capítulo sessenta e dois: proletariada

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y͟͟͟͞͞͞a͟͟͟͞͞͞s͟͟͟͞͞͞m͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞n͟͟͟͞͞͞

— Bom dia, seu Valmir!? — Falei sentando no banquinho e chamando a atenção do senhor que fazia mil coisas ao mesmo tempo, mesmo a lanchonete não tendo tantos clientes.

Aqui sem o Diogo ficou uma bagunça.

— Bom dia, menina! Já falo com você. Preciso entregar o pedido ali. — Ele voltou fazer os sanduíches.

Suspirei batucando com as unhas a madeira do balcão o som baixo do meu fone.

Eu estava um pouco cansada esses dias, e tenho total consciência que não tem nada a ver com o meu físico. Era mental. Mentir pro homem mais sincero que eu conheço, tentar não desapontar minhas mães e também lidar com a pressão da presença do Daniel na minha vida. Tudo isso tava acabando comigo. Minha vida era tão mais tranquila quando eu era uma rebelde declara, juro!

Seu Valmir voltou pra minha frente e suspirou cansado.

— Oi, filha. Desculpa não te dar atenção quando você chegou. — Ele foi pra pia cheia de louça.

— Oh seu Valmir, vim aqui pra desabafar mas eu tô vendo a correria do senhor... Quer ajuda não?

Ele riu me olhando por alguns segundos.

— Pode dizer, menina. Tô aqui lavando mas tô ouvindo! E não precisa de ajuda não. Só tô desacostumado!

— Não é nada demais, seu Valmir. — Menti de novo. Caralho de mentirosa, hein Yasmin!?

— Fala, agora eu do curioso. — Ele me olhou sério. — Brigou com o Diogo?

Neguei.

— Muito o contrário disso. Estamos ótimos. Eu só tô com medo de decepcionar minhas mães.

— Como assim, filha? — Ele começou secar agora as louças, e apesar disso mantinha muita atenção em mim.

— Lembra quando eu disse pro senhor que o Diogo foi pedir minha mão em noivado lá em casa? — Ele assentiu. — E minha mãe falou que só aceitaria se eu começasse tomar um rumo? — Ele concordou de novo, mas dessa vez ficou pensativo. — Seu Valmir? Eu procuro emprego todo santo dia, fiz dezenas de entrevistas, mas não consegui nada.

Seu Valmir terminou de colocar as louças no escorredor pra me olhar com cuidado. Ele secava a mão com o pano de prato enquanto mantinha um silêncio pensativo.

— Filha, quer um conselho sincero?

Assenti.

— Você e o Diogo já deram um passo muito rápido. Mas sobre noivar eu entendo, até fico muito feliz. Mas te ver se cobrando algo que precisa ter calma não é normal. — Ele se apoiou no balcão. — Você se esquece que tem apenas dezoito anos? Não precisa se tornar da noite pro dia uma adulta com carteira assinada e casa própria. — Riu. — Tenha calma.

— Seu Valmir, eu tô ligada que preciso ter calma. Mas eu me sinto tô uma inútil encostada. — Desabafei. — Minhas mães me bancam em casa, o Diogo me banca sempre mesmo não tendo condição. Até o merda do meu pai me banca. E eu preciso ter essa liberdade pra mim, sabe?

Ele concordou pensativo.

— Te entendo nessa parte, é horrível a sensação de sempre estar dependente a alguém. — Seu Valmir me olhou curioso. — Yasmin, qual tipo de emprego você procura?

Apesar de mandar currículo para empresas, e ter vontade de trabalhar em uma, também distribuía pelas lojas dos shopping. Eu só precisava de um emprego pra me dar um pouco de liberdade.

— Qualquer coisa que vir eu tô aceitando, seu Valmir.

— Hum. Eu tô precisando de alguém pra cuidar das coisas aqui... Você sabe, né!? — Ele olhou em volta a cozinha toda bagunçada.

Na mesma hora eu me empolguei em pensar na possibilidade de trabalhar ali.

— Tá fazendo uma proposta pra mim, seu Valmir? — Perguntei só pra ter confirmação.

Ele assentiu rindo.

— Topa?

Levantei do banquinho e dei a volta no balcão pra abraçar o segundo homem mais legal da minha vida.

— Obrigada, seu Valmir. O senhor sempre sendo um anjo da minha vida. — Ele riu no abraço. — Prometo não decepcionar!

— Eu sei que você vai se sair bem, menina. Agora me responde algo? — Assenti.

— Respondo o que o senhor quiser!

— Quer começar hoje? — Ele me olhou com um riso brincalhão.

— Onde eu pego o avental?

[...]

ligação de áudio with Diogo.

— Amor, tô te falando. Ele propôs hoje pra mim. — Sorri orgulhosa. — Agora eu tenho um emprego.

— O que eu te falei, neguinha? Era só ter calma que sua hora ia chegar.

— Amor, eu tô tão feliz.

— E eu tô explodindo de orgulho de você, minha princesa. — Pude imaginar ele sorrir. — Vamos comemorar hoje?

— Sexo? — Falei baixo no canto da cozinha pro seu Valmir não me ouvir lá fora.

— Não, sua tarada! — Diogo gargalhou. — Vamos sair pra comer alguma coisa, como nos velhos tempos.

— Tá bom. Mas aí depois a gente pode transar?

— Meu Deus, Yasmin! Tudo bem. Mas a gente tem que comemorar isso.

— Pode deixar que eu vou pular em você até não poder mais. — Brinquei sabendo que ele ficaria tímido.

— Boba, vamos ver isso mais tarde! Agora tenho que voltar, neguinha.

Suspirei frustrada.

— Tá bom, amor. Vou comer agora.

— Eu te amo, minha mais nova proletariada...

— Nunca mais vou ouvir essa palavra sem pensar num monte de carioca se descolorindo. — Fiz ele gargalhar de novo. — Eu te amo, neguinho.

— Te amo, doida.


Desliguei o telefone sentindo uma puta saudade do meu pretinho. Faziam alguns dias que a gente não se via, e pra mim já era demais.

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tem alguém ainda aqui??? KKKK primeira att de 2022, e tbm um agradecimento. Sobre nós acaba de chegar a 100K de visualizações.

é a minha primeira vez fazendo um livro sem o gênero de fanfic. e eu n acreditei que iria passar dos 20 mil com essa historia, mas vcs me provaram que da pra contar com vocês! obg por estarem aqui.

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