Estou Aqui e Nunca Vou Embora

1.8K 243 93
                                    

NATASHA ROMANOFF

3 ANOS ATRÁS

O vento era mais frio que o normal naquele fim de tarde quando adentrei o já tão conhecido bar no centro de Nova Iorque. O ambiente era estranhamente cada vez mais reconfortante, talvez fosse por isso que eu preferia passar mais horas nesse recinto de qualidade duvidosa do que em minha própria casa.

Ou talvez uma certa garota de cabelos longos e castanhos tivesse uma grande contribuição para isso. Nunca se sabe.

Ela não me avistou de primeira e isso me aliviou. Meu humor estava uma droga, minha mente conflituosa, não havia sido um dia fácil. Esse não era o lado que eu gostava que Wanda visse, a versão de mim que ela trazia à tona, muito mais leve e menos atormentada pelas lembranças era tudo que eu queria que ela conhecesse.

O garçom aleatório que dividia o salão com Wanda me serviu com uma dose de vodca que foi colocada pra dentro quase que de imediato. Ainda que eu detestasse, álcool era o caminho mais fácil para acalmar o burburinho dentro de mim. Preocupante? Sim, mas momentaneamente irrelevante.

Wanda ainda corria de um lado para o outro, bandejas equilibradas precariamente em suas mãos enquanto ela se movimentava sem muita graça. Parecia agitada, sua expressão me dizia que a qualquer momento aquelas bandejas iriam para o alto e ela sairia correndo sem olhar pra trás. Bom, parece que não era um dia fácil pra ela também. Era nesses momentos que me sentia incapaz emocionalmente, nunca conseguiria ser o tipo de pessoa que consegue oferecer algum tipo de conforto ou algo minimamente parecido a alguém.

Foi exatamente por esse motivo que agradeci internamente o fato de estar sendo servida pelo garçom aleatório o qual eu não me preocupei em descobrir o nome todos esses meses. Observar Wanda de longe era mais fácil, desejar secretamente que tudo ficasse bem e que, seja lá qual fosse o problema que a atormentava, passasse logo era mais fácil. Ainda que as conversas rápidas e sem muito sentido que tínhamos fizessem falta.

Enquanto as horas passavam, eu torcia para que as pessoas fossem embora mais rápido, pra que minha garçonete favorita pudesse ir para casa mais cedo, deitar em sua cama e conseguir relaxar. Sei o quanto ela odeia esse lugar, esse trabalho e posso garantir que estar aqui era tudo que ela não queria nesse momento.

Levantei para ir até o banheiro, decidida a subornar qualquer cliente que ainda estivesse aqui quando eu voltasse, mas os pensamentos logo foram tirados de mim quando a voz abafada de Wanda soou do outro lado da porta. Eram frases ininteligíveis, mas o choro era facilmente reconhecido por mim.

-Wanda? -bati na porta levemente. -Sou eu...Natasha.

-Um minuto e eu saio. -sua voz soou um pouco mais clara e eu apenas esperei.

Quando a porta se abriu as lágrimas já não estavam mais lá, mas era visível que ela havia chorado. Congelei, não sabia o que dizer. Se ela estava chorando trancada em um banheiro, certamente não queria compartilhar com ninguém, então perguntar o que estava acontecendo era fora de cogitação. Ela abriu espaço pra que eu entrasse e me ofereceu um sorriso murcho e sem nenhum brilho. Eu odiava vê-la assim.

-Levarei você em casa. -foi a primeira frase que saiu de mim. -Quando seu turno acabar, é claro. Se você quiser...

-Você não tem que fazer isso, Natasha. -respondeu relutante, eu quase sorri. Ela era tão difícil.

-Levarei você em casa. -repeti. -Não estou aberta a discussões.

-Obrigada.

O diálogo terminou ali, simples, curto, direto. Wanda e eu poderíamos trocar um "bom dia" e ainda assim seria fácil e reconfortante. Eu gostava de como nos entendíamos. Enquanto usava o banheiro, milhões de possibilidades passavam pela minha cabeça. Ela estaria chorando por alguém? Um namorado? A sensação estranha de desconforto que me tomou quase que de imediato não passou despercebida por mim, mas enterrei tudo no fundo da mente. Talvez ela estivesse com saudade de casa, da sua vida antiga. É difícil saber.

Misery Loves CompanyWhere stories live. Discover now