XXIII - Rio de bravura

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— Hanako! — Yashiro se aproximou dele o máximo que pôde, pois a raposa de Yako se recusava a chegar perto o suficiente para que ela pudesse iniciar um diálogo. — Hanako!

Hanako estava imerso nas memórias que tanto o machucavam e seus olhos foram obliterados pela escuridão que tomou conta de seu rosto. Ainda que fosse chamado, ele não responderia. Tsukasa havia posto o irmão para reviver a cena de sua morte inúmeras vezes, desligando-o do exterior.

Nene observou Teru lutando com Tsukasa não muito distante dali. Se ele pudesse apenas segurá-lo um pouco mais…

— Hanako! — Gritou mais uma vez, estendendo sua mão para alcançá-lo.

Nenhuma resposta.

— Eu comprei os ingredientes para a torta e aluguei o filme! — Tentou, enquanto seus olhos alternavam nervosamente entre Tsukasa, Teru e Hanako. A raposa parecia se afastar aos poucos. Nene o chamou inúmeras outras vezes, mas ele não respondeu.

Tsukasa virou seu olhar ao irmão e avistou Yashiro tentando se aproximar. Sorriu minimamente e abandonou Teru no meio da luta. O Minamoto tentou seguí-lo, mas diversas aparições bloquearam seu caminho.

— Yashiro! — Teru gritou, acertando as aparições que bloqueavam sua visão. — Yashiro!

Yashiro virou seu rosto e, no mesmo instante, a imagem de Tsukasa cobriu todo o seu campo de visão.

— Eu avisei que morreria! — Ele ergueu uma mão e a direcionou no peito de Yashiro, preparado para fincá-la entre as costelas da moça e arrancar-lhe o coração.

Todavia, seu braço foi cortado.

Hanako envolveu Yashiro com um de seus braços, aconchegando-a firmemente em seu peito; um ato puramente protetivo, irracional. Sua lâmina erguida brilhava na direção de Tsukasa, indicando o estado perturbado de seu espírito.

— Amane? — Tsukasa o observou, enquanto uma centena de aparições saía do orifício em seu braço cortado, juntamente de uma grande quantidade de miasma. — Você ainda está revivendo nossas memórias, não poderia estar consciente…

Yashiro tinha a respiração ofegante e seus batimentos extremamente descompassados. Seus braços agarravam fortemente o pescoço de Hanako. Pois, se ele a soltasse, ela cairia. E morreria.

Tsukasa observou o modo como Hanako envolvia Yashiro em seus braços: como se ela fosse sua vida, sua razão; sua própria existência.

E seu âmago ardeu em fúria, em ciúmes, inveja e em ódio.

— Que tipo de contrato você fez com ele, maldita verme?! — Tsukasa esbravejou. Quanto mais se enfurecia, mais demônios saíam de seu braço.

E Yashiro estava assustada.

Ela olhou no rosto de Hanako, procurou sinais em seus olhos: nada.

Ele parecia petrificado. Tudo o que ela via em suas orbes douradas era um vazio, um vazio infindável. A ausência de brilho, de luz e de vida.

Nene uniu suas sobrancelhas e uma lágrima escorreu em suas bochechas rosadas. Ela sentiu na pele as suas maiores dores, apalpou uma pequena porcentagem de seu sofrimento: sabia pelo que ele estava passando agora, sabia que memórias ele revivia. Ela também as viveu.

— Amane… — Sussurrou, encostando suas testas. Seu coração doía por ter conhecimento de tudo o que seu amado passou. Ele não merecia nada daquilo. E tudo o que ela podia lhe dar eram os seus mais profundos sentimentos embutidos em palavras, todos eles. — Me deixe te salvar.

Como resposta ao seu chamado clemente, Hanako apertou sua cintura.

E foi nesse momento que os olhos de Yashiro brilharam em esclarecimento.

Aquele homem à sua frente não era Hanako.

Era Yugi Amane.

Era uma vítima em sua própria história: uma vítima que se tornou o assassino. E não por querer. Nunca foi. Ele nunca quis aquela escuridão, sempre lutou contra ela.

Nene abriu seu maior sorriso por finalmente ter entendido.

— Eu amo você, Amane — Seus olhos avermelhados se fecharam, suas mãos pousaram na nuca alheia e seus lábios castos depositaram um beijo nos dele.

Puro e impuro colidiram, os corações se abriram. Houve um equilíbrio entre luz e escuridão, um anjo dançou com um demônio.

Onde houve receio, havia um rio de bravura.

Seus lábios rosados pressionavam delicadamente os pálidos dele.

Seu primeiro beijo.

Naquele momento, Yashiro conectou suas almas mais profundamente do que naquele contrato.

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora