Capítulo 25

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NATE

Fazia uma dúzia de meses que Nate tinha aquela rotina, desde que ganhara seu próprio estúdio no prédio da Pryor Records. Nate, como era conhecido. Se contasse ao Nathan, seu eu de dezesseis anos, que havia descido ali com todos aqueles sonhos escondidos no bolso, ele talvez não acreditasse. Era real, no entanto. Embora preferisse o verão ameno da cidade, o frio regional também não costumava incomodá-lo, então caminhar pela manhã para o trabalho, a qualquer época do ano, era o seu momento preferido de toda a semana.

Descia em uma estação do metrô na rua Davie, a mais próxima da extremidade da baía inglesa, e caminhava por alguns quilômetros até a padaria Breka, onde media seu humor para o café da manhã. Saía de lá com os quitutes de seu agrado e terminava de fazer o caminho até o escritório na rua da praia. Esperava as portas se abrirem para ele, cada dia com uma nova promessa de que tudo seria melhor, e adorava sorrir e cumprimentar cada nova ou antiga secretária de Christopher na recepção.

O que vinha mudando nas últimas semanas era que agora ele tinha dezenove anos, e o trajeto até ali não era metade tão longo quanto fora nos últimos meses. Desde que sua poupança havia engordado com a promessa mais do que cumprida de Christopher sobre ensiná-lo a fazer dinheiro, ele viera procurando um apartamento para se mudar assim que fosse maior de idade. Não estava tão preocupado com a faculdade agora que já tinha uma profissão, mas fazia cursos breves de especialização tanto em jornalismo quanto em marketing.

Não era o caso de Rafe, que tinha os pais ao seu lado para lhe pagar um curso completo de rádio e TV. Tampouco o de Lisa, que havia decidido se especializar em fotografia. Nate estava feliz por eles. Nunca teria imaginado que levaria os melhores amigos para trabalhar consigo e fazer aquele projeto dar certo nos últimos anos. Ainda menos que eles se envolveriam bem nas suas áreas preferidas; Rafe sendo seu produtor e editor de vídeos; Lisa transformando um blog em um site e cobrindo a maioria dos shows da cidade, com fotos que não decepcionavam as produtoras e gravadoras que lhes davam as credenciais.

No meio disso tudo, poderia ter sonhado ainda menos que Rafe e Lisa seriam seus colegas de apartamento. E que agora ele nem precisaria descer em metrô nenhum para chegar ao trabalho, já que o prédio novo ficava logo na metade do trajeto que antes costumava fazer a pé. Ainda assim, gostava da solidão inspiradora das manhãs. Então, até mesmo nas poucas vezes que os amigos poderiam acompanhá-lo para o trabalho, livres de seus estudos, como naquele dia, Nate dava um jeito de sempre sair mais cedo.

Acendeu as luzes da sala ampla, que pegava todo o último andar do prédio – uma cortesia agradável de Christopher após alguns meses de gravação em um andar baixo e muitos vídeos com acústica ruim, já que sempre havia toda outra equipe andando por cima de suas cabeças –, e foi dar uma olhada na vista da cidade. As janelas não apontavam para a praia, mas o prédio alto lhe dava visão das montanhas ao norte, no extremo oposto de Vancouver.

Nate achava mesmo aquela uma vida muito boa. Enquanto se dispusesse a trabalhar para que o negócio desse certo, não estava preocupado em ter uma formação tão sólida quanto a dos amigos – repetia para si mesmo frequentemente para se convencer disso. O que importava agora era que estava fora de casa com seu próprio dinheiro.

Não era como se houvesse passado os últimos anos em um intenso pé de guerra com a família para que estivesse tão satisfeito. Os pais haviam admitido que não podiam trancá-lo no quarto quando o motivo de ele sair era o que ele chamava de estágio. Nem podiam lhe confiscar coisa alguma que ele comprasse com seu salário. Mas Nate vinha se distanciando cada vez mais, a ponto de a casa ter se tornado apenas o lugar aonde ia para dormir. Ter seu canto agora parecia tornar sua vida, de que ele já tanto gostava, completa outra vez.

Tá brincandoWhere stories live. Discover now