Capítulo 13

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JONNY

Mantenha distância, João repetiu para si mesmo enquanto seguia Lisa pelo corredor do andar de cima. Já sabia que não era o preferido dela, mas não queria dar motivo algum para que houvesse uma interpretação errada naquela fuga. De braços cruzados, a garota parecia intimidada, então ele diminuiu a velocidade dos passos para dar ainda mais espaço para que se sentisse segura.

Ela abriu uma porta e deixou que passasse primeiro antes de explicar:

— É o quarto do Nate. Tem um banheiro no fundo.

Ele olhou para o corredor mais uma vez, certo de que haviam andado alguns passos para longe das escadas, mas quis se certificar de que não poderiam ser vistos ou ouvidos antes de responder:

— Ah, eu não preciso ir no banheiro de verdade. Só quero dar um tempo pro Paul.

A menina olhou para ele e para fora do quarto inúmeras vezes. Não tinha como saber se estava tentando digerir o que escutara ou se nem mesmo havia entendido. Por fim, o que pareceu uma eternidade depois, ela esboçou um sorriso fraco e fechou a porta. Com um cuidado que João entendia, mas era quase ofensivo para o tipo de cara que gostava de pensar que era, a garota foi se sentar na cadeira da escrivaninha.

Ele fez o caminho oposto, até encontrar um quadro magnético em uma das paredes. O que imaginou que seriam fotos dos amigos de Nate, aos poucos, começou a arrepiar seus braços. Eram muito mais familiares do que poderia ter imaginado. Lá estava cada pedaço de sua péssima adolescência, de cabeça raspada e toda uma dieta errada para a academia, que o fazia parecer um touro. Emília e Paulo estavam por toda a parte também, mas isso não causava menos estranheza.

— Uau — comentou apenas, aproximando a mão de uma foto que jamais se lembraria de ter tirado. Quando se virou para a garota, em busca de qualquer comentário que ela pudesse lhe oferecer sobre aquilo, viu apenas os olhos dela arregalados debaixo da maquiagem preta mais pesada do que costumava ver na irmã.

— Hum... — ela tentou começar, mas já não precisava. João riu pelo nariz e assentiu em silêncio. Era muito fácil de hackear o álbum de ex-alunos da escola. Ele mesmo já havia entrado na conta de outros da classe para procurar fotos que tinha certeza de que existiam, mas não estavam disponibilizadas para ele. No entanto, fazia anos que não olhava para uma delas. — Devia ser ele aqui mostrando essas coisas pra vocês.

— Ah, ele tá seguro com o Paul — comentou enquanto decidia dar as costas para o painel esquisito. Foi se sentar na cama, de onde olhou para Lisa. — Isso te incomoda?

Observou a garota checar diversas vezes a porta, depois se distrair com o copo de bebida na mão.

— Acho que não.

Aquilo era decididamente um sim, mas, da mesma maneira que nunca havia descoberto como oferecer conselhos para Emília, não tentou encontrar algo inteligente para dizer a ela.

— Bom, eu acho que vou mesmo no banheiro, porque eles logo vão estranhar. — Deixou o copo no chão e atravessou o quarto. Lidar com garotas era muito difícil. Apesar de gostar delas, costumava estar do outro lado da relação; ver a confusão por dentro era atordoante.

O cheiro de pizza alcançou seu nariz assim que acompanhou Lisa escadas abaixo. Paulo e Nate já não estavam no sofá. Andando de um lado para outro na cozinha, eles riam de um assunto que pareciam ter perdido por poucos segundos. Isso porque o dono da casa ainda estava curvado sobre a pia, batendo a mão fechada sobre ela, e Paulo estava inteiro vermelho enquanto segurava a barriga dolorida do riso e olhava para o garoto do outro lado do cômodo.

Com certeza não era o que João esperava quando os largara sozinhos, mas gostou mais dessa visão do que de qualquer outra que poderia ter tido. Quando os olhos se cruzaram com os do amigo, este apontou para o menino e comentou no meio de um riso impressionado:

Tá brincandoWhere stories live. Discover now