capítulo sessenta e sete: cansado

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d͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞o͟͟͟͞͞͞g͟͟͟͞͞͞o͟͟͟͞͞͞

  Já estava a tempos conversando com o Marcelo e tentando explicar o porquê deu querer pedir as contas. E ele tentava me convencer a todo custo pra permanecer. E no começo da conversa eu estava firme na decisão de sair dali. Mas ele começou me mostrar os e-mails que o Daniel mandou. E cara, eu não pensei que ficaria com mais ódio do que eu já estava da cara desse otário. Ele mandou o Marcelo realmente me entrevistar, mas pediu pra não me dar uma oportunidade. Que só estava fazendo aquilo pra dobrar a Yasmin. E pelo que o Marcelo me mostrou da conversa mais para baixo, eu realmente tinha me encaixado na vaga.

— Diogo, é o que eu tô te dizendo. Sou sincero, e se você estivesse aqui apenas pelo Daniel eu não faria tanta questão de abrir meus e-mails, algo tão íntimo. — Ele voltou a tela do computador pra ele.

  Eu queria demais acreditar nele, mas fica um pouco difícil de saber em quem confiar agora. Me sinto no escuro com várias vozes me dando direções diferentes.

— Mas você compreende também que é difícil pra mim conseguir acreditar nisso? Pô, eu mal digeri tudo isso. Eu tô confuso! — Admiti.

  Em poucos dias eu preciso lidar com um chão falso. Minha namorada mentiu pra mim. O emprego dos sonhos está a um fio de acabar. Era doloroso lidar com tudo isso de uma vez só.

— Você tem total direito de estar assim. De estar confuso. E por isso eu não vou te pressionar. — Marcelo tirou o óculos. — Fica uns dias em casa. Se você quiser realmente pedir as contas, vou respeitar a sua vontade. Mas pensa com calma! E foi um erro meu também. Então peço desculpas por estar por trás disso.

  Ele aprecia sincero a cada palavra. Mas a Yasmin também parecia ser quando eu perguntava. Isso me bugou.

— Marcelo, você parece ser um cara da hora. Mas realmente eu tô no escuro.

— Te dou uma semana pra ficar em casa e pensar com mais calma. A empresa realmente conta muito contigo.

  Eu tava tão confuso sobre tudo que eu não conseguia nem decidir de era o melhor prolongar por mais tempo tudo isso. Mas também era o melhor.

[...]

— Filho? Já chegou? — Minha avó falou entrando na sala depois de provavelmente escutar a porta da sala.

— Já sim, vó. — Me joguei no sofá.

  Dona Maria me encarou meio pensativa. Então deu meia volta indo pra cozinha mas segundos depois ela tava de volta.

— Desliguei o feijão. — Ela me respondeu sem eu nem perguntar. — Vou dar atenção pro meu neguinho lindo.

  Ri fraco não negando ser um pouco mimado pela dona Maria. Aquelas mãozinhas frias já me deu apoio demais.

  Levantei um pouco a cabeça pra ela sentar e eu deitar a cabeça no seu colo. Fiquei um pouco ali quieto sentindo os dedos dela passarem no meu cabelo. Me sentia na infância de novo, só que dessa vez as dores não eram de machucados.

— Pode dizer o que tá te deixando assim?

  Eram tantas coisas que eu queria dizer que davam um nó na garganta.

— Vó, eu pensei que eu me acostumaria com todas essas dificuldades. Mas tem que ser difícil sempre?

  Ela ficou em silêncio como se estivesse pensando para responder.

— Tem coisa que a gente precisa passar. Não é fácil. Ninguém disse que seria... Mas eu te criei forte pra superar qualquer coisa. — Ela beijou meu rosto. — Olha o tanto de coisa difícil que você já não superou!?

  Meus olhos arderam dando indício de que eu desabaria a qualquer momento. E pra falar a verdade, eu só precisava disso. Desabar todo esse turbilhão de sentimento ruim.

— Mas dói tanto. Sempre... — Deixei algumas lágrimas saírem. — Nada pra mim pode ser bom? Tem que vir sempre com obstáculos e dores?

  Desde pequeno foi assim. E eu nunca reclamei da minha vida, pelo contrário. Sou muito grato. Mas tem hora que cansa.

— Filho, tudo tem seu lado ruim. E eu só quero que você acredite na sua força de lidar com essas faces.

— Eu não quero precisar ser forte assim o tempo inteiro. É desgastante...

  Chega uma hora que ser sempre o maduro, o que compreende e apoia todo mundo, cansa. E eu tô cansado.

— Tudo bem também estar cansado. — Ela beijou minha bochecha de novo. — Pode contar comigo pro que você quiser, filho.

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