A Última Vez

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Wanda Maximoff

O cemitério não estava lotado, não tinham familiares chorando pelos cantos, era tudo calmo e o único barulho que podia ser ouvido eram das fracas gotas de chuva que caiam naquele momento.

Yelena estava mais próxima ao túmulo, os olhos vidrados na lápide à sua frente, Natasha observava tudo de longe.

-Está tudo bem se você for até lá. -soltei sua mão a encorajando. -Ninguém espera que alguém seja forte o tempo inteiro, é isso que a torna humana.

Ela me encarou, mesmo sem ouvir dela, eu poderia dizer que ela estava completamente perdida. Como se tivesse que encarar a realidade depois de muito tempo e isso a aterrorizava. Não conseguir ser uma pedra fria e inabalável estava matando-a aos poucos.

-Eu não consigo. Sinto muito.

E assim ela se foi, andando a passos largos em direção a mata que cercava o ambiente. Não a segui, Natasha precisava lidar com muitas coisas, mas principalmente, precisava lidar consigo mesma.

Yelena continuava na mesma posição, me aproximei devagar. Não nos conhecíamos, não tínhamos a mínima intimidade, mas eu era a pessoa com mais experiência nisso de morte. Tinha enterrado todos aqueles que um dia foram importantes na minha vida.

-Ela nunca foi a melhor mãe do mundo, mas foi a minha mãe. -o fungado que veio logo em seguida deixou claro que seu choro era silencioso.

-Você pode se ressentir por algumas decisões que ela tenha tomado e sentir a perda dela mesmo assim. O luto é um dos sentimentos mais poderosos que existe.

Era claro que eu sabia a história. A família Romanoff foi um ponto de conexão no passado, enquanto Natasha e eu dividíamos nossas histórias em viagens não tão longas de carro no fim de noite.

Melina Vostokoff Romanoff não tinha sido a mulher mais admirável desse mundo e, naquela época, enquanto Natasha compartilhava comigo todos os momentos de dificuldade que havia passado, não houve nenhuma admiração em mim criada por ela. Mas o que eu poderia dizer agora? Quando eu era um fantasma da mulher que fui um dia? Quando a vida tinha me batido tanto que minha alma vivia em um coma profundo.

-Você já se sentiu assim? Tão perdida que não consegue encontrar o caminho nem para amanhã? Tão sozinha que não consegue enxergar um propósito?

-Acredite em mim, eu sei como você se sente. -ela finalmente me encarou. Seus olhos buscando em mim a verdade de uma mulher quebrada. -Mas você não está sozinha.

-Natasha é...

-Sua irmã é uma boa pessoa, Yelena. -a interrompi. -Essa é uma das poucas certezas que pode ter na vida.

-Então porque ela está deixando você?

-Porque eu a deixei há muito tempo atrás.

~ * ~ ~ * ~

Retornamos para casa no fim da tarde. O silêncio imperando durante todo o tempo. Pude ouvir Natasha ao telefone com Steve vez ou outra combinando nosso voo de volta, mas nada além disso. Yelena estava trancada em algum dos cômodos, provavelmente tentando fugir da nova realidade.

-Wanda, você tem um minuto?

Natasha parou na porta, seus olhos deixando claro que ela finalmente tinha deixado todas as lágrimas saírem. Seu corpo dava sinais de cansaço mesmo de longe, seus ombros estavam curvados para frente como se ela tentasse se proteger do mundo.

Minha falta de resposta verbal deu a ela o sinal necessário para que ela entrasse e sentasse ao meu lado na cama. Parecia tão estranho agora, mesmo que nossos momentos lado a lado tenham sido estranhos por um bom tempo antes disso.

Misery Loves CompanyDove le storie prendono vita. Scoprilo ora