Cap 30

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- tô subindo pra dormir, você vem ? - passei pela sala vendo o Joca esparramado no sofá
- Bora - levantou e veio subindo a escada atrás de mim. - Nossa. - falou baixinho
- Que foi ? - olhei pra ele
- Nada, pensei alto. - passou a mão no rosto - Boa noite, qualquer coisa tu grita, vou deixar a porta aqui aberta.
- Ok - concordei e entrei pro quarto.

Liguei o ar, fui até a janela pra fechar as cortinas e aí fiquei encarando o vidro quebrado.

A pessoa que entrou aqui entrou pela janela do meu quarto, mais com tantos cômodos pra revirar ela foi direto na cozinha?

Fechei a cortina e me deitei. Aquilo ficou matutando nos meus pensamentos até eu pegar no sono.

~ ~ ~ ~

- Vai Nanda se esconder - Joca virou de frente pra parede fechou os olhos e começou a contar.

Sai correndo até a cozinha, abri um dos armários de baixo da pia e entrei. Olhei bem no fundo do armário e tinha uma luzinha piscando.

~ ~ ~ ~

Acordei já me levantando, passei na porta do quarto do Joca e fui acordar ele.

- Levanda - balancei ele
- Porra que cê quer maluca me deixa dormi - puxou a coberta e cobriu a cara
- Desce comigo lá na cozinha preciso ver uma coisa - puxei ele de novo
- Porra Nanda não tem ninguém aqui cara, os moleque tão aí na frente, pode descer sozinha - tentou virar mais eu o puxei
- João, desce comigo. - falei baixo mais firme, ele bufou e saiu da cama.

Descemos então eu abri todas as portas dos armários, até acha o que eu tava procurando.

- Achei - me agachei e entrei dentro do armário.
- Tu é um anão mano, como que cabe aí ? Achou o que ? - tentava ver
- Porra tem senha - falei saindo de dentro do armário.
- O que tem ali ? - apontou
- Um cofre. Eu acho, mais tá com senha. - e do nada me veio à possibilidade de uma senha
- Tenta teu aniversário pô 16 de setembro- Joca falou
- Óbvio demais. Deixa eu tentar uma coisa. - me agachei novamente e digitei .

170902 a luz ficou verde e o sim da trava abrindo me fez sorrir.

Nascida no dia 16/09/2002 as 23:48 da noite. Segundo o que o médico que fez meu parto contou pra minha vó, fiquei cerca de 7 minutos no colo da minha mãe. Até ela entrar em choque hipovolêmico e eu ser levada dos braços dela.

Foram exatas 15 horas e 23 minutos de trabalho de parto. Pior, prematuro. Minha mãe estava de 34 semanas, a gravidez tinha sido bem conturbada, o que é normal quando se é a esposa de um dos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro. Minha mãe havia saído pra uma consulta, ver se estava tudo certo comigo. Meu pai e ela discutiram pouco antes dela sair de casa, Tia raissa não era muito fã do relacionamento dos dois e naquele dia tinha sido ela a culpada da discussão. Minha mãe chegou em casa e encontrou meu pai a tia raissa e mais duas amigas dela cheirando bem no meio da sala, elas estavam apenas de shorts e sutiã.
Minha vó acompanhou minha mãe na consulta naquela manhã, pelo que ela conta eu estava extremamente agitada. Minha vó recebeu uma ligação dizendo que elas não poderiam voltar pro morro, por que tava tendo Invasao. Minha mãe que já estava estressada pela briga de mais cedo ficou mais pela preocupação com meu pai, não bastasse tudo isso, saindo da clinica eu resolvi tumultuar um pouco mais o dia da minha mãe, e estourei a bolsa.
Ela não tinha dilatação, e se recusava a optar pela cesárea, queria que esperassem meu pai chegar. Ficamos nessa luta durante 15 horas até o médico dizer que eu já estava em sofrimento e podia não aguentar esperar mais um minuto que fosse.

HPP é o que consta no atestado de óbito. Hemorragia pós parto. Causada pelo tempo excessivo de trabalho de parto, levando a paciente a perder cerca de 1670ml de sangue, sendo assim entrando em choque hipovolêmico, consequentemente à falência múltipla dos órgãos. Hora do óbito 00:13 .

A filha do chefe Onde as histórias ganham vida. Descobre agora