Cap - 15

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Nanda

Já tinhas uns 15 dias desde que o Japa foi conhecer o inferno. O morro tava tranquilo, minha vó tinha voltado, descobri o motivo da tia Raissa ter sumido, ela e o Joca tinham brigado. Tenho tido dias agitados desde então, quando meu pai disse que eu teria responsabilidades não pensei que seriam tantas. Hoje é quinta feira dia de carregamento, os moleques foram buscar uma leva de farinha, amanhã é dia de baile e os playboys e as patricinhas do asfalto adoram subir pra curtir e comprar aqui o que eles não encontram em lugar nenhum do rio.

- Eai Cobra me leva lá no galpão ? Tenho que conferir umas coisas - falei saindo da sala do meu pai vendo o cobra largado no sofá.
- Acabei de parar, deixa eu pega um ar já te levo, ou se quiser a chave tá na moto. - falou virando a latinha de cerveja que estava na mão
- Jaé então, trago daqui uns 20min, vou só conferir já tô de volta. - peguei meu cano, coloquei no cós do shorts, meu celular e tava saindo da boca quando dei de cara com o G3.

Ele tava sentado no bar que tinha bem aqui na frente, junto com o batoré e meu pai. Tinha umas doida envolta deles e uma menina que nunca vi sentada no colo dele falando no seu ouvido e o lindao rindo que parecia que tava no dentista com aqueles dente tudo arreganhado.

- Tão aí desde mais cedo, a vida tá fácil pra eles - Joca falou olhando do outro lado da rua
- Nois se fodendo de ralar e eles aí enchendo o cu no meio do dia. - tava puta, não por estar trabalhando, eu gostava então não me importava, mais aquela mina no colo do G3 me ferveu o sangue- Preciso subir no galpão me leva ?
- Bora, tenho que dar um pulo em casa também , nois passa lá depois vai la em casa. - só concordei.

O Joca me deu o capacete e subi na moto, sabia que estava sendo observada então empinei a minha bunda lá na nuca e agarrei o Joca. Já que é pra ficar se esfregando eu também sei.

Chegamos no galpão eu conferi os lotes tudo nos conforme então descemos pra casa do Joca. Entramos e tudo parecia normal. Fazia dias que o Joca não dormia em casa, depois que minha vó voltou ele praticamente voltou a morar com a gente.

- não sei porque tu tem casa, mora mais na minha do que na própria- me joguei no sofá dele
- não dá pra ficar levando os gado lá pra casa com a vó lá né, pra isso tem o abatedouro - riu
- que nojo João Carlos, me poupe que eu não quero saber das suas intimidades- fiz cara de quem ia vomitar.
- tu não transa ? - neguei com a cabeça - teu pai é virgem também
- Tu é sem noção né menino - gargalhei
- Se tu não transa, não destranse os transastes

levantei e fui na cozinha beber água quando voltei Joca não tava na sala, deve ter ido lá em cima pegar algo, encostei no sofá e fechei os olhos por uns minutos, tava exausta. Quando abri os olhos, a casa já tava escura e eu estava deitada no sofá com um travesseiro e um edredom. Peguei meu celular, 21:47 da noite. Pqp eu dormi demais, Joca não me acordou, mais também não parece estar por aqui, disquei o número dele chamou três vezes e ele atendeu

Ligação ON

- Acordou ? - riu
- Tu me deixou dormir porque ? Tô cheia de trampo. - falei bolada
- Cê tá um caco menina, deixei tu dormindo mesmo, relaxa que eu já adiantei pra você, tô na barraquinha da Fabiane, quer um dogao ? - minha barriga roncou denunciando minha fome, não me lembro da última coisa que comi, tava muito corrido.
- Quero, quero um doce, trás um doce - pedi
- da uns 15 que já levo nosso rango.

Desligou.

Eu levantei, fui até o banheiro e lavei o rosto dei uma ajeitada no cabelo e voltei pro sofá, liguei a Tv e peguei meu celular, tinha uma mensagem da Júlia perguntando onde eu estava, uma ligação do meu pai e mensagens do G3

WhatsApp On

G3 🥰- Foi dar rolê com o Joca e não voltou
- tá onde Maria Fernanda ?
- Vai me deixar na voz ?
- isso memo.
Ligação perdida.
- Nanda, cadê tu, seriao to preocupado pô
Ligação perdida
Ligação perdida

Liguei de volta pra ele, chamou umas três vezes e ele atendeu.

