XVII - Ímpeto.

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Nene corria pelas ruas repletas de poças d'água, por conta da chuva forte que caíra na noite anterior. As gotas de água respingaram violentamente em seus sapatos, molhando também suas pernas. Mas ela pouco se importava com o caminho encharcado, afinal. 

Parou no espaço entre duas casas para recuperar o fôlego, que sumiu após percorrer alguns quarteirões. Faltava pouco para chegar à rua do comércio, mas a queimação em suas panturrilhas revelava que não aguentariam se mover além dali.

Respirou fundo e se encostou na parede, colocando uma mão no peito. Fechou seus olhos e, ao abri-los e começar a caminhar, seu corpo se chocou com o de alguém. 

As mãos ágeis do rapaz, visivelmente forte, repousaram em sua cintura. 

— Hanako... — Ela sussurrou quando seus olhos se encontraram. Seus rostos estavam perigosamente próximos, do jeito que ele adorava que estivessem. 

Hanako nada disse. Apertou seu braço na cintura alheia e encostou suas testas. Estava sério. Não, não sério. Concentrado. Parecia concentrado nos delicados traços do rosto de sua sacerdotisa. 

Yashiro sorriu, sentindo seu estômago se encher de borboletas. Aqueles olhos dourados tinham sobre si um poder inimaginável.

— Kou tem… — Começou a formular a frase, sem pensar. Era difícil, pois ainda estava hipnotizada pelos olhos de Hanako. — U-uma emergência.

— Emergência?... — Ele sussurrou, cheirando os cabelos dela. — Se eu disser que já resolvi essa emergência, você acreditaria? 

— Sim! — Ela deu um salto ao sentir que os lábios dele tocaram seu pescoço. — H-hanako! O que está fazendo?! 

— Sabia que... — Hanako a ignorou, inalando o aroma de framboesa proveniente do hidratante que ela usava. Aquilo causava cócegas dentro de sua cabeça. Nene estava atiçando uma besta muito perigosa. — Eu amo você? 

O coração dela pareceu falhar e seu rosto atingiu o tão famigerado tom escarlate. 

Ele soltou uma risadinha ao observar aquela reação previsível, mostrando um par de presas afiadas, prontas para serem fincadas na pele fina do pescoço dela

“Quando um mau espírito a encurralar, lembre-se de que suas palavras têm poder. Ordene que ele se afaste imediatamente”, a voz de Tsuchigomori ressoou na mente dela no mesmo instante. 

— Afaste-se — Nene sussurrou, de olhos fechados, naquela fração de segundos comprometedora. Um feixe de luz surgiu entre eles, lançando-o longe. 

Um grunhido agonizante pôde ser ouvido por ela, seguido de uma gargalhada estridente e quase contagiante.

— Yashiro Nene…

Nene sentiu um arrepio, que lhe fez se enojar. Seu nome era como um brinquedo, manipulado com divertimento pela língua voluptuosa dele. A silhueta negra, desenhada no fim daquele beco escuro e úmido, sorriu para ela.

— É um prazer finalmente conhecê-la, bonequinha do Amane.

— Tsukasa — Ela continuou a sussurrar, ainda sem abrir os olhos. 

— Você quer salvá-lo, não é? Eu escutei essa piada um tempo atrás e estava ansioso para saber como seria o rosto da outra pessoa mais egocêntrica que já pisou nesta terra. 

— Egocêntrica? — Seu coração acelerou e sentiu uma imensa vontade de abrir seus olhos, mas não o fez. Não cederia àquelas provocações.

— Por que você faz isso, pequena Yashiro? — Ele se aproximava lentamente, utilizando de um tom provocativo em sua voz. — Ele não é como seu brinquedinho de Sereia, menina ingênua.

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficWhere stories live. Discover now