capítulo cinquenta e seis: combinado

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ᴅɪᴀs ᴅᴇᴘᴏɪs

y͟͟͟͞͞͞a͟͟͟͞͞͞s͟͟͟͞͞͞m͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞n͟͟͟͞͞͞

Depois de noites de choro, algumas crises de asma eu estava aqui. De frente pra casa que o Daniel fica quando vem pra São Paulo.

Eu já queria chorar mesmo não tendo entrado. Mas me esforcei e toquei a campainha.

Esperei uns dois minutos e mal acreditei de ver ele vestido com um avental de cozinha e com a cara cheia de farinha.

— Yasmin? — Ele tava surpreso. E na real? Eu também tava.

— Posso falar com você?

Ele abriu a porta e mostrou um sorriso enorme.

— Entra, fica a vontade.

Entrei engolindo em seco.

— Pode sentar, já venho!

Sentei no sofá preto dele e acompanhei com os olhos ele subindo as escadas com certa pressa.

Minha cabeça começou trabalhar contra mim e por alguns segundos eu pensei em caminhar pra porta de volta e não dar ouvidos pra minha ideia.

Mas isso não era mais sobre mim. Então eu fiquei, mesmo sentindo cada parte do meu corpo trêmula.

— Pronto! — Ele desceu sem o avental e sem a farinha no rosto. Era o velho Daniel.

— Vou ser breve. Aceito voltar a ter contato com você, desde que arranje alguma vaga de emprego.

Várias expressões passaram pelo rosto dele, a surpresa esteve presente em todas.

— Você? Trabalhando?

Neguei.

— Não. Não é pra mim. É pro meu namorado. — Apertei a unha na palma da mão sentindo um nervosismo subir pelo meu estômago e contagiar tudo.

Daniel me fazia ter crises de ansiedade só por estar perto dele.

— Tava demorando, né...

— Olha só, ele não me pediu nada. Ele não tem nem ideia que eu estou aqui. — Interrompi ele antes de começar as ofensas. — Mas essa é a minha exigência pra voltar a ter contato com você. Da um emprego bom pra ele e eu paro de te tratar assim.

Ele sentou no sofá pensativo. Isso me deu insegurança. Se ele não aceitasse eu não tinha mais ideias para ajudar o Diogo.

Na noite que ele disse estar numa situação ainda mais difícil eu só pensei no quanto seria bom milagrosamente surgir algum emprego que pague bem e de tudo que ele precisa. E dias depois pensando nisso eu só achei essa solução.

Abaixar a guarda e me reaproximar do Daniel pra que ele arrume algum emprego pro Diogo.

— Tá, aceito!

Suspirei aliviada.

— Ele vai receber bem, vai ter todos os direitos? — Perguntei lembrando que ali ainda era o Daniel, então eu tinha que ter um pé atrás.

— Tem um amigo meu, ele é dono de uma empresa de marketing e essas coisas. Ele precisa de algumas pessoas pra trabalhar na filial aqui de São Paulo. Posso falar com ele. Mas não sei se seu namorado sabe fazer algo além de virar hambúrguer na chapa. — Daniel gargalhou como se fosse a coisa mais engraçada já dita.

— O Diogo tem curso técnico em administração e tá terminando agora um de informática.

Tentei não expressar o ódio que eu senti dele falar aquilo do Diogo. Parece que o Daniel se esquece do passado que teve. Ele não teve berço de ouro, precisou vender muito produto de limpeza com a mãe dele na rua. Só que infelizmente o dinheiro cegou os dois.

Daniel entrou pra uma empresa de telemarketing em dois mil e quatro, e na época não era tão comum. Com os celulares chegando a empresa foi crescendo até virar uma multinacional e ele ser um dos chefões.

— Pode servir pra alguma coisa. — Ele deu ombros, mais uma vez menosprezando ele. — E depois que ele conseguir, quero ter um encontro com esse rapaz.

— Tá maluco? O combinado era a gente voltar a se falar!

Nem fodendo eu deixaria ele conversar com o Diogo.

— Eu voltar a ter contato com a sua vida! Esse é o combinado. E se ele é seu namorado, tenho o direito de conhecer!

Passei a mão no rosto me vendo mais uma vez sem saída.

— Tá. Mas eu juro que se você falar alguma coisa sobre isso...

— Relaxa. Não tenho o mínimo prazer de estar ajudando ele.

Um dia eu vou contar, mas não agora. Sei que se o Diogo soubesse ao que eu tô me submetendo não aceitaria de jeito nenhum esse emprego. Por enquanto é melhor deixar assim.

— Ótimo. Agora eu vou pra casa, preciso estudar. — Levantei do sofá querendo meter o pé dali o mais rápido.

— Sábado a gente vai ao shopping. Te pego às meio dia!

Mordi a boca reprimindo o ódio por não poder falar um "não".

Inferno!

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já avisei que vai dar merda issu

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