- Ressuscitou Maria Fernanda ?
- Não tinha morrido, pelo menos não por inteiro
- Tá aonde ?
- Liguei pro meu pai por engano ? - Debochei
- Cheia de gracinha em, vou pergunta de novo não
- Nem precisa, não vou responder
- Tá escondendo porque ? Tá devendo?
- Pra você ? Não devo nada.
- Certo, ligou pra que então ?
- Tu disse que tava preocupado, só pra não morrer de preocupação por minha causa
- Tranquilo
Silêncio
- Ae Nanda vou fazer um corre aqui
- Bjs

Desliguei e logo em seguida o Joca entrou.
Colocou as coisas em cima da mesinha e se jogou no sofá.

- Tu dorme demais cara - falou abrindo as sacolas
- Tu não paga minhas contas João Carlos então menos - peguei meu lanche e dei uma mordidona - Tô com uma fome de 7 mendigo.

Abrimos o sofá retrátil e pegamos um edredom e travesseiros, colocamos um filme e ficamos lá assistindo, bom, eu estava assistindo o Joca não saia do celular. Nesse meio tempo acabei pegando no sono de novo. Acordei com um barulho vindo lá de cima. Olhei pro lado e o Joca já não estava, subi as escadas devagar com o cu na mão, cheguei na sala superior abri a cortina e o Joca tava sentado na varanda fumando. Me aproximei dele e vi seus olhos vermelhos, nao era a maconha ele tinha chorado. Fiquei quieta, só queria ficar ali fazendo companhia pra ele, nunca vi o Joca chorar e também estava com medo de perguntar o que tava rolando. Num impulso involuntário eu o abracei pelas costas passando meus braços pela sua cintura e repousei minha cabeça em suas costas. Ele se manteve imóvel. Ficamos assim uns 15min, até ele quebrar o silêncio.

- Não sei o que se passa na cabeça da Raissa. - ele disse com a voz embargada. - Porque ela quer viver dessa forma se ela pode ter tudo o que quiser, ser feliz, entende ? - eu apenas acenti com a cabeça. - Não faz o menor sentido pra mim Nanda, não faz - ele se virou de frente pra mim ainda sentado na grade da sacada, me deixando entre as suas pernas.
- Eu quero perguntar, mais se você não quiser falar não precisa- falei calma e ele só acentiu - O que tá rolando com a Tia Raissa e você ? - ele desviou o olhar pro lado e pensou um pouco antes de responder.
- Sua Tia trocou o filho por um cara do asfalto que espanca ela. - disse seco - Eu falo de buscar ela e trazer de volta mais ela não quer, parece que gosta da vida de merda que tem. Se esqueceu completamente do filho que colocou no mundo e talvez seja isso o melhor a se fazer também, esquecer quem me gerou. - seus olhos estavam lacrimejados e eu não pude deixar de ficar assim também, podia sentir a mágoa no tom de voz do Joca.

E novamente o abracei, dessa vez mais forte e ele retribuiu o abraço, apoiei o seu rosto no meu colo e fiquei mexendo em seu cabelo. Ver o Joca daquele jeito me partia o coração.

- Tu não tá sozinho e sabe disso, tem a vovó, meu pai.. Eu - ele continuou lá quietinho. - Se ela não se importa, não tem problema, tem mais gente por aqui que daria a vida por você. Me promete não ficar mais assim, não gosto de ver você assim João.. - ele me abraçou mais forte . - Amo você criatura, aqui tem amor de sobra, então para de mendigar o de quem não te merece.

Ficamos assim por um tempo, Joca se desencostou do meu peito mais continuou abraçado em mim, dessa vez me encarando. Limpei as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, ele se manteve me olhando até me puxar para um beijo. Um beijo lento, carinhoso, carente. Minhas mãos subiram para sua nuca e as dele desceram até a minha cintura me puxando mais pra ele. Ele desceu da grade da sacada ficando em pe como eu e colando cada vez mais nossos corpos, o beijo que era calmo ja tinha ganhado intensidade, uma de suas mãos estava na minha nunca e outra na minha bunda dando leves apertões.

A filha do chefe Where stories live. Discover now