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Maria Luiza

Me olhei no espelho e senti nojo ao me olhar, deslizei a mão pelo meu rosto limpando a maquiagem e comecei a chorar. Me senti suja, me senti usada e me senti como um nada entre todas as outras pessoas do mundo, me sentei no chão me encolhendo e só sabia chorar, aquele dinheiro que estava na minha mão talvez não valesse nem um pouco o desgosto que eu estava sentindo, de mim mesma.

Hoje havia sido meu primeiro dia como prostituta, como puta, ou sei lá como deveria me denominar. A dor no meu peito era enorme e eu só queria sumir, talvez não devesse estar aqui e queria jogar tudo pro ar, mas eu não podia.

Coloquei a mão na boca abafando meu choro e olhei pra cima, vendo o Caio dormindo no sofá. Meu filho era tão novo e tão pequeno, era tão desnecessário ver ele passando mal, pedindo comida e eu não podendo dar, meu peito doía de maneira que eu nunca conseguiria explicar.

Minha vida virou de cabeça pra baixo quando eu decidi me envolver com o maldito Ricardo, aquele que me fez confiar e achar que eu encontrei o homem perfeito, o amor da minha vida, o melhor do mundo! E eu caí no papo, o que poderia fazer?! Tinha 16 anos quando me envolvi com ele, ele 22, e a novinha caiu no papo do mais velho bobo.

E na primeira oportunidade que ele teve, começou a me pedir um filho, eu estava totalmente cega de amor, achava que tinha encontrado o amor da minha vida, vivia como rainha no morro, a primeira dama mais conhecida entre tantos morros, até pelo próprio comando, o que poderia dar errado?

Aos 15 anos engravidei, as 16 dei a luz ao meu filho, aos 19 fui largada com meu filho de dois anos no braço, sem qualquer tipo de apoio ou abrigo. Sendo apenas expulsa da casa que era minha, de um lugar que era meu, de uma paz que eu achava incrível.

Minha mãe havia morrido quando eu tinja 17 anos, meu pai havia sumido no mundo assim que eu nasci, não tinha contato algum com minha família, me diz, o que eu iria fazer? E eu tentei, não foi por falta de tentativas, por corpo mole ou por preguiça que não deu certo, eu juro que tentei de tudo.

E aos meus 20 anos, fiz meu primeiro programa. Vim pro Complexo do chapadão, saindo da Cidade de deus que era meu antigo lar, conheci uma mulher que me deu uma casa, e em troca, eu trabalharia pra ela vendendo meu corpo, e eu poderia reclamar? Eu tinha um filho, eu tinha que fazer alguma coisa, e foi sempre assim, não importa o que eu teria que fazer, precisava deixar ele bem, mas eu sabia que uma hora isso ia mudar, minha sorte precisava chegar...

•••
Maria Luiza, 26 anos.
@// carlialm_

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