Capítulo 22

18 2 0
                                    

NATE

Nathan se sentia como um prisioneiro. Cada vez mais sozinho. Havia mentido para realizar aquele sonho em conjunto com Lisa, mas nunca tinha sido um filho ruim. Costumava se comportar na escola desde criança; não era o melhor aluno da classe, mas também nunca dera trabalho para os pais na hora de estudar e ficar dentro da média; cumprimentava os vizinhos e oferecia ajuda quando estava passando pela rua e via que alguém tinha o carro cheio de compras. Não era como se fosse parar em uma bocada no centro de Vancouver se permitissem que fosse ver Lisa naquelas férias, ou em algum fim de semana dos últimos oito meses.

Não havia amizade que sobrevivesse àquilo. Não quando ficavam sem contato por dois dias inteiros e, ao longo dos cinco seguintes, ele não tinha mais interesse em ouvir o que a amiga tinha a dizer. Tudo bem sobre sua família, tudo bem sobre ela de repente estar atraída pelo novo visual loiro de Emily e se sentir confusa sobre isso – já que também estava conversando com um garoto bonitinho que morava do outro lado do país –, mas não sobre como o site andava, não sobre as músicas novas que a Bee Are vinha compondo, ou sobre o anúncio do novo single para o fim do ano.

Não queria escutar sobre aquela banda, mas como não perder a garota de quem havia se aproximado por causa da Bee Are, para começo de conversa? Um mês sem notícias um do outro desde o fim do ano letivo já deveria ter sido o bastante para apagá-lo de vez da vida de Lisa. Talvez aquele garoto novo, cujo nome lhe escapava, já houvesse ocupado seu cargo no site, já estivesse fazendo suas vezes ao entrar em contato com a banda ao sul do continente, talvez até fosse muito melhor para Lisa do que Nathan jamais havia sido. E ele não podia competir com alguém tão perfeito enquanto estivesse trancado em casa.

Quando escutou o motor do carro da mãe, a última a sair naquela tarde, seu plano não era o de entrar naquela batalha da qual não teria como sair vencedor. Sentou-se na cama e escutou até o som do carro desaparecer. Encaixou os pés nos tênis e trancou a porta por dentro. O irmão estava de volta durante as férias, mas raramente o chamava para qualquer coisa. Se decidisse fazer isso agora, seria prova de que alguém lá em cima não ia com sua cara, mas Nathan precisava confiar que teria um pouco de boa sorte. Nunca tinha sido um filho ruim, mas também nunca se sentira um prisioneiro antes. Talvez agora devesse se tornar um.

Usar a árvore em frente à sua janela para pular para o gramado foi menos trabalhoso do que previra. Não tinha muito o que carregar nos bolsos, apenas o cartão do trem que o levaria para o centro e uma carteira com o documento e algumas moedas que haviam sobrado das economias do ano anterior – antes de perder o direito à mesada. O celular nunca lhe havia sido devolvido, o mp3 havia pifado por excesso de uso semanas antes – alguns botões pararam de funcionar, depois todos – e o discman era grande demais para aquela missão de sair e entrar sorrateiramente em casa.

Uma viagem de quase uma hora o separara de seu destino, mas ainda era cedo quando as portas automáticas do escritório da Pryor Records se abriram em sua frente. Nathan reparou que a secretária não era a mesma atrás do balcão. Apesar de isso lhe arrancar um suspiro longo, não se inibiu para andar até lá; só não levou consigo o sorriso de sempre na tentativa de soar simpático. Já não sabia quando havia sido a última vez que havia conseguido cumprimentar alguém desta forma. Sorrisos vinham sendo cada vez mais difíceis.

— Boa tarde. Por favor, eu gostaria de conversar com o Christopher. Meu nome é Nathan, ele me conhece — emendou de uma vez, sem a presença de espírito necessária para lidar com olhares de cima a baixo, desculpas estúpidas ou caretas desagradáveis.

— Nathan. — Ela baixou os olhos para a agenda, da qual virou uma página.

— Não, eu não tô agendado. Eu só preciso de quinze minutos, mas você pode dizer pra ele que é importante, por favor? Eu espero o quanto for — tentou assim, apesar de ser uma mentira. Com o caminho longo de retorno rumo à região sul, não teria muito mais de duas horas para sair dali se não quisesse ser descoberto. E, ah, isso era tudo que não queria.

Tá brincandoWhere stories live. Discover now