VII - Vergonha.

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Kou abriu lentamente seus olhos, acostumando-se com o sol da manhã que emanava da varanda. Observou ao redor, demorando alguns segundos para perceber que estava no sofá de Nene.

Olhou com estranheza, lembrando-se de nuances da noite passada.

— Yashiro! — Levantou-se rapidamente, procurando a amiga por todos os lugares disponíveis no pequeno apartamento. Já estava quase girando a maçaneta do quarto, quando parou e pensou duas vezes. Lembrou-se das palavras de seu irmão mais velho:"O quarto é o maior refúgio de uma garota". 

Não queria invadir a privacidade alheia dessa forma. Aliás, de forma alguma!

Puxou os cabelos loiros, em um conflito interno entre confirmar se ela estava bem ou respeitar seu espaço.

Resolveu dar de ombros: Abriu decididamente a porta, com o rosto corado e os olhos fechados. 

— Yashiro! Me perdoa! Eu não queria invadir sua privacida… — Abriu seus olhos, vendo que Yashiro dormia calmamente em sua cama. 

E Hanako estava em cima dela, abraçando-a. 

Eles se entreolharam e Hanako sorriu, à medida em que Kou cerrou seus punhos. 

— Maldito… — Sussurrou entre seus dentes, aproximando-se cuidadosamente para não acordar Nene.

Hanako fechou seus olhos, encostando seu rosto no dela, fingindo também dormir. Kou olhava aquela cena com uma mistura de ira, nojo e indignação em seu peito. 

Pegou seu cajado, apontando-o novamente para ele. E Hanako sequer abriu seus olhos. 

— Saia de perto dela, ou eu vou explodir isso tudo — Apertou o cabo do objeto sagrado, vendo o olhar sínico de Hanako atingir-lhe como uma flecha no peito, até que ele mesmo percebesse o porquê: o cajado estava selado. 

— Você tem muito o que aprender, guri — Disse, antes de ouvir o surto histérico de Kou e de receber um soco da sua recém acordada sacerdotisa.

[...]

Kou olhou para a casa à sua frente, com desânimo tomando conta de sua face. O rosto de decepção de seu irmão mataria-o, literalmente.

Abriu a porta, entrando de cabeça baixa. Os anéis do cajado selado em suas costas anunciaram sua chegada, tilintando como sinos. Caminhou até o corredor, com os olhos vidrados em seus pés. Para ele, depois de tudo o que treinou, depois de tudo o que lutou, voltar de mãos vazias era uma desonra. 

— Que bom que voltaste — O homem loiro encostado na parede ao fim do corredor cruzou seus braços. 

— Teru, eu… — As lágrimas quentes escorreram por suas bochechas. Suas palavras saíram amargas, como veneno em sua garganta. — Eu falhei. 

Os olhos verdes de Teru reluziam intensamente no escuro do lugar, fazendo com que Kou se desesperasse internamente. Seu irmão era superior em todos os quesitos e ele estava totalmente em suas mãos. Para si mesmo, ele era um fracasso, uma perda de tempo. 

Teru respirou fundo, aproximando-se.

— A questão não se dá a mim ou tu — Tocou o ombro do irmão. — Além do prezar pelo vosso nome sagrado… — Sussurrou no ouvido dele. — Talvez ele não dure muito tempo naquele lugar, é fraco demais para proteger-se.  

Kou arregalou seus olhos, apertando com força o cabo do cajado de ouro. 

— Hanako é o espírito mais abundante deste lugar inteiro. Ele tem poder suficiente para abrir as portas do inferno, se assim desejar — Teru continuava falando, enquanto afastava-se dele para ir ao seu quarto. — A única chance que temos para salvar o teu amigo e sairmos da miséria é eliminando-o. 

— Teru! — Kou cerrou os punhos, sem impedir que suas lágrimas caíssem. — Você é forte demais! Por que não faz isso logo? — Gritou, fazendo com que ele encerrasse seus passos ao mesmo momento.

Teru observou o chão amadeirado por um curto período de tempo. Virou-se e voltou para onde estava Kou, com uma expressão calma em seu rosto.

— Criei-te quando vosso avô morreu, pois vejo em ti fé inabalável. Tu és capaz, Kou — Sorriu para ele, abraçando-o. — Eu não possuo tal força em mim. Fui rejeitado pelo cajado sagrado, não sou o escolhido.

— Hanako o selou… — Disse, voltando a sentir o gosto amargo da vergonha em suas palavras. Não conseguia medir a angústia que sentia naquele momento. Abraçou Teru apertado, chorando como uma criança em seu peito.

— Vamos resolver, não te preocupes — Afagou os cabelos de Kou, confortando-o.

Faria Hanako pagar por cada injustiça que cometeu. Por todo o sofrimento que ele trouxe para sua família e para as várias outras que também foram suas vítimas.

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficWhere stories live. Discover now