Capítulo 2

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CHRIS

Quarenta minutos haviam se passado desde que o último funcionário deixara o prédio, quando Christopher entrou no carro com uma caixa de CD nas mãos. A empolgação de Nate não saía de sua cabeça. Os ombros encolhidos, o modo como gesticulava e arregalava os olhos azuis por baixo do boné enfiado quase até eles, a maneira como parecia acreditar que o que contava era uma das maiores atrocidades já ditas.

— Mas ninguém nem se importa em escutar a gente de verdade. E daí que eles não são dos Estados Unidos? Só porque eu sou canadense, eu não posso ouvir uma banda brasileira? — Até aquele ponto, Christopher havia apenas assentido, condescendente; talvez até tivesse batido de leve no ombro dele para dizer que entendia a injustiça, mas a resposta em sua cabeça era a de que canadenses podiam fazer o que quisessem, talvez apenas não tivessem vontade de ouvir uma banda brasileira. E ele não costumava ter a maior paciência do mundo para lidar com fãs, mas aquela noite era diferente. Qualquer coisa seria melhor do que ir para casa; além de que Nate era do tipo divertido, apesar de apaixonado demais. — Se isso fosse verdade — o garoto continuara —, o nosso site não seria o maior do mundo. A gente não teria trinta e seis mil acessos mensais e as pessoas não mandariam mensagens pedindo traduções dos vídeos deles.

Christopher havia assentido em silêncio por mais alguns segundos e deixado que ele terminasse o desabafo. Apenas quando os números tomaram forma, cessara os movimentos para retomar a conversa com um chacoalhar de cabeça diferente:

— Quanto você disse? Três mil e seiscentos?

Nate podia apenas ter feito uma confusão com a quantidade de zeros depois do número. Trinta e seis centos. Christopher nunca havia gostado muito da ideia de contar milhares por meio de centenas; achava uma maneira estúpida de dizer um número grande, mas era nessa direção que a preguiça das pessoas estava levando o mundo, então precisava ter certeza do que tinha escutado.

— Mil — Nate repetira com bastante ênfase. — Trinta e seis mil, tipo, três zeros.

Aquela também já era uma explicação exagerada. Christopher esticara a mão para o garoto ao parar no centro do hall de entrada, uma dica cuidadosa à secretária de que não havia ficado trancado com ele dentro da sala por todo aquele tempo. Poderia ter usado o elevador interno para levá-los de volta ao ponto de onde saíram para o pequeno tour, mas preferira pegar o principal e se despedir em um lugar público. Aceitara o chacoalhar de mãos como uma despedida, mas depois insistira com a palma virada para cima, completando com um riso baixo:

— O CD.

E Nate se enroscara todo para conseguir lhe entregar. Então era hora de recolher suas coisas e finalmente deixar a secretária ir embora. Colocou o EP para tocar no painel do carro e aumentou o volume. Quinze segundos da primeira música enquanto dirigia até o portão, quinze segundos da segunda enquanto esperava que ele abrisse, e então a terceira o fisgou enquanto fazia o pequeno trajeto até sua casa. Pulou a quarta, mas a quinta o acompanhou até a garagem.

Não era seu estilo preferido, mas podia escutar algumas daquelas sem ter o que gostava de chamar de uma tremenda diarreia. Raramente sua opinião pessoal o impedia de assinar uma banda, de qualquer forma, mas queria ter certeza de que valia dar uma olhada nas redes sociais daquela e checar a veracidade do que Nate havia dito sobre a procura por ela no Canadá. E o garoto estava certo: o inglês do vocalista não era sequer dos piores a ponto de impossibilitar uma identificação imediata com a letra.

Tirou o CD do painel e subiu com ele ainda em mãos. Jogou a pasta do escritório e o paletó no sofá, junto com a gravata que não precisaria usar sempre, mas gostava, ainda mais em dias como aquele, de reunião com a produtora e os patrocinadores de um dos maiores festivais do país. A Pryor Records não tinha ao menos uma banda confirmada no evento, mas ele não costumava negar encontros para conseguir contatos e manter a boa vizinhança quando alguém ligava para sugerir um almoço.

Tá brincandoWhere stories live. Discover now