Capítulo 15

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NATE

— O que é que ele tá fazendo aqui?

A visão de Matt próximo ao portão de desembarque foi o bastante para limpar o sorriso do rosto de Nathan. Algo que sobrara daquele fim de semana vinha fazendo com que isso acontecesse com facilidade, desde que Paul e Jonny saíram por sua porta na manhã anterior. Mesmo agora, quando sentia que poderia recuperar o ânimo, a aproximação do horário de pouso do voo que traria a Bee Are de volta apenas intensificava o mal-estar no peito. Ver aquele grupo asqueroso de meninos da escola por ali só piorava a sensação.

Por algumas horas, na tarde anterior, havia se sentado com Lisa na frente da televisão na casa vazia e tentado, em silêncio, entender o que estava sentindo. Não tinha sido difícil listar algumas possibilidades. Estava certo de ter se apaixonado pela primeira vez por um cara que iria embora em quarenta e oito horas; talvez nem mesmo o visse antes disso, e nada tinha acontecido entre os dois até então. Era luto, não era? Por um relacionamento que nem mesmo tivera tempo de existir.

Sentindo aquela vontade inexplicável de marchar para perto do antigo amigo e esfregar a cara dele no chão até ficar irreconhecível – coisa que costumava ser Lisa a dizer, enquanto Nathan sempre a censurava –, entendeu que seu problema estava muito além do luto. A verdade era que não queria ver Paul de novo. E se Lisa estivesse errada? E se Jonny tivesse se enganado? Por que, afinal, o vocalista de uma banda que reunia tantos fãs dentro de um aeroporto olharia para Nathan? Justo para ele, dentre todas aquelas pessoas, incluindo Matt e seus amigos bonitos?

Nathan precisava odiá-los, principalmente Matt. Era tudo sempre tão fácil para ele. Como acreditar que não era? Ele parecia pegar atalhos e cruzar seu caminho muitos metros à frente, enquanto Nathan precisava observá-lo ainda lá de trás, exausto pelo percurso. Matt decidia que não era mais seu amigo e, com o fim das férias, já tinha um grupo imenso ao seu redor para dividir o intervalo na escola. Ele apontava dedos em sua cara para sugerir que sua sexualidade era uma vergonha e, num estalar de dedos, decidia que essa era a sexualidade dele também; metade do grupo de garotos passava a usar calças apertadas da noite para o dia, junto com ele, e a outra metade só aceitava.

Que droga de problema tinha, que não conseguia ser ao menos um pouco como Matt? Por que tinha experimentado os jeans skinny de Lisa e se sentido vergonhosamente esquisito? Por que o spray de cabelo do irmão não caía tão bem no seu? Por que o All Star, no lugar do Adidas, lhe dava um ar de ter um enorme pé de palhaço? Por que esse sentimento não ia embora?

Parou longe da multidão, com a mão na barriga de Lisa para segurá-la consigo. Com os lábios crispados num sorriso que não conseguia fazer subir até os olhos, arriscou um pedido mudo para que ficassem afastados. Não achava que fazia sentido se enfiarem lá no meio de tanta gente com CDs e fotos para eles autografarem. O que poderiam fazer? Dar oi e dizer que não tinham levado nada além do presente que a amiga devia a Paul? Ficar rodando atrás deles enquanto eles falavam com os outros? E se eles os deixassem para trás ao entrarem na van? Se isso acontecesse, Matt estaria certo sobre se darem crédito demais? Era melhor mesmo ficarem por ali.

A gritaria veio antes da banda. Alguém provavelmente teria os visto despontar no portão de desembarque, e Nathan não precisou pousar os olhos neles para sentir o estômago dar um nó. Quem viu primeiro foi Emily, com a maquiagem carregada em preto dos olhos até a boca. Quando reconheceu Paul logo atrás, não teve coragem de encarar. Preferiu observar o que a garota fazia, de mochila nas costas, parando para todas as pessoas que se aproximavam para uma foto, autógrafos e muitos sorrisos. Não sabia se porque ela era a única que não lhe havia dado muita bola até então, ou se porque era igualmente adorável e foda, como diriam em sua língua materna, mas foi a responsável por esquentar seu peito naquela manhã confusa.

Tá brincandoWhere stories live. Discover now