Letargia

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WANDA MAXIMOFF

2 ANOS ATRÁS...

A primeira coisa que percebi depois que acordei no hospital é que a minha realidade parecia passar mais devagar que o normal. Os três dias que passei lá enquanto me recuperava foram intermináveis. Dormi e acordei com a esperança de que aquela sensação de vazio teria sumido ou, pelo menos, abrandado, mas tudo que encontrava quando abria meus olhos era o mais profundo nada.

Com a minha ida pra casa, me dei conta que a letargia continuaria, que o tempo permaneceria sendo um inimigo e essa nem era a pior parte.

Lidar com Natasha era.

Natasha era essa placa sinalizadora que me dizia constantemente que eu havia perdido. Era o meu lembrete diário de que eu não estava autorizada pela vida a ter algo puramente feliz, que nada viria para mim sem dor, sem luta. Obviamente uma parte da minha mente sabia que era quase pecaminoso colocar esse fardo sobre ela, mas essa parte não estava no controle agora.

A parte machucada e dolorida, a parte que sofria e buscava de forma desesperadora por um culpado, essa parte tinha tomado conta de mim e ela estava agora desprezando a mulher que tentava tão fortemente se manter próxima.

- Você vai ficar bem se eu for trabalhar hoje? -ela perguntou tentando encontrar diretamente meus olhos, mas os fechei.

Ouvi seu suspiro de decepção, dois meses haviam se passado e ela ainda parecia não ter perdido a esperança. Diariamente ela continuava tentando recuperar algo que, para mim, parecia completamente despedaçado agora. Esperei em silêncio, essa vinha sendo minha melhor arma para lidar com o dia a dia.

Meus problemas não eram de todo com ela, se eu parasse para analisar, em sua maior parte eram comigo. Havia esse pensamento distorcido de que todos ao meu redor continuavam sofrendo e morrendo, então talvez eu estivesse no lugar errado. Talvez eu devesse ter ido, para que a felicidade pudesse começar a estar por perto.

- Acho melhor eu ficar por aqui. -Natasha disse para o silêncio que tomava conta do quarto. - Vou pedir para Maria cuidar de tudo e talvez nós possamos fazer algo juntas?

Novamente não respondi. Eu não tinha nada agradável para dizer e, ainda que soubesse que meu silêncio a machucava, tinha certeza que o que sairia da minha boca doeria nela ainda mais. Meus olhos continuavam fechados, mas pude ouvir seus passos ao redor do quarto. Pouco tempo depois ela deitou ao meu lado, bem próxima à mim, pude sentir seu toque leve, quase imperceptível sobre meus cabelos, uma carícia tímida e aterrorizada.

Fiquei paralisada ali.

- Wanda... por favor. -eu não conseguia dizer pelo que ela estava suplicando, se por algo específico ou por qualquer coisa, por menor que fosse, ainda assim sentir sua presença ali era sufocante. Estar perto dela me causava isso ultimamente e eu não conseguia lutar contra a necessidade de me afastar. - Eu não sei mais o que fazer.

- Eu preciso de um banho. -coloquei as palavras para fora, numa tentativa rasa de justificar o motivo para eu estar pulando para fora da cama naquele momento. - Talvez seja melhor você ir trabalhar.

Não olhei para trás porque eu sabia o que encontraria, e por mais que Natasha me trouxesse sentimentos muito ruins nesse momento, eu ainda não conseguia vê-la sofrer sem sentir tudo em dobro.

Entrei no banheiro desejando fortemente não encontrá-la quando voltasse e me senti extremamente aliviada por não vê-la sobre a cama quando saí.

Foi mais um longo e doloroso dia. Caminhei pela mansão, numa tentativa idiota de fazer o tempo passar um pouco mais rápido, mas meu corpo fraco logo protestou. Eu não conseguia dizer quando tinha colocado uma refeição completa dentro do estômago e então logo depois eu estava de volta à cama. Encarando o teto, as paredes, qualquer coisa que pudesse distrair meus olhos de olhar para dentro de mim e ver o monstro que eu havia me tornado.

Misery Loves CompanyWhere stories live. Discover now