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Maria Luiza

Cheguei na porta da casa de prostituição e entrei vendo que só tinha algumas meninas, algumas delas moravam ali, dormiam no chão sujo ou até mesmo em cima dos palcos, mas acho que qualquer coisa é melhor do que morar na rua. Apenas subi as escadas após falar com elas e fui até a sala da Eduarda, bati e entrei, vendo que ela tava olhando uns papéis.

Malu: Vamos lá, Eduarda. Me dê dívidas até o fim da minha vida só pra eu não sair dessa merda de vida.- Falei conformada, me jogando na cadeira e ela não olhou pra mim.

Essa era a mania dela, ela não encarava as pessoas enquanto falavam com ela. Eu não sabia explicar o quão incômodo isso era.

Eduarda: Deveria ter pensando nas consequências, achou que iria ser tão fácil sair, igualmente quando entrou? - Falou olhando pros papéis e eu neguei com a cabeça.

Malu: Como se meu maior desejo fosse ser uma puta, vai se foder! Eu só tinha duas opções, ou fazia essa merda ou via meu filho morrer de fome. Sabe qual a sensação de ver seu filho chorar pedindo comida e você não te dinheiro? Sabe qual a porra da sensação de procurar a comida menos suja no lixo pra tentar fazer seu filho parar de chorar? - Cuspi as palavras em cima dela.

Senti meu peito apertar, os olhos se encheram de lágrimas e eu tentei me segurar. Uma lágrima escapou e pela primeira vez ela me encarou, mas logo desviou o olhar pra trás de mim. Ela encarou algo atrás de mim e eu me virei assustada, o Trovão estava na porta encostado com sua cara de poucos amigos, ao lado dele seu primo, eu soltei um suspiro e limpei meu rosto.

Eduarda: Faça as contas dela, ela quer sair.- Foi a única coisa que falou, antes de voltar a olhar os papéis e escrever.

Encarei ela incrédula e olhei pra trás novamente, na minha cabeça foi uma ótima ironia o Trovão e a porra do primo dele serem os que bancam essa merda de casa, assim, eu já sabia pra quem a Eduarda tinha dado pra conseguir, era tão óbvio.

Trovão: Sai, Eduarda.- Falou alto chamando a atenção dela, ela apenas se levantou e saiu.

Eu joguei a cabeça pr atrás e fiquei encarando o teto, a porta fechou e eu achei que o primo dele também tinha ficado, mas restou apenas eu e ele. Trovão rodou a sala se sentando no antigo lugar que Eduarda ocupava e eu olhei pra ele.

Trovão: Por que tu quer sair? - Encarei e soltei uma risada fraca.

Malu: Não é óbvio, trovão? - Questionei, ajeitando minha postura na mesa.

Trovão: Cada dia que tu atrasou tua saída, tua dívida cresceu pra caralho, garota! No mínimo tu entrega 10 mil na mão e ainda sim, vai dever um valor todo mês pra tentar acabar tua dívida, até o dia da tua morte.- Encarei ele negando.

Malu: Nem se eu quisesse, se eu dobrasse todas as horas, nunca conseguiria. Mas você sabe disso, né? E tá só tentando fingir que tem uma saída, quando não tem.- Falei com voz de choro, mas tentei engolir aquela merda.

Trovão: Sei lá cara, arruma um trampo de manhã, de tarde, se vira dobrado de noite.- Apontou.

Malu: Você não tem mínima noção, puta que pariu.- Falei respirando fundo.- Obrigada por me falar o óbvio, eu realmente nunca pensei nisso.

Trovão: Tu vai ter que segurar teu b.o nas costas.- Falou pegando um papel e encarando as coisas escritas.

Olhei pro teto, pro chão, pros lados e só sabia achar graça naquilo. Eu queria poder fugir do morro, sei lá, me casar com um policial fodido e viver como se nada de ruim assim tivesse acontecido na minha vida, afinal meu marido iria me proteger. E qual a possibilidade disso da certo? Até encontrar um policial pra casar, ou eu já vou tá morta, ou acostumada com o fracasso.

Amarrei meu cabelo prestes a me levantar, mas olhei pro Trovão e percebi que ele me encarava de lado, revirei os olhos pra ele e me levantei de vez, senti seu olhar me seguindo até eu abrir a porta e sai dali, dando de cara com o Vagner, que se afastou e eu neguei com a cabeça passando por ele.

Primeira dama Onde as histórias ganham vida. Descobre agora