguir com isso, ou a esposa dele perceberá que estou olhando-o com outros olhos, olhos que queriam vê-lo sem o resto da roupa. 

  Respiro fundo subindos os degraus até chegar o último, preciso descansar, um banho quente será bom para relaxar. Me deito na banheira, faz tempo que não tomo um banho assim, mesmo que na minah casa tenha, parece que lá eu nunca consigo realmente relaxar. A espuma cobre meu corpo, deixo a luz apagada, apenas uma luminária no canto é o ponto de luz, está tudo em silêncio, já é madrugada, isso é um bom momento. Deito minha cabeça na borda da banheira. Ao sair depois de quase dormir no banheiro, seco meus cabelos apenas com a toalha de algodão, o meu celular toca o som de notificação da mensagem, quem seria uma hora dessas? Deito-me com o gato enroscado nos lençóis e abro a mensagem, meu coração palpita tanto que temo sair correndo do meu peito.

"Você sabe da notícia? Ela está solta!".
Felipe ✌🏻

Dona O'Sullivan - Spin OffWhere stories live. Discover now