05 | 14:50

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POV SINA

ㅤㅤㅤPor que eu havia aceitado ir até a sorveteria com Noah? O primeiro motivo era óbvio, eu queria sair o mais rápido possível da frente daquele consultório e não queria chegar na casa do meu avô daquele jeito, afinal, ele era apenas um senhor de idade e eu tinha que admitir que não era justo jogar essa carga sobre ele. E o segundo e mais curioso: sorvete era a minha coisa preferida no mundo. Quando eu era pequena meus pais e avós sempre utilizavam disso como uma arma para me chantagear em qualquer situação. Obviamente tudo isso não tornava a ideia do meu avô um pouco menos absurda, já que Noah continuava sendo o mesmo drogado que seria como minha sombra naquela cidade.

ㅤㅤㅤMinha família sempre foi muito unida e não costumávamos ter muitos segredos, ao menos até a metade da minha adolescência. Vovô sempre foi uma pessoa muito divertida e aberta, por isso eu custei a acreditar na veracidade da fala do drogado à minha frente. Ou melhor... como deveria chamá-lo? Segurança? Vigia? Babá? Um sorriso de canto surgiu em meus lábios por conta dos meus pensamentos, mas eu o escondi levando a colher até a minha boca. A sensação da massa gelada derretendo em contanto com a minha língua fazia com que eu voltasse a lembranças tão boas que faziam com que meu coração apertasse.

ㅤㅤㅤ— Aposto que você sabia que eu ia te levar à falência com o tanto de sorvete de flocos que ia pegar, por isso você está fazendo isso. Pra que eu não pegue mais. Certo... você venceu, só vou tomar esse potinho mesmo. — Brinquei, minha voz falhava porque eu estava rindo. Uma sensação estranha, fazia muito tempo que eu não ria daquele jeito. — Por favor, me conta... eu tô quase acabando! — Menti, tentando esconder o meu potinho ainda cheio.

ㅤㅤㅤ— Quando a gente terminar eu te conto. — Ele respondeu pegando uma colherada daquele sorvete misturado. Como ele conseguia? O encarei desconfiada, afinal, e se ele tivesse blefando? — Eu vou contar... PINK PROMISE! — Sua voz forçada ao dizer aquilo me fez rir mais uma vez. Seu mindinho foi estendido para a mim, como se quisesse selar a promessa e eu o entrelacei com o meu.

ㅤㅤㅤ— Sério... como você pode dizer que esse seu sorvete nojento é melhor que o meu de flocos?

ㅤㅤㅤ— Você só conhecerá todas as coisas boas da vida se souber apreciá-las da melhor maneira possível, Deinert. Por que ficar presa só no sorvete de flocos se você pode experimentar todos os sabores juntos? — Ele respondeu, mas a única coisa que eu conseguir entender era: drogado.

ㅤㅤㅤ— Ok... como você, senhor maconheiro, foi conhecer o meu avô, um senhor de idade? Sério... quando eu te vi tomei um susto, eu estava esperando um amigo dele assim... um senhorzinho fofo e do nada vejo você. — Eu não queria parecer ofensiva e nem decepcionada por ele não ser um senhor de idade, mas eu estava realmente curiosa sobre isso e mais ainda sobre o que ele tinha para me contar. E era por isso que eu me apressava em dar colheradas generosas no sorvete para acabar o mais rápido possível.

ㅤㅤㅤ— Bom... a gente frequenta o mesmo bar há um tempo. Não sei se você sabe, mas ele gosta de jogar cartas e as vezes bebe umas. O velho é uma figura! E ele sempre me ajuda... ele é um bom homem. — Seu olhar era carregado de carinho, eu ficava feliz por saber que ele era amado aqui nessa cidade. — Por isso que te falei... não fica brava com ele, ele só está preocupado com você. Não sei o que aconteceu... mas ele parece ter medo. — Mordi o meu inferior e respirei fundo, acho que não estava pronta para ter aquela conversa. E acho que também não seria muito confortável para ele falar sobre as ajudas de vovô, então apenas assenti e me concentrei em finalizar o meu sorvete em silêncio.

ㅤㅤㅤEram 14:50 quando meu avô mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem. Respondi que sim, que estava com Noah.

