13- Paixões e descepções

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Não é nada fácil viajar com tão pouco espaço, ainda mais tendo seu corpo espremido e sacolejado por várias vezes.

Uma fresta no baú, me ajuda a respirar, mesmo assim, me sinto com um enorme mal estar por várias vezes, além da angústia que carrego no peito por estar deixando minha vida para trás.

Após algumas horas, paramos a viagem, acredito que chegamos à marina, noto por causa do cheiro de peixe e tabaco. Não consigo ouvir o que se passa ao lado de fora, são muitos sons ao mesmo tempo, mas acredito que estão fazendo o carregamento para o navio. Me ajeito um pouco mais, pelo menos consigo esticar as pernas, para acabar com o formigamento. Minhas costas também doem, mas sei que preciso me esforçar ao máximo, afinal suportei algumas horas, posso aguentar mais, quando tiver toda certeza de que já estamos em alto mar, e o compartimento de carga do navio estiver vazio, talvez eu saia. Provavelmente pelo excesso de calor e pouco oxigênio minha pressão cai e acabo cochilando, não sei ao certo por quanto tempo. Viro o pescoço que está muito dolorido pela posição, gemo e giro tentando amenizar o mal estar. Eu sabia que seria uma viagem difícil, e confesso que não sei por quanto tempo mais posso aguentar.

Olho pela fresta do baú que está tudo muito escuro, e quando sinto o balanço do navio sei que estamos sobre o mar. Várias sensações me invadem nesse momento, e uma delas sem dúvidas é o medo. Talvez um pouco de arrependimento também, pois sei que não há mais volta. Acabo percebendo quão louco é tudo isso que estou fazendo, acho que fui bastante corajosa até aqui, e não tenho mais como desistir. Respiro fundo ainda angustiada e temerosa. Penso em sair desta caixa e esticar as pernas, talvez não haja mais perigo em ser pega. Começo a empurrar com força a tampa e tento uma, duas, três... Várias vezes. Não consigo.

- Droga! Está trancado ou tem algo mais pesado por cima - falo bufando.

Tento novamente e empurro com toda força que posso, mas estou fraca, por isso a tampa nem se move. Fico um tanto apreensiva, pois não conseguirei ficar aqui por muito tempo, preciso de água e algum alimento. Respiro fundo e de repente ouço um barulho, acredito que a porta principal se abriu, me ajeito na caixa da forma mais confortável que consigo, me contento por não ter conseguido sair, ou teria sido pega. Me aproximo da fresta do baú e observo dois dos servos entrarem segurando uma tocha e iluminando o ambiente, parecem discutir sobre o jantar.

- O Capitão pediu para servirmos uma massa, pegue o trigo, e azeite.

Um deles é bem farto de corpo, ele pega algumas verduras e coloca em um cesto.

- Um bom refogado também serve de acompanhamento.

Então ouço mais vozes, mais dois homens, acho que se tratam de soldados, entraram anunciando que vieram buscar algumas bebidas.

- Estão aqui, as bebidas - alguém fala se aproximando.

Todos se concentram em suas tarefas, porém, de repente há um movimento brusco por cima de onde estou. A tampa se destranca. Meu corpo estremece, sinto muito medo, teriam me descoberto? Mas felizmente, logo ouço passos em direção a porta, os sons cessaram. Não fui pega desta vez, provavelmente apenas retiraram algo de cima do meu baú. O silêncio se instaura novamente e acho que todos saem e estou sozinha, acredito que por hoje não voltam mais.

Levo a mão na tampa e ela se abre com facilidade, respiro aliviada quando todo o oxigênio invade meus pulmões. Antes de sair, observo ao meu redor. Eu já imaginava que seria um ambiente frio e sem conforto, afinal se trata de um compartimento de cargas, sinto um vazio nesse lugar, tudo escuro e cheiro de madeira úmida, misturado a temperos e vinhos. De repente todas as emoções me invadem de uma só vez: medo, ansiedade, fome, tudo misturado ao balanço do mar e meu estômago se revira me causando náuseas. Retiro um pé e toco ao chão desejando sair desta caixa o mais rápido que conseguir, quando alcanço o chão com os dois pés, dou um salto e quase piso em algumas abóboras. A luz invade as escotilhas deixando uma leve claridade no ambiente me permitindo andar ali. A náusea aumenta a cada instante e decido usar o próprio baú para descarregar tudo o que sinto, então faço vômito bem ali dentro, um jato seguido de outros saem do meu estômago e passam pela boca.

Um Coração Valente (COMPLETO)🗡️🛡️❤️Where stories live. Discover now