Capítulo 14

20 4 0
                                    

NATE

Era impossível dormir sabendo que Jonny Hesser e Paul Barone estavam no quarto ao fim do corredor. Pelas seis horas que o dia demorou para clarear, Nathan ficou se perguntando como Lisa conseguia. A resposta veio ainda cedo, quando se levantou com as roupas da noite anterior para dizer tchau aos meninos que tentavam não fazer barulho do lado de fora, e a amiga o acompanhou sem esforço. Então não era que ela estava adormecida, apenas não queria falar com ele durante a madrugada.

Sem qualquer comentário sobre isso, esfregou os olhos para se limpar como podia e abriu a porta para que ela saísse primeiro. Quando se encontraram, os quatro, em frente às escadas, não soube como conter o sorriso em retorno ao de Paul.

— Já parou de nevar — afirmou por não saber o que mais fazer, certo disso desde muito antes, enquanto via a noite ir embora pelas persianas abertas. Depois tomou a frente até o térreo. — A gente leva vocês pro ponto. Deve ter um ônibus em uns dez minutos.

— Não precisa, Nate. Agora a gente já sabe o caminho — Jonny dizia enquanto vinha logo atrás. Pegou sozinho o casaco do cabideiro e se vestiu ainda dentro de casa, logo antes de dar um bocejo longo, que cobriu com a mão.

— Ah, mas não custa nada — tentou ainda, mas não se atreveu a forçá-los a aceitar a companhia. Parou perto da saída e deixou o próprio casaco onde estava. Decidiu que não precisaria mesmo dele quando Paul chacoalhou a cabeça para concordar com o outro.

— Tá frio e é cedo. — Ele veio colocar as mãos em seus ombros. — Vocês deviam voltar para a cama.

Não foi Nathan quem decidiu que o abraçaria. Foi alguma coisa naquela noite mal dormida, em que a cabeça ainda vagava pelos minutos em que dividira sozinho o sofá com ele. O modo como ele falava baixo como se quisesse deixá-lo confortável – e deixava –, o jeito como o perturbava e gargalhava das coisas pequenas que fazia ou dizia para ele. Tão descomplicado e natural, ao contrário de como se sentia com Jonny ao tentar agradá-lo o tempo todo, sem nunca acreditar que conseguia.

Enlaçou os braços na cintura de Paul e ainda estava na metade do movimento quando os dele vieram estreitar seus ombros. Ainda estava pensando em soltá-lo para girar a aba do boné quando o sentiu fazer isso em seu lugar, livrando seu rosto para que deitasse melhor no peito dele. E sabia que precisava deixá-lo ir, que ele logo perderia o ônibus, mas aquela irritação na garganta não permitia. Não podia soltá-lo agora e deixar que ele visse como estava equilibrando as lágrimas.

A mão que veio esfregar o boné sobre sua cabeça com certeza não era de Paul.

— A gente volta, Nate — Jonny lembrou com o tom mais carinhoso que já o tinha escutado usar. Talvez tenha sido isso o que lhe deu coragem de esfregar os olhos na camiseta do amigo dele e se afastar enquanto assentia – não a lembrança do retorno, mas a de que tinha mais gente ali dependendo de sua boa vontade de desgrudar.

Recebeu um sorriso e um beijo sobre o boné quando finalmente olhou para Paul de novo. Então se arrastou até Jonny, assentiu outra vez para o que tinha escutado e ganhou um abraço apertado; ele o chacoalhou um pouco para confortá-lo, mas Nathan havia acabado de descobrir que nada que ele fizesse poderia. Os dois foram abraçar Lisa e, enquanto evitava olhar para eles, desapareceram pela porta.

Nathan passou um instante ali, com ela aberta, depois a fechou sem espiá-los lá fora. Lisa também estava estática em sua frente, e ele demorou para tomar coragem de erguer o rosto para a amiga. Era como se soubesse o que iria acontecer e não estava pronto para isso. Se começasse a chorar, passaria o dia todo curvado como uma bola ao redor de si mesmo; mas era inevitável.

Quando parou os olhos sobre os dela, teve a impressão de terem puxado juntos o ar que vinha faltando. E dele veio a primeira lufada de choro. Nathan tinha certeza de que os garotos já estavam longe o bastante quando se sentou ali mesmo, no chão, e cobriu o rosto com as mãos. Elas tremiam, fora de controle.

— Lisa, me desculpa — pediu antes mesmo de entender o motivo. Só sabia que precisava. Ainda não havia tido tempo de fazer a última noite ganhar sentido, mas, a cada passo que dava nessa direção, sabia que devia isso a ela. — Me desculpa!

Estava apaixonado por Paul. Pelo garoto da melhor amiga.

Quando ela desabou sentada ao seu lado, com os braços ao seu redor, soube que o choro da garota era completamente diferente do seu. Nunca a havia escutado chorar daquele jeito. Estava toda machucada, mas não jogava nele o ódio que ele achava merecer.

— Ele gosta de você, Nate — ela choramingou como se estivesse enterrando o restante da esperança que tinha de se tornar a senhora Barone, um dia. De repente, estava chacoalhando seus ombros e rindo no meio do choro. — De você!

— Claro que não, Lisa — resmungou em resposta, porque não tinha motivos para fazer aquilo com ela. Estar apaixonado por Paul já era ruim demais. Se ela já sabia que estava, porque o conhecia melhor do que ninguém, já tinham um problema interno grande o bastante para resolver. Não precisavam colocar invenções da cabeça de ninguém no meio da equação. — Eu juro que eu não queria.

— Não, Nate! — a menina chamou mais alto; aparentava estar brava, então o fez olhar direito para ela. — Escuta. — Chacoalhou seus ombros novamente. E ainda estava sorrindo com a boca, mesmo enquanto o olhar dedurava como estava despedaçada. — Ele gosta de você! Jonny me disse.

Nathan sentiu os lábios se contraírem involuntariamente enquanto as palavras dela se colocavam em ordem, mas não conseguiu formar outras para oferecer em retorno. Fechou com força os olhos e afundou o rosto entre os joelhos quando a falta de ar machucou os pulmões. Mas talvez não fossem eles que estivessem doendo; ou não sozinhos.

Nunca tinha sentido aquilo antes: algo que ardia do peito ao fim do abdômen. O choro de Lisa em sua nuca, enquanto ela abraçava seu corpo enrolado, fazia tudo latejar em dobro.

Se aquilo era estar apaixonado, ele odiava.

Tá brincandoWhere stories live. Discover now