Prólogo

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A todos que, como eu, às vezes só precisam de uma história despretensiosa para enfrentar os dias mais difíceis.


2004

JONNY

Eram quatro da manhã. Qualquer ruído mais alto acordaria os garotos que dormiam ali perto. Com o tamanho do apartamento que dividiam, nem o mais distante, que era Paulo no quartinho dos fundos, estaria protegido do barulho.

Um extremo cuidado na hora de desenrolar a fita adesiva de espessura larga. Centímetro por centímetro, desgrudava um pedaço satisfatório do rolo. O bastante para encapar com papel pardo a caixa de papelão.

— Você tá desperdiçando o nosso trabalho.

Com um salto, João virou na direção do corredor, onde a irmã o olhava de braços cruzados, apoiada no batente da porta. Em um movimento tranquilo, ela acendeu as luzes.

Ele apenas levou a mão ao peito para recuperar o fôlego. Voltou-se para a caixa e, flagrado, desenrolou sem medo o restante do pedaço que precisava para fechar um dos lados. Enquanto o cortava, a irmã foi unir as pontas do papel para ajudá-lo.

João ergueu os olhos, depois os direcionou novamente ao que fazia.

— Obrigado.

Não era pela cortesia com a embalagem, sabia que a garota estava avisada disso. Era pela permissão que ela acabava de lhe dar para que despachasse o pacote para fora do país; sobre o fato de que, se ela também estivesse a favor da ideia, Paulo seria minoria vencida.

Emília não chegou a responder até que tivessem virado o embrulho com vinte cópias do seu primeiro EP para finalizar a outra extremidade.

— Não quero que se iluda sobre isso dar certo. — Foi só o que ela disse.

— Vai dar certo, Emi. — Ele passou os dedos sobre a fita para colá-la melhor e deitou a caixa. Tomou a caneta na mão e bateu a ponta dela no nariz da irmã. Um risco preto de tinta permanente, difícil de sair. Assim como aquela ideia de sua cabeça. — Vai dar certo.

Nathan Leblanc, escreveu. Seu pequeno trevo de quatro folhas.

Tá brincandoOnde histórias criam vida. Descubra agora