capítulo cinquenta e sete: fé

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y͟͟͟͞͞͞a͟͟͟͞͞͞s͟͟͟͞͞͞m͟͟͟͞͞͞i͟͟͟͞͞͞n͟͟͟͞͞͞

  Tinha acabado de contar pro Diogo que tinha conseguido ver uma vaga pra ele numa empresa. E foi torturante ter que mentir quando ele perguntou como eu consegui.

  Por isso eu odeio mentir. Era pra eu estar chorando de felicidade e comemorando com ele, mas eu me sinto com medo e angustiada. E se ele não entender quando eu contar? E se eu não contar e sim o meu pai? Nunca mais eu vou conseguir ficar tranquila enquanto tiver esses "e se" me sufocando.

— Você não parece feliz, não. — Diogo como sempre me descobrindo.

  Precisava pensar rápido e arrumar uma resposta onde eu não mentisse, mas também não desse com a língua nos dentes.

— Meu pai.

  É, não era uma mentira!

— O que aquele desgraçado fez contigo? — Ele ficou preocupado.

  Aí, amor, se eu te contasse você provavelmente ficaria puto.

— Voltamos a nos acertar e ele quer que eu vá com ele no shopping amanhã. — Dei um riso de lado como se isso não tivesse me incomodando pra caralho.

— Como assim voltaram a se acertar? Shopping amanhã? — Ele tava mais confuso que cego em tiroteio.

  Bati na cama dele pra que ele sentasse ali e eu contasse uma meia verdade que pesava muito mais que qualquer mentira que eu já contei na vida.

— Ele me procurou no começo da semana, separou da Caroline e vai passar um tempo aqui em São Paulo. Disse que queria voltar a fazer dar certo comigo.

  Diogo me olhava ainda com estranhamento.

— E você, Yasmin, aceitou? Jura?

  É ele me conhecia bem demais.

— A gente conversou muito, e ele fez o que eu sempre quis, separou da Caroline. Quem sabe agora não dá? — Abaixei o olhar não conseguindo manter por muito tempo nele.

— Essa minha vaga de emprego repentina não tem nada haver com ele não, né?

  Puta que pariu!

  Eu não da onde eu tirei que eu conseguiria fazer isso. Diogo me conhece, é inteligente e perspicaz. Isso não vai dar certo.

— Yasmin, juro que se ele tiver alguma coisa haver com isso eu prefiro continuar nessa dificuldade do que depender de uma ajuda desse cara. — Ele reparou o meu silêncio.

  Então só por pensar nele passar por toda essa dificuldade, um lado meu falou bem mais alto.

— Não. Eu achei no site, se quiser pode olhar. — Disse um pouco irritada. Não com ele, claro, mas comigo mesmo.

  Eu queria pegar um foguete e enfiar o meu cu e ir pra puta que pariu. Explodir de dentro pra fora.

— Tudo bem, confio em você. — Ele suspirou. — Respeito também sua decisão de voltar a falar com ele, mas depois do mal que eu vi que ele te faz... Ainda não consigo te apoiar nisso. Foi mal.

Alisei o rosto dele dando um sorriso fraco.

— Tudo bem, amor!

[...]

— O vó, a Yasmin conseguiu arrumar uma entrevista pra mim. Acredita?

Diogo e eu aparecemos na cozinha onde a dona Maria tava fazendo algum bolo que me deixou com a barriga roncando.

— O que? Sério?

Assenti sentando na mesa grande da cozinha.

— Sim. E é uma empresa do caramba. Se eu conseguir a gente vai poder ter uma vida mais tranquila, vózinha. — Ele abraçou a avó por trás me tirando um pouco de culpa.

Se eu não tivesse feito isso eles não estariam tão feliz assim.

— Filho, se você conseguir vamo na igreja agradecer. — Ela sorriu boba. — E você Yasmin, se você não se incomodar, queria que viesse também.

  Queria negar.

   A igreja por muito tempo perdeu o sentido para mim. E por um tempo consegui manter minha fé. Mas essa era uma versão inexistente hoje em dia.

  Não vou mentir, eu sentia falta da esperança que eu sentia quando imaginava ter alguém lá em cima olhando por mim. Acreditava que a justiça divina faria o bem ganhar. Mas com tantos anos de decepções, e principalmente vendo o mundo como tá... Me afastei. E se hoje eu tentar olhar pro céu e pedir algo, sinto que não tem mais ninguém. Tudo vazio.

— Vou sim, dona Maria! — Mas só para acompanhar os dois.

  Diogo sim, era um cara que mesmo na pior das situações continuava grato a um Deus que, hoje era invisível para mim. Mas se essa força do meu pretinho vem dessa fé, eu faria de tudo pra incentivar.

— Então combinado. Se o meu filho conseguir esse emprego, e eu tenho fé que vai. Nós três iremos pra igreja agradecer.

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