O tic-tac do relógio parecia zumbir na sua cabeça como um sino infernal de uma igreja prestes a celebrar a missa, se é que essa possa ser uma comparação equivalente. Não se sabe, a única vez que pisou em uma foi em seu batismo. Leon passou a mão pelo cabelo até não encontrar um frizz, um fio do seu cabelo fora da atmosfera do seu couro cabeludo. Ajeitou seu blazer de tweed e sentiu um ligeiro calafrio percorrer a espinha; não fazia frio, mas a imagem de seus pais parados na porta com ares de arrependimentos e decepções o fazia ter trepidações irrefreáveis. Não se viam por mais ou menos dois ou três anos pessoalmente. Quinze minutos por ligação de voz e cinco nos momentos que a impaciência dos pais tardava a chegar. Ele era uma decepção, um projeto falido, sem objeções.
Parecia nem ser verdade, mas ele buscava aprovação, não do tipo de consentimento sobre o que deve fazer, ou como deve pensar, mas do tipo “eu aprovo o ser humano que você é, você tem minha benção para continuar desse jeitinho”. Ele revirou os olhos e saiu de frente do espelho. Essa era a pior das expectativas, expectativas de ser humano.
A campainha tocou e como se estivesse esperando o sinal de largada, Leon saiu correndo sem pensar, desceu as escadas e não muito estava no pé da porta, amolengou o corpo e tomou coragem ao abrir o ferrolho e se deparar como Kawe.
一 Uau. Eu esperava uma recepção mais calorosa, ou um comentário sarcástico, mas no lugar eu tenho um típico garoto rico vestindo tweed e com o cabelo lambido. Agora, sim, você está do jeito que eu sempre imaginei que pessoas absurdamente ricas seriam.
Kawe sorriu e levantou os olhos para Leon. Instantaneamente seus batimentos cardíacos se acalmaram aos poucos e ele pôde sorrir de volta.
— Obrigado por ter vindo, embora não faça mais que a sua obrigação como namorado — ele responde.
— Se ensaiar essa mentira de frente para o espelho mais um pouco, talvez seus pais se convençam de que é verdade — Kawe retrucou.
— Seus comentários sutis golpeiam meu coração com a destreza de um lutador de boxe — Leon cruza os braços.
— Então preciso mudar de profissão. Acho que vou tentar ser lançador de facas, quem sabe meus próximos comentários sejam menos sutis e mais cortantes.
— Ah, Moranguinho, por que não me disse desse seu lado sádico antes? Eu não tenho facas no meio das algemas e chicotes, mas se você quiser, de repente…
Sem acreditar na sandice que acabara de ouvir, Kawe empurra Leon, que os risos acaba o fazendo rir junto.
— Você é tão besta!
Mas o momento de descontração durou pouco, mais precisamente o tempo necessário para o carro de luxo parar frente à luxuosa mansão e dele descer um casal imponente com cara de poucos amigos. O Senhor e a Senhora Brandão subiam as escadas até onde os dois estavam, parados, provavelmente respirando o máximo de ar enquanto ainda dava tempo.
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Me Encontra (NOVELA GAY)
Teen FictionKawe não imaginou que sua vida mudaria tanto quando saiu de Alagoas e foi morar numa das grandes metrópoles mundiais para estudar numa escola de gente rica. Logo quando chega ele acaba se envolvendo numa bela confusão envolvendo os arquinimigos Nat...