Capítulo 17

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NATE

— Dê-sencosta — uma ênfase muito bem articulada no início da ordem fez Matt patinar alguns centímetros para trás. Pendurado sobre a grade de segurança que circundava toda a pista, Nathan não se incomodou com a possibilidade de alguém da banda escutar.

Não que isso pudesse acontecer. Paul estava sentado no chão ainda a alguns passos de distância. Tentava equilibrar o copo de chocolate quente enquanto segurava a barriga para gargalhar, escandaloso. Já tinha as bochechas vermelhas e puxava forte o ar pela boca. Jonny, por sua vez, não parecia estar prestando atenção; ainda arregalava os olhos e não sabia bem se segurava a mão que Nathan oferecia para ele ou descobria como havia acabado olhando para o teto daquele jeito. Com Lisa vindo por suas costas para erguê-lo pelas axilas, ele aceitou a ajuda dos dois.

— Você tá bem? — perguntou quando ele se agarrou no corrimão que os separava; as pernas visivelmente bambas do susto.

Viu-o assentir em silêncio. A risada comprida de Paul adentrava seus ouvidos para dificultar o trabalho de se manter sério. Sentia um sorriso brincando pelos lábios, e agora era quem precisava equilibrar o cappuccino na mão livre para não fazer um estrago por ali.

— Não tem freios?

Uma troca de olhares com Lisa, e então já era tarde demais. A risada de Paul soava mais alta e desafinada, como se tivesse escutado a coisa mais burra de toda a vida, e enfim Nathan se rendeu ao deitar a testa na grade. Segurou a própria barriga enquanto negava com a cabeça, tentando reencontrar a voz para falar, mas Lisa foi mais rápida:

— Não, Jonny. Não tem freios. — Uma puxada forte de ar no meio do riso para continuar. — Vem, eu te ensino a parar.

Nathan ainda ergueu a cabeça a tempo de ver Jonny mostrando o dedo do meio para Paul antes de pegar um impulso muito mais cuidadoso do que o primeiro para voltar a patinar. Esperou o garoto enfim se erguer do chão e se aproximar. Aproveitou o instante para enxugar seus próprios olhos úmidos do riso divertido e apontou para a pista.

— Sabe que agora ele vai comer você vivo se cair, não sabe?

— Cair? Eu não entro aí nem que me paguem.

— Ah, entra, sim. — Nathan arregalou os olhos. Antes que o outro pudesse responder, agarrou-o pelo zíper do casaco para puxá-lo na direção da retirada dos patins, repetindo: — Entra, sim.

E estava esperando ter muito mais trabalho do que teve para convencê-lo. Quando olhou para trás, com Paul aceitando ser puxado, encontrou um sorriso amolecido e os olhos dele sobre os seus. Recebeu apenas o silêncio enquanto pagava por duas entradas, e depois ele se livrou dos tênis sem muita enrolação.

Jogaram os copos em um lixo no caminho para os bancos, onde teriam espaço para se calçar. Nathan puxou bem seus cadarços e deu uma volta com eles ao redor dos patins antes de finalizar com um laço e, por cima dele, um nó. Paul ainda estava amarrando o primeiro. Parecia nunca satisfeito com o aperto que conseguia fazer. E não deveria mesmo ficar.

Com um riso leve, Nathan desceu do banco e se ajoelhou na frente das pernas dele. Afastou suas mãos e apertou o primeiro. Escutou um gemido exagerado e olhou para cima. O garoto puxava o ar pela garganta, sufocado:

— É pra cortar mesmo a circulação?

Voltou rindo ao que fazia e agora era seguido por ele. Quando se colocou de pé, pensou que teria mais trabalho para segurar aquele tamanho todo que Paul tinha, mas ele se equilibrou bem o bastante, ao menos ali fora, para chegarem até o gelo. Um bambear de pernas aqui, uma segurada no corrimão dali, um impulso mais confiante, e ele não deslizava como Jonny, mas também não era o caso de precisar ensiná-lo.

Tá brincandoWhere stories live. Discover now