Capítulo 18

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CHRIS

Um baita de um covarde. Christopher sempre havia se achado um: porque não se sentia bom o bastante para alguém, porque quando se sentia não sabia como colocar em palavras, porque costumava pensar duas vezes e deixava logo de se sentir. Não era surpresa que houvesse sido William quem precisara se aproximar, tampouco o fato de ter fugido quando Emily tentara fazer o mesmo. Correra de braços para cima até chegar à segurança de seu apartamento vazio.

Eu não posso, não é certo, as palavras repetiam em sua cabeça ainda naquela tarde. Nunca tinha sido tão covarde ao enviar Joey para uma reunião que era sua com a banda. Mas, ainda assim, não podia apenas fingir que não a havia acompanhado na turnê, que não havia ido atrás dela no Brasil – a banda, mas um pouco de Emily também. Então havia varrido todo o constrangimento para baixo da cama e entrado em seu carro para ao menos dar um tchau.

Chegou ao aeroporto alguns minutos antes da van que havia pessoalmente contratado para buscá-los no hotel. Tinha tudo cronometrado no relógio quando viu os garotos aparecerem pela porta frontal. Os roadies os ajudavam pela última vez com a bagagem; descendo no Brasil, eles precisariam se virar do mesmo modo que haviam feito para chegar a Toronto no primeiro dia.

Emily entrou primeiro, empurrando um carrinho mais cheio do que ele gostaria que os meninos deixassem para ela. Não achava que ela não podia lidar com ele, só ficaria mais feliz se alguém se preocupasse um pouco. Sabia também que isso não aconteceria, fosse porque ela mandaria à merda o primeiro que tentasse ou porque o gêmeo sempre estaria por perto para desempenhar bem seu papel de ser um folgado. Quem era Christopher para se meter?

Acenou de longe e se sentiu ainda pior quando o sorriso que ela lhe entregou não foi nada diferente de todos os outros. Emily empurrou o carrinho até ele e o cumprimentou com a bochecha encostando na sua. Era um beijo comportado, que seguia todos os últimos tipos de contato que haviam tido, mesmo quando a levara para a maior parte dos passeios turísticos que havia programado para o meio da correria da turnê.

Jonny a acompanhou de perto. O sorriso dele era mais contido, mas não parecia julgá-lo de qualquer forma; quem estava fazendo isso era sua própria consciência. Se o irmão dela não desconfiava de nada, ele não tinha certeza. Se desconfiava, ao menos não queria arrancar sua cabeça. Christopher não tinha uma irmã, mas tinha a impressão de que iria querer arrancar a cabeça de qualquer um que se aproximasse dela caso tivesse. Devia ser por isso que não tinha.

E lá estava Paul, olhando para todos os lados até desistir de encontrar alguém que não parecia mesmo estar por lá. Christopher já estava arriscando que seria Nate quando precisou se afastar para que um grupo pequeno de fãs à espera deles pudesse tirar algumas fotos.

— Eu deixo vocês aqui — anunciou assim que eles conseguiram se desvencilhar dos últimos. — E Joey toca com vocês daqui pra frente. Foi bom ver vocês de novo.

Ganhou um último abraço de Emily, que empurrou com pressa o carrinho para o check-in. Depois foi a vez de Jonny, que tinha os olhos grudados nas costas da irmã e o deixou com um cumprimento leve de mão. Por último, veio Paul.

— Você não viu o Nate por aí, né?

Christopher conseguiu não sorrir de canto, bem na última hora. Usou a cabeça para negar. Achava mais fácil assim do que tentar esconder também qualquer tom esquisito que pudesse transparecer na voz.

— Você pode levar um recado se ele aparecer por lá? — Então um segundo à espera de que confirmasse, o que fez com um "claro" tão simples que não dava espaço para qualquer interpretação errada. — Diz pra ele que eu não sei o que ele acha que viu no banheiro, mas que nada aconteceu?

Christopher não costumava ser um cara curioso, do tipo que se importava com detalhes das histórias dos outros, mas, enquanto assentia com um esforço imenso para não arquear as sobrancelhas, abraçou Paul uma última vez e o deixou ir com alguns tapas nas costas e uma coceira diferente nas mãos: o que, raios, não tinha acontecido em que banheiro?

Esperou-os desaparecerem para dentro do portão de embarque. Então voltou para o carro. O sentimento de missão cumprida era tão forte quanto o que lhe dizia que iria começar tudo de novo. Todas aquelas noites em que não gostaria de voltar para o apartamento. Antes de Nate aparecer, depois entre a assinatura do contrato e o início da turnê.

A falta de Emily seria real como as lembranças de William por toda a parte. Mas como poderia colocar alguém no lugar dele, sendo que, quando esse alguém cruzasse a fronteira sem previsão de retorno, tinha certeza de que ainda seria ele quem estaria em todo lugar? Ele, não ela.

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