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POV SINA

ㅤㅤㅤMeu décimo aniversário foi o primeiro que passei na casa dos meus avós e lembro de ter achado tudo muito diferente. Eu era acostumada com a calmaria da cidade pequena e aquele lugar parecia agitado demais para mim. E como se fosse ontem, me lembro da minha avó dizendo "aqui as coisas acontecem rápido assim mesmo, uma hora você tá aqui e na outra precisa ir ali... é como se você vivesse num filme acelerado". Eu só não imaginava que seria num sentido tão literal assim, já que eu falava com Noah e de uma hora para outra ele me interrompeu gritando coisas sem sentidos.

ㅤㅤㅤ— Tá tudo bem? — Perguntei um pouco assustada. Ensaiei erguer a mão para tocá-lo mas não o fiz, talvez porque ele parecesse um pouco agressivo demais para o meu gosto.

ㅤㅤㅤ— Eu volto logo. — Ele respondeu tão rápido e uma maneira tão convicta que eu não tive tempo de pensar.

ㅤㅤㅤQuando dei por mim ele já apanhava a chave do carro e a jaqueta que havia deixado no encosto da cadeira e eu pude ouvir o som firme dos seus calçados violentando o assoalho enquanto ele caminhava em direção à saída.

ㅤㅤㅤ— Noah! — Tentei impedi-lo, ao menos queria saber o que tinha acontecido, mas é claro que eu não consegui.

ㅤㅤㅤ— Qualquer coisa me liga. — Ele não olhou para trás, apenas saiu. Como minha avó sempre me dizia, as coisas aqui aconteciam rápido demais.

ㅤㅤㅤUm milhão de coisas passaram pela minha cabeça. Talvez ele tivesse esquecido água fervendo na casa dele e tinha medo que ela pegasse fogo, ou ele precisava sair para fumar para se acalmar tendo em vista que ele parecia estar atordoado. E as dúvidas começaram a rondar minha mente: o uso de drogas o acalmava ou fazia dele uma pessoa violenta? Ele poderia ser perigoso? E se ele tivesse se lembrado de algum detalhe que deixou escapar ao esconder um corpo?

ㅤㅤㅤNão! Minha consciência gritou, não era certo pensar essas coisas sem fundamento algum. Aproveitei da sua ausência para tomar um banho e adiantar um pouco de um dos trabalhos que tinha da faculdade, uma resenha de um capítulo de um livro de História da Arte. Desci então para assistir um pouco de televisão na sala e acho que estava tão cansada que acabei cochilando no sofá, acordando apenas com o som da porta se abrindo. Pensei ser meu avô, porque não esperava mais que Noah voltasse já que havia passado das 18 horas.

ㅤㅤㅤ— Vô? — O chamei, mas ele não respondeu.

ㅤㅤㅤPensei ainda estar sonhando porque não podia acreditar no que vi, mas pouco a pouco os pontos se interligaram e as coisas passavam a fazer sentido na minha mente. Noah atravessou a porta de cabeça baixa, mas eu ligeiramente podia ver o seu rosto machucado. Me levantei às pressas, me aproximando dele sentindo o meu coração acelerar e minhas mãos tremerem enquanto eu tocava o seu rosto.

ㅤㅤㅤ— O que aconteceu? Eu não acredito que você... — Eu nem conseguia formular a frase direito, tampouco conseguia pensar.

ㅤㅤㅤ— Eu tô bem, Sina! — Ele rebateu visivelmente irritado, tentando me afastar.

ㅤㅤㅤ— Você já olhou pra si mesmo? Você tá com o rosto todo estourado, que merda aconteceu? — Enquanto eu perguntava ele levou a mão aos lábios, tentando limpar o sangue que escorria e eu pude ver sua mão machucada e eu sabia o que aquilo significava. — Você foi até lá... ne?

ㅤㅤㅤ— Aonde eu moro ninguém faz uma porra dessas e fica de boa, Sina. Ninguém!

ㅤㅤㅤ— Bom... se ele ficou pior do que você acho que ele tá bem ferrado! — Brinquei, tentando conter o riso.

ㅤㅤㅤ— Você acha engraçado ne? — Ele pareceu não gostar muito do que eu disse, mas não tardou a rir e eu o fiz também.

ㅤㅤㅤ— Na verdade não... você não precisava fazer isso. Olha no que deu!

ㅤㅤㅤ— Já te falei, onde eu moro as coisas são assim. Ele nunca mais vai te fazer pensar essas merdas... — Ele hesitou em continuar. — E acho que a ninguém mais!

ㅤㅤㅤ— Noah você matou ele? — Certo, as coisas realmente aconteciam rápido demais. Como do nada eu havia me tornado cúmplice de um assassinato?

ㅤㅤㅤ— Claro que não, não viaja. Mas possivelmente ele perderá o direito de exercer porque ele não pode fazer isso, entende? — Ele sorriu.

ㅤㅤㅤ— Entendo... — Eu sorri de volta. — Agora você pode parar de pagar de herói e me deixar ver alguma coisa pra essa sua cara deformada? — Brinquei.

ㅤㅤㅤEle assentiu e eu fui até o banheiro para apanhar a bolsa de primeiros socorros. Quando voltei ele estava sentado no sofá, esfregando as mãos uma na outra demonstrando um nível alto de ansiedade.

ㅤㅤㅤ— Você tá bem...? — Perguntei, mas ele não respondeu. — Talvez isso doa um pouco, mas eu posso te dar um pirulito se você for um bom menino! — Fiz referência ao dia que nos conhecemos, em que ele me ofereceu sorvete em troca de bom comportamento.

ㅤㅤㅤEmbebedei uma gaze com um pouco de soro e levei até os lábios dele, fazendo com que ele suspirasse de dor. Eu não tinha muitas habilidades com esse tipo de coisa, porque durante a infância sempre tive meus pais e avós para me cuidar e depois de mais velha sempre tive Heyoon. Então nem sabia se estava fazendo certo, mas tentava limpar seus lábios, ainda que ele reclamasse de dor como uma criança. 

ㅤㅤㅤSoprei seus lábios de maneira gentil, me lembro que esse ato sempre me trazia conforto quando eu precisava limpar algum machucado. Só não havia me tocado da proximidade de nossos rostos e do quanto nossas respirações pareciam se misturar. 

02:01 | NOARTOnde histórias criam vida. Descubra agora