Felipe

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Capítulo 15

  Respiro fundo, estou sentada no túmulo dele, com mais rosas nas mãos, o coveiro já tirou as antigas, então reponho com essas mais bonitas e vivas. Que tempos tem sido esses, jogo meus cabelos para trás dos meus ombros, preciso realmente parar com tudo e ir para o meio do nada viver longe de toda essa loucura.
  — Já faz tanto tempo não é? — olho Felipe, quase a cópia do irmão, me lembra tanto que às vezes dói olha-lo. Olho o túmulo do seu irmão e me levanto, Felipe quase não visita seu irmão, alguma coisa ele quer e não é com o cemitério.
  — Alguma coisa aconteceu? — ele se senta no túmulo me olhando, suspira, passa a mão pelos cabelos e logo pela barba aparente.
   — Sim, soube do ocorrido com Georgina, como você está? — minhas mãos no bolso da calça sinto meus dedos gélidos.
   — Estou bem, o que aconteceu?
   — Precisamos negociar com os Baccievas — meu pescoço pende para trás, negociar com esse homem é uma tortura para meu psicológico, preferia voltar para o passado dez mil vezes com a louca da Georgina do que ir para tortura do Baccievas.

  Estou sentada no canto do quarto, na escuridão do cômodo e do coração, me lembro muito bem do som de tudo, dos tiros, do grito, da dor... sentada olhando o chão, a pouca luz que a lua emite dentro do quarto tão silencioso que a minha mente produz som. Estou sem acreditar até agora que o seu corpo foi levado, deve estar tão frio lá. O que aconteceu?
Descemos do carro, felizes a conversar sobre nossa viagem, sobre próximos passos e o que faríamos, e de repente sons altos são ouvidos, gritos na rua e me abaixo com as mãos no ouvido, meus olhos encontram Simas e lá está ele, para mim, acontece em câmera lenta, um tiro no ombro que o faz recuar, outro no peito que faz ele dar passos para trás, olhos assustados e semblante doloroso, o último tiro o faz cair literalmente e eu me levanto o olhando. Meus olhos desviam a atenção para olhar a mulher que guarda a arma e corre, aí meu mundo volta ao normal, caio de joelhos perto do corpo do homem e rapidamente pessoas ficam a nossa volta, uma mulher liga para ambulância enquanto coloco sua cabeça em cima da minha coxa, o abraço chorando, uma poça de sangue de estende aos nossos pés, os olhos desfalecidos olham para os céus. Uma dor aguda no peito me faz arquear as costas, o peso do seu corpo, o sangue nas minhas mãos, porquê ela fez isso?...

  Olhando o papel nas minhas mãos, não sei o que dizer, o sentimento perante essas pessoas que esperam alguma coisa da esposa de Simas, eu não sei se devo estar aqui. Ergo meus olhos para olha-los e no fundo perto de uma árvore há uma mulher de cardigan vinho, botas de inverno e um cigarro, Georgina é o nome dela, a Viúva que Simas tanto comentava, eu matei o seu marido, e agora ela está no enterro do meu.

  Olho para Felipe dirigindo, lembranças me assombram pela metade do caminho, negociar com Baccievas, é a mesma coisa que suicídio, uma coisa errada você morre, a todo momento armas estão apontadas para sua cabeça, a sala tão pequena e abafada te faz ter picos de claustrofobia. Respiro fundo o ar não poluído que ainda tenho tempo de pôr pra dentro. Felipe tem uma grande lista de música que toca na rádio, somos só nós dois a irmos para a toca da raposa, todos sabem que viemos, mas não podemos entrar com os nossos.
  — O que está em jogo? — Felipe tem o mesmo traço que seu irmão e a mania de serrar os dentes deixando o maxilar marcado.
  — Cassinos, drogas e... pessoas — a pausa na voz, Felipe sabe que odeio quando pessoas estão envolvidas, contrabando de coisas que tem coração e se mexem, não é o meu forte. Cassinos me interessa.
  — Mas porque ele quer nossa ajuda? — Felipe me olha por breves segundos antes de virar uma esquina.
  — Por que temos bons espaços que são nosso, você tem poder para construir e a única exportação de drogas segura é a de Simas. — Não sei nem por que perguntei, está na cara que Baccievas não coloca seus negócios na mão de alguém, a não ser que esse alguém tenha algo a oferecer. Como dizer não com armas apontadas para sua cabeça?

  Ao chegamos no ponto marcado por ele o carro estaciona. Dois homens parados perto de dois carros pretos se direcionam para nós, saímos devagar e ficamos lado a lado, uma venda é colocada em nossos olhos e um fone de ouvido alto nos nossos ouvidos, somos direcionados junto a eles, um ponto que Lorenzo Baccievas tem, é que ninguém sabe onde é seu cativeiro, nem como é sua casa, nem quantos poderes ele tem. Não dá para lutar e vencer do desconhecido. Por isso ele é um tremendo filho da puta, ou você faz ou você faz, poucos como Simas, conseguiram não fazer e sair ilesos.

   O meu corpo balança e toca no de Felipe, tento respirar regular, mesmo sabendo que esse  sempre foi o protocólo para ir, nunca fico calma com o percurso, a ideia de morrer por tão pouco me faz odiar esse tipo de plano. Neste momento sinto falta do velho gato, que saudade dele, decidido, vou viajar quando as obras começar.

Dona O'Sullivan - Spin OffOnde histórias criam vida. Descubra agora