Gargulho

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  Aguardo a campainha andando de um lado para o outro, olho a porta com tanto ódio, já tirei todas as minhas blusas de frio ficando com a fina regata, na minha frente no centro, já estou com todos os cartões que veio nos outros quatro buquês, na minha cozinha no lixo tem as flores murchando, agora irei descobrir quem é o infeliz. A campainha finalmente soa e olho para a porta como se fosse ver o homem por ela, engulo em seco e meu coração palpita me dando a horrível sensação de frescor no peito e borboletas no estômago. Minha bota ecoa no chão e enquanto caminho até a porta, giro a chave e logo a maçaneta e abro, um homem de costas, veste preto e se curva pela sua altura.
   — Pois não? — ao se virar e ver o seu sorriso cortando sua face e uma horrível cicatriz de linhas em seu olho, dou passos para trás até cair no chão tropeçando entre meus pés.
   — Olá Lola! — me arrasto para longe do homem que adentra o apartamento e fecha a porta com o buquê em mãos, deixa que caia pétalas quando o segura pelas rosas, apenas com uma delas ao lado do corpo e retira o boné revelando o pouco de cabelo grisalho. Seus olhos vagam pelo apartamento e parece surpreendido — você conseguiu em, que bela casa, que belas roupas — segura meus agasalhos — que bela mulher se tornou — tenho raiva, ainda mais do seu olhar de luxúria pura. Sempre odiei ele, mas minha surpresa e ódio não me deixam expressar a raiva.
   — V-v-v-você? — sou quase incapaz de pronunciar enquanto se aproxima, me levanto com a ajuda do sofá e me afasto cada vez mais. Observa a casa novamente e solta uma gargalhada.
   — Então é aqui que você se esconde! — consigo trazer a raiva quando volta a olhar para mim e sinto meu peito começar a subir — por todos esses anos — ainda está sorrindo quando joga o buquê para o sofá e se senta sobre a ponta dele passando sua mão pelo veludo. — Então você matou ele para ficar com tudo e conseguiu? — seu sorriso desdenhoso e cruel, abre de um lado só a modo que sua maçã do rosto dificulta em subir sua expressão pela cicatriz.
   — Então era você? — claro sua tola! Por que não juntou as peças antes? Quem saberia tanto para escrever esses bilhetes? — O que você quer?
   — O que eu quero? — se levanta e sorri, mas logo seu sorriso se vai enquanto se aproxima, avisto minha bolsa na mesa de canto perto do sofá e ando conforme ele se aproxima, para perto dela — quero o que sempre quis e nunca pude ter, quero me vingar desde sempre, por você ter feito isso comigo — aponta para seu olho cego, chego cada vez mais perto da mesa enquanto rodeamos o sofá que nos distância — quero me vingar de tudo o que fez — em um ápice avança para perto de mim e corro em direção para a bolsa, segura em minha cintura me jogando para o sofá e enquanto tento lutar contra seu corpo pesado, minha blusa se rasga e me prende sobre seu corpo. — Já que o defunto conseguiu se aproveitar desse corpinho, também quero — tento me desprender e meu braço pende para o lado, enquanto segura com força meus seios para ele, grito quando suas mãos entram por dentro do sutiã e aperta meus mamilos. Minhas mãos estão quase alcançando a bolsa, mas alcanço algo mais perto, um pequeno gato de plástico, desenho de Masherrier, gata falecida de Simas, acerto em sua cabeça, mas nada acontece, só fica desnorteado para que eu o empurre e chute seu joelho o ouvindo gritar, avanço na bolsa e logo sou empurrada, bato com tudo na mesa de centro sentindo minha barriga doer pressionada na ponta do acrílico, minha cabeça é empurrada contra a superfície dura e olho para a bolsa, meu braço tá preso em meu próprio peso, embaixo do meu joelho que está sendo pressionado pelo joelho dele.
  — Aaaaah! — grito tentando com todas as forças me levantar e recebo um soco nas costelas. Bate com minha cabeça sobre a mesa e fico atordoada, ouço o barulho do cinto da sua calça e minha mão direita que está sobre a mesa não alcança a bolsa, volto a mão para trás tentando tocar em algum ponto dele que o deixe fraco.
  — Vadia! — grito quando segura minhas duas mãos e puxa para trás, impulso com meus joelhos o meu corpo e ele desequilibra com minhas mãos, chuto meus calcanhares ao chão e jogo meu corpo para trás caindo sobre ele, seu gemido de dor quando bate as costas e o meu pelo meus braços, caio de lado e ele está sobre o sofá, rastejo para longe dele, Gargulho consegue me segurar a tempo de não ir muito longe, segurando em meus cabelos me fazendo gritar, bate com meu rosto ao chão e meu corpo é levantado. Vejo estrelas, tudo roda e quando meu corpo cai no macio suspiro, sinto seu corpo encima do meu enquanto toca minha pele, tento golpear ele de todas as maneiras possíveis, mas não sei se meu corpo obedece ou se é só minha mente querendo lutar, enquanto uma das minhas mãos se esticam para pegar a bolsa, seu peso sobre meu corpo não me deixa me arrastar até lá, então com o pouco que consigo esticar meu braço dou-lhe uma cotovelada e ao sair de cima de mim caio no chão próxima a alsa da bolsa, me arrasto para longe dele e segura minha perna, conforme me arrasto tira minha calça e sua mão fria se firma na minha canela me puxando para perto, com isso já tenho a bolsa em mãos e seguro no revolve apontando para ele que levanta seus braços em rendimento.
  — Sai da minha casa! — as lágrimas descem, foda-se, só não o quero aqui, ofegante sorri para mim.
   — Você não tem coragem bebê — suas mãos abaixam e desabotoa sua calça, destravo a arma e tira seu sorriso da cara — SAI DA MINHA CASA! — se levanta aos poucos enquanto aponto a arma para sua cabeça, meu dedo próximo ao gatilho, recua passos até a porta, ainda me olhando, sinto lágrimas nos meus olhos e abre a porta saindo. Crio forças para levantar e correr até lá tranco-a rapidamente caindo de joelhos em seguida afastando a arma de mim.

   Poucos minutos em frente a porta e logo me levanto a sala tá um caos, estou nua, minha pele arrepia e procuro Joseph, o gato assustado está embaixo da poltrona no canto da sala, a mesa de centro está arrastada para longe, a bolsa está perto dela no chão e o sofá está atravessado na sala. Sento enquanto as lágrimas descem, meus mamilos ainda doem e isso me trás as suas lembranças, os seus toques no meu corpo, a sua voz, ele, como me achou? Como sabe o meu endereço? Sentada observo o gato assustado, suspiro e levanto a poltrona, Joseph corre para as escadas, subo a abraçar meu corpo, a primeira coisa que vejo assim que chego no quarto é meu reflexo no espelho, tem sangue na boca, no nariz, pequenos hematomas já aparece e meus cabelos estão desgrenhados, meu corpo tem marcas das suas mãos e um arranhão abaixo da minha costela, está roxo também, minha barriga dói, então choro como uma criança me olhando e lembrando de tudo, até mesmo do meu passado.

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Dona O'Sullivan - Spin OffWhere stories live. Discover now