O Passado

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Era possível ver todos os tipos de emoções passando pela expressão da mulher à minha frente, ao mesmo tempo que era notório o quanto ela lutava para bloquear cada uma delas. Me perguntei se era tão difícil assim deixar ir, se livrar das amarras, pelo menos uma vez, mas isso me fazia pensar em tudo que resignei e afastei por não conseguir lidar com meus próprios sentimentos. Quem era eu para julgar alguém aqui?

Parte de mim queria abraçá-la, dividir um pouco do peso que parecia estar em seus ombros nesse momento. No passado, Natasha teria feito isso por mim, de fato ela fez isso diversas vezes, era nada mais que justo eu tentar. Me coloquei de pé, tentando dar o próximo passo para me aproximar e oferecer o conforto que eu sabia que era necessário, mas travei no segundo seguinte.  Não éramos mais assim, a nossa conexão havia sido perdida há muito tempo. Não havia restado mais nada de nós.

3 ANOS ATRÁS

-Wanda, mesa 3, rápido! -meu chefe gritou por trás do balcão, me fazendo revirar os olhos.

Arrastei meus pés cansados até a mesa onde a nossa cliente mais fiel estava sentada de maneira despojada, mas ainda assim incrivelmente imponente. Seu sorriso era um pouco de lado, tinha certeza que ela podia ver meu revirar de olhos enquanto me aproximava e, por qualquer motivo que fosse, ela achava isso engraçado.

-Eu juro, não estou com pressa. Leve o tempo que for necessário -ela disse quando cheguei a uma distância consideravelmente pequena. Dando um sorriso ainda maior para mim. Deus, ela é tão linda!

Trabalhar aqui era difícil na maioria das vezes, pessoas bêbadas e sem educação era quase pré requisito para os frequentadores. Mas isso era tudo o que você consegue arranjar quando se é uma imigrante ilegal nos Estados Unidos.

No entanto, Natasha não era assim. Ela costumava vir aqui tantas vezes que já nos conhecíamos pelo primeiro nome, nos cumprimentávamos e, no fim de turno se ela ainda estivesse aqui, até me dava uma carona para o pequeno buraco sujo que eu chamo de apartamento, mesmo sendo em uma direção totalmente oposta de onde ela morava.

Algumas vezes me perguntava porque alguém como ela passava tanto tempo em um bar. Não era o pior bar da cidade, mas ainda assim era um bar. Era quase preocupante, mas a ruiva de sorriso encantador era o mais próximo do que eu tinha de uma amiga, então vê-la quase todos os dias ali era um pouco reconfortante pra mim.

-Eu já estava no caminho para vir atendê-la, mas aparentemente Zemo não consegue ver de cima do alto do seu idiotismo. -seu sorriso virou uma risadinha baixa, ela adorava quando eu reclamava do trabalho, era quase como nosso segredo. -O de sempre?

-Vou fugir das minhas raízes russas e trair minha querida vodca. -ela disse solenemente, quase como se fosse uma traição realmente. - Me traga um champanhe. O mais caro que nosso não tão querido Zemo tenha a oferecer.

Não questionei muito, não queria mais nenhum grito sobre eu demorar muito para realizar um pedido. Caminhei o mais rápido que conseguia sem realmente correr para preparar o balde, o gelo e colocar a garrafa. Escolhi a taça na parte mais empoeirada do armário, porque quase ninguém as usava, passei rápido pela cozinha e reuni em uma travessa tudo que consegui julgar como apetitoso entre os petiscos que haviam ali, afinal Natasha merecia um pouco de cortesia.

Poucos minutos depois já estava de volta, a bandeja pesando mais do que eu gostaria de admitir, mas era por uma boa causa, o esforço valeria a pena.

-Trouxe alguns petiscos da cozinha, o mais perto de comida real que pude encontrar. -falei enquanto distribuia tudo pela mesa pequena à minha frente. -Você deveria ter comido uma refeição completa, sabe? Antes de começar a beber.

Misery Loves CompanyDove le storie prendono vita. Scoprilo ora