IX - Crise adolescente.

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Nene olhou-se no espelho, admirando com êxtase a imagem que via. Havia feito um bom trabalho consigo mesma.

O vestido longo que usava era branco, com delicadas flores rosadas bordadas em sua cintura. Decidiu experimentar seus cabelos completamente soltos, sem nenhuma fivela prendendo-os. Deu um pequeno giro, observando-os dançarem livremente no ar. 

Aquele visual fazia-na sentir-se leve, natural. Esse é o ideal para um luau, correto?

Colocou suas sandálias e enviou uma mensagem para Aoi, dizendo que já estava saindo.

Não era uma surpresa ela também ter sido convidada, Aoi era bonita e popular. E quando Yashiro descobriu que convidaram-na, fez questão de que fossem juntas. Assim, combinaram de encontrarem-se na pequena praça da cidade para irem caminhando até a praia juntas. Afinal, era o melhor atalho até lá. 

Fechou a porta de seu apartamento, observando a rua. Encostou os cotovelos no apoio da passagem até às escadas, respirando fundo.

— Essa é sua única chance, Yashiro Nene! Não desperdice-a! — Conversou consigo mesma, encorajando-se. — Você precisa de alguém! Precisa conquistar alguém!

Colocou decididamente a pequena pulseira de flores em seu braço, começando a caminhar para as escadas.

Passou pela porta de Kou e ficou parada por alguns segundos, observando-a. 

Ele havia perdido suas avaliações, nunca mais frequentou a faculdade e não esteve em seu apartamento. Havia sumido completamente.

Ela desceu as escadas, caminhando livremente pelas calçadas vazias. Estava tarde, bem tarde. As ruas estavam desertas e a brisa fria da noite soprava em sua pele, causando-lhe arrepios. 

— Devia ter trago um agasalho, que furada! — Nene encolheu os ombros e envolveu-se em um abraço individual.

Continuou caminhando sozinha pela calçada. Agradecia mentalmente pela cidade estar atualmente com os índices de criminalidade baixos e nenhum histórico de "Serial Killer" à solta por aí como antigamente. Caso contrário, talvez tivesse pensado duas vezes antes de cometer tal loucura.

Passou por um beco, olhando rapidamente para ele. Alguém estava encolhido ali, com o rosto coberto por um capuz.

Ela ouviu soluços alguns segundos depois. Aquela pessoa estava chorando? 

— Droga, Yashiro… — Sussurou a si mesma, sentindo que algum dia sua compaixão a mataria. 

Parou seus passos e voltou, olhando para a figura de moletom rosado. Aproximou-se ingenuamente, dizendo:

— Oi, você está bem? — Dava passos lentos, para tentar não assustá-lo. Era um rapaz, pelo porte físico magro e esguio. 

Ele ergueu o rosto, que estava coberto por lágrimas. 

— Você consegue me ver? — Perguntou, com seus olhos magenta suplicantes. 

E sem brilho.

— Sim? — Ela deu um risinho baixo, fazendo-o ficar confuso. — Você está com fome? Seus pais te expulsaram de casa? — Estendeu a mão, com um sorriso radiante e cheio de vida. — Eu posso te ajudar, se quiser. É meio ruim ficar na rua até essa hora, fica bem frio e…

Fora interrompida por uma risada alta.

— QUEM DIABOS VOCÊ É?! — Ele gritou, rindo histericamente. — UMA ASSEDIADORA?! ESTÁ ME CONVIDANDO PARA SUA CASA PARA DORMIR COM VOCÊ? SUA PEDÓFILA!

— O que você está…? — Ela disse, baixando seu tom de voz até parar e desistir de perguntar.

Nene respirou fundo, inflando suas bochechas. 

— Olha, você está fazendo muito escândalo! Só queria te ajudar porque fiquei preocupada com você. Mas agora eu vou embora — Girou os calcanhares, indo com passos pesados até a saída do beco escuro. — Espera! — Ele segurou o pequeno pulso dela com sua mão pálida. — Eu… Posso ir com você? 

Nene o olhou, confusa. Seu celular vibrou: várias mensagens de Aoi eram notificadas na tela. 

— Para a festa. Eles estão dando uma festa e você vai, né? — Ele a observou, com seu rosto corado levemente inclinado. — Eu sou o Mitsuba Sousuke. 

— Ah, certo — Ela assentiu e sorriu. Pelo menos não iria vagar sozinha no frio, no fim das contas. — Tudo bem, vou responder as mensagens da minha amiga e avisar que estou levando você, Mitsuba! — Ela pegou o celular, respondendo a caixa de mensagens. 

Eles começaram a caminhar juntos e jogar conversa fora. Ou melhor, Yashiro ouvir Mitsuba elogiar sua própria aparência. Mas, talvez não fosse apenas puro narcisismo. Após ele ter tirado o capuz, ela impressinou-se com seus sedosos cabelos rosados e seu rosto simetricamente perfeito e afilado.

Mitsuba era mais novo que Yashiro, o que causava nela uma imensa, e estranha, vontade de demonstrar maturidade na frente dele.

Mas, nesses poucos minutos, ele incomodava-a com o fato de gostar de apontar seus defeitos. E, claro, ela já sentia-se extremamente insegura com sua aparência. Não ajudava, ainda mais quando ele falava de seu cheiro. Ela jurava ter posto seu melhor perfume!

Chegaram na praça, mas Aoi não estava mais lá. Havia dito nas mensagens que Akane viera buscá-la, pois ficou preocupado. 

— Mitsuba — Nene o chamou. 

— Oi? — Ele respondeu, observando o céu enquanto andavam. 

— Por que perguntou se eu conseguia te ver? — Questionou-o, curiosa. 

— Por que todos estão me ignorando — Mitsuba respondeu curtamente, visivelmente desconfortável com a dúvida dela. 

Yashiro percebeu o modo menos amigável que ele demonstrou e resolveu não continuar o assunto. Talvez ele só estivesse passando por uma crise adolescente. 

Porém, Yashiro não sabia de um detalhe:

Que a "crise adolescente" de Mitsuba estenderia-se por toda a eternidade. 

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora