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POV SINA


ㅤㅤㅤ— Achei que você ia explodir a cozinha! — Proferi.

ㅤㅤㅤEu sabia que poderia ajudá-lo, mas eu não gostava de me intrometer em receitas de família porque depois se algo saísse errado me sentiria culpada. Então fiquei na sala assistindo a uma série na Netflix enquanto ele cozinhava. Assisti cerca de dois episódios até ele aparecer na sala vestindo o avental da minha mãe, ele sempre fazia aquilo porque sabia que eu achava engraçado.

ㅤㅤㅤ— Eles estavam prestes a descobrir quem matou o Polo! — Indaguei enquanto eu dava pause, fitando-o se aproximar.

ㅤㅤㅤ— Você e essas séries de gente doida! — Ele me provocou, fazendo com que eu revirasse os olhos. — Eu não sei como você consegue assistir isso, você deveria assistir séries realmente legais. Dexter, Slasher, Lúcifer...

ㅤㅤㅤ— Você sabe que depois eu tenho pesadelos! — Cruzei os braços e ele se sentou ao meu lado, passando o braço por trás do meu corpo e me puxando para ele.

ㅤㅤㅤ— Como você é dramática! — Eu sabia que ele fazia aquilo para me irritar, mas mesmo assim não resisti ao impulso de empurrá-lo como se não quisesse mais falar com ele. — Eu posso te abraçar bem forte e afastar esses sonhos ruins, que tal? — Nossos rostos estavam bem próximos e eu sorri, sentindo o calor dos seus lábios como se fosse a primeira vez.

ㅤㅤㅤO som do timmer ecoou na cozinha, fazendo com que nos afastássemos e o cheiro inconfundível do seu macarrão de forno fez com que minha barriga roncasse tão alto que eu podia jurar que ele havia escutado.

ㅤㅤㅤ— Vamos comer? Eu estou faminto! — Ao findar da frase ele me apertou contra o seu corpo, dando um beijo em meu nariz como sempre.

ㅤㅤㅤ— Marcel? — Eu o chamei. Ele já havia se levantado, mas se virou para me encarar. — Um dia você vai me contar o que vocês usam no molho do macarrão? — Pedi em um tom manhoso. Já fazia um bom tempo que eu perguntava aquilo e ele nunca me contava, mas era algo que fazia com que o molho tivesse um gosto diferente.

ㅤㅤㅤ— Um mágico nunca revela seus truques!

ㅤㅤㅤ— Eu vou descobrir! — Rebati, me levantando e seguindo junto dele até a cozinha.

ㅤㅤㅤO sabor daquele macarrão não era como nenhum outro que já tinha comido em toda a minha vida e ele era tão real, mas tão real que quando eu abri os olhos eu podia jurar que ele se fazia presente em meus lábios.

ㅤㅤㅤMas havia algo diferente. Estava escuro e silencioso.

ㅤㅤㅤNão demorei a me dar conta de que tudo não se passava de um sonho. Marcel não estava ali, nem o seu macarrão. Só havia restado a dor, que fazia com que meu peito se apertasse tanto que era como se eu tivesse sendo engolida por um tsunami.

ㅤㅤㅤQuando eu tinha cinco anos me lembro de ter caído numa piscina e ter engolido muita água, e pela primeira vez pensei que ia morrer. Eu passei tanto tempo tentando retomar minhas memórias e agora era como se as lembranças dele me tomassem como a água daquela piscina, fazendo com que eu afundasse de tal forma que eu não sabia como chegar novamente à superfície.

ㅤㅤㅤMinha mãe sempre me dizia "Chora, é bom... fará você se sentir melhor". E eu me lembro de ter chorado muito desde que tudo aconteceu, mas a dor nunca havia passado... e eu sentia que ela nunca, nunca ia passar.

ㅤㅤㅤTateei a cama em busca do meu celular, já que além da escuridão minha visão estava turva devido às lágrimas que escorriam sem parar.

ㅤㅤㅤ— Eu te amo! — Comecei a gravar um áudio no whatsapp. — Eu te amo e sempre vou amar! — A cada palavra era como se alguém esmagasse um pouco mais o meu coração. — Eu ainda tenho esperanças de que você apareça aqui em casa pra fazer o seu macarrão de forno... e eu vou descobrir a receita, eu te prometi. — A minha voz falhou no fim da frase, os soluços quase me impossibilitavam de continuar a falar. — Eu sinto sua falta todos os dias... — Silêncio. — Acho que o seu cheiro ainda está presente em mim... — Pausei para cheirar minha roupa, mas não havia nada dele ali. — Eu só precisava de você aqui... — Mordi o meu inferior bem forte, como se aquilo fizesse cessar a dor. — Me desculpa... desculpa... desculpa. Eu te amo... — Desmoronei no momento em que enviei o áudio que eu sabia que jamais seria entregue.

ㅤㅤㅤAquele som...

ㅤㅤㅤQuase caí da cama quando ouvi o meu celular notificar. Não! Seria possível ele ter me respondido? No fundo uma ponta de esperança cresceu em meu peito e eu me apressei em visualizar a tela do celular, não acreditando no que havia acabado de acontecer. Meu coração disparou, minha mão tremia e eu não sabia o que pensar.

ㅤㅤㅤEra como nos filmes, quando eu mais precisava que a biometria do meu celular funcionasse

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ㅤㅤㅤEra como nos filmes, quando eu mais precisava que a biometria do meu celular funcionasse... ela não funcionava. Mas ele finalmente desbloqueou.

ㅤㅤㅤ— Por favor, por favor, por favor não... — Implorei a mim mesma, aos céus, ao universo, a quem quer que fosse assim que visualizei a conversa.

 — Implorei a mim mesma, aos céus, ao universo, a quem quer que fosse assim que visualizei a conversa

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ㅤㅤㅤFiquei imóvel, encarando a tela do celular. Sério mesmo Sina? Você acabou de enviar aquele áudio justamente para Noah Urrea? Eu não tinha dúvidas: eu estava fodida. 

02:01 | NOARTWhere stories live. Discover now