ㅤㅤㅤ— Falando nele... — Eu sorri, mostrando para ele as mensagens. — Mas certo... agora eu terminei o sorvete. Qual a fofoca?

ㅤㅤㅤ— Mas eu nem terminei o meu! — Indagou, brincando com a colher como se estivesse enrolando só para me irritar - e diga-se de passagem, estava conseguindo. — Tá, tá... eu vou te contar só pra você ficar feliz. Espero que você não fique brava nem chateada. Mas antes... — Revirei os olhos, ele parecia que não ia parar de enrolar nunca. — Você está com um bigodinho de sorvete! — Senti o meu rosto queimar no momento exato em que ele utilizou do seu indicador para tentar limpar a minha boca.

ㅤㅤㅤ— Obrigada! — Eu disse em meio a uma riso tenso, ajeitando-me na cadeira. Enquanto esperava ele responder, apanho um guardanapo para me limpar. — Você parece aqueles sites de fofoca que ficam enrolando pra contar as coisas! — Até que era uma boa estratégia, eu tinha que admitir. Eu estava tão presa naquele assunto que nem notei quando todas aquelas coisas pararam de rondar a minha mente. Era bom, afinal, pensar naquilo me quebrava por dentro. Por que só de falar o seu nome me machucava tanto? Eu...

ㅤㅤㅤ— Então... — Ele interrompeu meus pensamentos. — Você acredita que o seu avô, senhor Deinert... — Começou a gesticular e fazer um som como se fossem tambores rufando. — É apaixonado pela minha avó? — Eu esperava ouvir qualquer coisa, talvez algo mais interessante ou mais emocionante. Mas jamais imaginei meu avô apaixonado naquela idade e pela avó dele.

ㅤㅤㅤ— Meu avô... sua avó? Como? — Eu ri, porque além de aquilo ter me surpreendido eu fiquei imaginando o quanto ele deve ter ficado preocupado com o fato do meu avô se apaixonar por outra mulher me incomodar. — E nossa... imagina se a gente vira parente porque nossos avós começam a namorar! — Dramatizei pressionando a testa com a ponta dos dedos. — Eu não ia me livrar nunca de você!

ㅤㅤㅤ— Sim... ele é um cara muito legal, sempre me ajuda muito. Mas a gente se conheceu porque ele sempre ficava tentando conquistar ela, ele acha que ninguém percebe... mas é bem nítido. — Ele pausou para virar o resto do sorvete que havia derretido, limpando a boca logo em seguida. — Você tem que ver, eles parecem dois adolescentes. E bom... seria legal se minha avó não fosse tão cabeça dura e ficasse logo com ele, ela é muito sozinha sabe?

ㅤㅤㅤ— Meu avô também é bem sozinho... ainda mais que a nossa família toda mora longe. Eu fico feliz de saber que ele está apaixonado. Mas, me diz uma coisa... sua avó também é maconheira que nem você? — Eu não pude deixar de perguntar, porque só conseguia imaginar uma senhorinha que plantava maconha no fundo do quintal.

ㅤㅤㅤ— Tá engraçadinha hein Deinert? — Ele não parecia se irritar tão facilmente. — Não... na verdade ela é mais adepta aos chás de camomila, quando você conhecê-la com certeza ela vai te oferecer um monte de chás pra tudo. Tá com dor? Chá de não sei o que. Tá triste? Chá de outra coisa. — Aquilo me fez lembrar da minha avó, ela era exatamente assim.

ㅤㅤㅤ— Vou adorar ela nesse encontro familiar. — Brinquei.

ㅤㅤㅤ— Um almoço em família, a sobremesa é sorvete... mas não de flocos.

ㅤㅤㅤRevirei os olhos.

ㅤㅤㅤ— Aposto que sua avó gosta de sorvete de flocos.

ㅤㅤㅤ— Claro que gosta... ela é uma senhora de idade. — Ele sabia como me provocar.

ㅤㅤㅤ— Ela tem bom gosto! — Rebati.

ㅤㅤㅤ— Concordo. Quer dizer, em partes! — Não sabia mais se eu falava do sorvete ou do meu avô.

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