𝖬𝖾𝗎 𝖢𝗎𝗉𝗂𝖽𝗈

CAPÍTULO DEZSSEIS

Eu tenho visto cada vez menos a Lisa, em todo seu pouquíssimo tempo livre ela sai. E eu sei muito bem para onde e com quem, ela e Suho estão se conhecendo. Hoje ela está usando uma saia preta colada ao corpo, uma blusa branca e um casaco listrado. Seu cabelo está completamente liso.

Eu estou deitado no sofá. Ela pega suas chaves e sai, espero alguns minutos para ter certeza que ela não vai voltar para pegar alguma coisa e vou para minha forma original. Desligo a televisão porque não sou sócio da companhia de luz, voei até ela e a acompanhei de longe.

Eles se abraçaram e entraram no restaurante, Suho não tem um carro. O coitado gasta todo seu dinheiro com a faculdade e contas. Mas o importante é a química e o coração, confesso que eles não tem química alguma. Que bosta de casal sem sal! Devo avisa-los que sou cúpido e não faço milagres?

Ele a fará feliz, isso é o suficiente.

Uma conversa chata se inicia, cansado eu me sento do lado da Lisa e ela se arrepia. Franzo o cenho, então ela olha para o lado e se ela estivesse me vendo nossos olhos teriam se encontrado.

— Está tudo bem? — Suho indagou, ela piscou e colocou um sorriso gentil em seu rosto. Meu coração saltou, ela é tão linda.

— Está sim. — Respondeu-lhe, coloquei meu queixo na mão e fiquei os encarando.

Ou melhor, fiquei admirando-a. Toda vez que ela sorria, mexia no seu cabelo, piscava lentamente, ou soltava uma das suas gargalhadas gostos. É um sentimento definitivamente novo, eu até ariscaria dizer que estou amando-a. Mas não seria romanticamente, isso seria impossível. Correto?

Eu li as páginas da minha maldição, sei que não são reversíveis. Então por que diabos estou questionando isso? Não sei de mais nada, parece que tudo que acreditei e me dediquei a vida inteira foi uma grande encenação. Não lembro de uma grande parte da minha vida, mas faz sentido. Tenho bilhões de anos, mas só lembro da minha existência após a criação da Terra. O cúpido foi um dos primeiros deuses a existir, muito antes da Terra. Mesmo não me lembrando eu sei que tive uma vida antes daqui. E eu detesto ter que ir para outros planetas, tenho muito trabalho.

O encontro acabou e Suho acompanhou a Lisa até a parada, indo embora apenas depois dela entrar no ônibus. Entrei no ônibus e sentei-me ao seu lado, ela arrepiou novamente.

— Isso me segue para todo lugar. — Murmurou, olhei para ela.

Para todo lugar não, apenas a maioria. Não sou anjo da guarda, tá me estranhando?!

Seu celular tocou e eu vi o nome da sua melhor amiga na tela, sabe uma coisa engraçada. Eu não consigo me lembrar nem dela e muito menos do seu cônjuge, Jimin. Sei que eu os juntei, porque só eu posso juntar casais. Mas mesmo assim eu não consigo lembrar deles, consigo lembrar da história de seus pais. Mas deles? Definitivamente não!

Ela contou todo seu encontro com o senhor cursando direito para sua amiga, em toda minha existência eu nunca vi um casal tão sem sal nos encontros como esse.

— Você está grávida?! — Lisa falou alto, despertando-me dos meus devaneios. — Eu sabia que meus bombons do amor funcionariam, eu que juntei vocês dois.

Ela riu, arqueei minha sobrancelha. Bombons do amor? Você juntou eles? É aquela superstições malucas?

— E você aí duvidando do meu dom. — Falou rindo, muitos achavam que juntavam casais e ela era mais uma. Que surpreendente. — Mamãe me chamava de cúpido da vida real, amor. Me respeite.

Ela levantou e deu sinal, acompanhei-a até uma parte. Depois voei para o apartamento, ela chegou poucos minutos depois e ainda falava no telefone.

Ela nem olhou na minha cara, fingi não me importar.

🏹

Estávamos cada vez pior nos ensaios, eu revirava os olhos ou bufava e saia de perto dela. Então Joey e Eliza começavam a ensaiar os solos, não temos muito tempo para ficar fazendo essa birra. Muita coisa para arrumar e fazer, ensaios gerais e tudo. E eu e Lisa não estamos conseguindo fazer um mísero passo.

— Chega! — Joey interrompe mais uma de nossas discussões. — Os dois estão errados, ambos não conseguem fazer um mísero passo. Nem crianças de três anos tem tanta falta de sincronia!

Eliza balançou a cabeça nos julgando, Joey revirou os olhos.

— Estamos cansados, cadê a dupla incrível que vimos na audição e em alguns ensaios? — Eliza indagou, olhei de soslaio para Lisa. — Vocês tem uma semana para voltarem como antes, se não estão fora de qualquer papel que seja da peça!

Lisa arregalou os olhos e ficou pálida. Sem mais nenhuma palavra, sem nem um protesto eles saíram. Peguei minha bolsa e sai, eu sou um Deus! O que estou fazendo aqui?

Escutei os passos pesados da Lisa atrás de mim, ignorei. Como tenho feito a semana inteira. Não estou com saco e nem vontade de enfrentar seja lá o que for que está acontecendo.

Chegamos em casa, juntos e ainda não tínhamos nem olhado um para cara do outro. Mas então Lisa jogou a bolsa no chão, colocou as mãos na cintura e ficou me encarando com um olhar mortífero.

— O que você pensa que está fazendo? — Falou irritada, eu bufei e encarei-a de volta.

— O que eu estou fazendo? Você tem certeza que sou eu, Lalisa? — Falei no mesmo tom, ela não vacilou. — Você está ocupada demais de namorico que esquece do trabalho e ainda quer por a culpa em mim?!

— Eu.. o que? Perdeu a cabeça? — Ela deu uns passos para frente, fiz o mesmo. — Não esqueço do meu trabalho, é a porra do meu sonho!

— Então está na hora de acordar e viver a vida real! — Gritei, ela piscou e cambaleou para trás. — Estou cansado, toda essa porra sobre mim. Você está me dando nos nervos, uma hora fica grudada em mim e na outra tá com outro. Se decide mulher, mas que inferno!

Ela ficou calada, eu respirei fundo tentando me recuperar. Mas percebi que seria melhor eu me afastar.

— Do que você está falando? Você que falou para eu ficar com ele. — Ela falou baixinho, ela tinha razão.

Estou perdendo minha cabeça. Eu estou me perdendo, não aguento mais. Eu já não sei de mais nada. Meu ouro parece que se transformou em plástico.

Eu dei as costas para ela e fui para o meu quarto, bati a porta e me deitei. Meus olhos encheram-se de lágrimas.

Eu estou exausto!