capítulo cinquenta e quatro: ele me faz mal

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ᴅɪᴀs ᴅᴇᴘᴏɪs

y͟͟͟͞͞͞a͟͟͟͞͞͞s͟͟͟͞͞͞m͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞n͟͟͟͞͞͞

— Lari, sabe o que eu...

  Paralisei no momento em que eu vi meu pai sentado no meu sofá com a cara mais deslavada do mundo.

— Mas que...

— Yasmin. — Ele levantou quando me notou.

  Olhei sem entender pra Larissa que tava meio desconcertada. Pelo visto ela não tava gostando dele ali também.

— Larissa o que ele tá fazendo aqui?

— Ele tava na porta e exigiu falar com você. — Larissa me respondeu um pouco nervosa.

— E ele ia fazer o que se você não deixasse entrar? Te bater? — Cruzei os braços olhando com indiferença pro Daniel.

— Não, amor. Ele...

— Disse que iria pegar sua tutela pra mim. — Daniel falou me deixando tensa.

— Qualquer júri em estado são, riria da sua cara. Já tenho dezoito. Não passo necessidade. — Dei de ombros.

— Se é o que você acha... Mas então, posso falar?

— Não.

  Dei meia volta voltando a subir as escadas. Me dava tanto nojo ter um pai que consegue olhar nos meus olhos e ameaçar de pegar minha tutela, tirar a minha liberdade e agir como se fosse a coisa mais normal do mundo. Se ao menos fosse por preocupação... Mas é uma questão de medir quem tem mais poder. E isso vindo de qualquer pai é bem nojento.

— Amor!? Escuta o que ele tem pra dizer. — Larissa disse me deixando surpresa.

  Olhei por cima dos ombros e vi ela silabar "por favor". E se fosse outra pessoa agindo assim, não ligaria. Mas era a Larissa, uma das pessoas mais compreensivas que eu já vi, e também advogada.

Suspirei fundo mordendo a boca pra reprimir o ódio que o meu corpo exalava no momento.

Desci as escadas de novo e encostei na parede não conseguindo encarar o Daniel.

— Vou subir. Qualquer coisa me chama! — Larissa passou por mim dizendo antes de me dar um beijo na bochecha.

— Não quer senta...

— Não. — Interrompi ele antes de completar a frase.

Ouvi ele suspirar e sentar numa poltrona de frente pra mim. Se aproximasse mais eu vomitaria.

— Bem. Me separei da Carolina, e eu vou deixar ela lá em casa até conseguir se estabilizar. Nesse tempo irei passar aqui em São Paulo, durante minha estadia aqui gostaria de ter uma convivência tranquila com você.

Tava demorando pra voltar com esse papo.

— Vai ser tranquila se você parar de vir me perturbar. Já disse que não quero mais contato com você. — Encarei ele com raiva.

— Já não fiz o que você tanto queria? Me separei e estou aqui tentando fazer a gente se entender.

Um riso irônico brotou no canto da minha boca.

— Eu queria porque eu achava que ela estava te manipulando. Mas agora eu acho que o mal da relação era você.

Senti meus olhos arderem, mas segurei o máximo. Eu não iria chorar nem fodendo.

— Olha só. Vamos fazer o seguinte. Pode me pedir qualquer coisa, qualquer coisa e eu vou te dar como símbolo de paz.

Eu tava ouvindo aquilo realmente? Será que ele escuta o que sai da porra da boca dele?

— Eu não quero, caralho. A única coisa que eu pedi foi para ser meu pai. Mas agora eu não quero, não preciso de você!

Continuei segurando o choro, mesmo estando cada vez mais difícil.

— Pensa. Sempre tem alguma coisa que precisa.

Incrível, ele ignorou o que eu disse.

— Acabou?

— Sim.

Dei as costas indo subir as escadas.

— TÔ NA ANTIGA CASA. — Ele gritou da sala.

Entrei pra dentro do quarto da Larissa e da minha mãe e quando vi a minha madrasta não resisti mais e comecei chorar.

Caminhei na direção da cama dela igual uma criança chorona.

— Oh meu amor, me desculpa ter deixado você passar por isso de novo.

Lari me abraçou forte e eu me senti confortável pra desabar ainda mais.

— Ele não da a mínima pro que eu sinto. Pro quanto ele me faz mal. — Minha voz saiu embargada.

— Sinto muito por você precisar passar por isso, amor. Mas saiba que o afeto que ele não te da, eu e sua mãe compensamos!

[...]

ligação de vídeo from Diogo

— Pode vir pra cá hoje?

Diogo bocejou.

— Acabei de entrar no metrô, neguinha. Provavelmente eu vou sair tarde do curso. — Ele desviou os olhos da tela pra algum outro lugar.

— Pode vir, não tem problema. — Sorri sentindo meu olhos marejarem.

— Você tá chorando? — Ele perguntou se aproximando da câmera.

Neguei.

— Você acabou de bocejar, me deu vontade também. — Menti.

— Ata. Mas amor, eu vou mesmo. Preciso desabafar com você.

— Eu também.

— Agora eu preciso ir. Te amo muito!

— Te amo demais, pretinho.

Ele fez biquinho antes de desligar a chamada.

Voltei a me encolher na minha cama e senti meus olhos arderem de novo. A angústia tava gritando no meu peito desde mais cedo e eu me sentia um lixo. Mas saber que eu veria ele logo-logo me deixava melhor.

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