cap.37

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Em um momento, tudo estava bem.
Eu voltei a dormir tranquilamente ao lado de Lisa enquanto absorvia suas palavras, lutando contra o sono e com os pensamentos aleatórios que surgiam em minha mente a todo segundo, como se não fosse possível evitá-los. Me encolhi na cama e em poucos segundos estava caindo em um sono profundo, como se todo o cansaço que senti nos últimos dias tivesse voltado à tona. Tudo estava bem, até o momento em que as coisas começaram a escurecer. 

Os gritos começaram, e junto a eles, os tiros, que se uniram em um grande barulho ensurdecedor, que se intensificava junto ao breu ao meu redor. As vozes que gritavam eram de pessoas próximas e de outros conhecidos, todos esperneando com dor como se estivessem a ser torturados; e os tiros pareciam estrondosos e fatais, como se ninguém pudessem escapar das balas. E dentre essas vozes, a de Lisa se destacava; porém seus gritos não eram de dor, e sim de desespero, que se ampliavam ao dizer o meu nome. 

Eu tentava sair daquele escuro ou simplesmente tentar me livrar dele, já que não tinha ideia de como encerrar os gritos e as palavras de tortura. Comecei a implorar para que tudo aquilo acabasse, ou pelo mesmo para que as vozes que gritavam se calassem, principalmente depois que pude identificar a minha irmã e a minha mãe entre elas, sendo torturas pelo desconhecido em meio a escuridão, ou por ela mesma, mesmo que não percebessem.

E então, de repente, tudo se calou, como se meus pedidos em tom de imploração tivessem sido atendidos. Tudo o que sobrou foi o escuro e uma única voz ao fundo, que estava baixa e ia se intensificando aos poucos, com o meu nome sendo a única palavra dita. Era a voz de Lisa, mais uma vez, mas agora o tom de desespero não estava presente, somente seu tom de voz que sempre foi capaz de acalmar. 

Em poucos segundos tudo ficou menos desesperador para a minha pessoa, a voz de Lisa serviu como um calmante para mim e eu apenas deixei que ela se aproximasse. Passei a sentir a presença da chefe próximo a mim e logo o seu toque em seu meu corpo, as mãos dele estavam em minha cintura e me puxaram para o desconhecido em meio ao escuro, e mesmo sem saber para onde estava indo, eu apenas confiei nela. 

ーPequena, está tudo bem. Eu estou aqui, sempre.ー Sua voz soou muito mais perto do que eu imaginava, seu toque passou para o meu rosto e sua respiração foi capaz de acalmar a minha, e quando menos esperava, eu acordei. 

Meus olhos se abriram de uma vez e minha visão demorou para se acostumar com a luminosidade que entrava no quarto, meu corpo tremia e estava frio mesmo estando debaixo do edredom, minha respiração estava acelerada e tudo estava claro demais ao meu redor, e a única coisa que me deixava confortável no momento era o inconfundível toque que acariciava a minha face com delicadeza. Foquei a minha visão e me virei para o lado, onde foi possível enxergar a imagem alta da chefe de olhos avelã de pé, ao meu lado, acariciando a minha pessoa. 

ーJennie, se acalme.ー Ela repetiu com seu tom de voz rouco e calmo, sentando ao meu lado e passando as mãos pelos meus cabelos.  Lisa estava somente com uma toalha enrolada ao redor de seu corpo, sua clavicula estava exposta e levemente úmida, e junto aos seus cabelos molhados indicavam que ela havia acabado de sair do banho. ーPequena, é melhor você levantar, eu já estava pensando em te acordar, mas assim que sai do banheiro você estava perturbada com os seus pesadelos.ー Ela explicou rapidamente, ajudando-me a sentar na cama. ーTome um banho, certo? Preciso te levar para um lugar muito importante hoje.ー Ela disse, saindo do meu lado e indo em direção ao seu closet. 

ーTudo bem.ー Eu sussurrei, pisando no chão frio e indo até o banheiro, parando na porta do mesmo assim que lembrei das palavras de Lisa algumas horas atrás. Esperei que a chefe saísse do closet e a encarei por alguns segundos, agora ela estava com sua saia e com sua camiseta social, secando os cabelos levemente molhados com o sapato nas mãos. ーLisa, quando eu voltei para cama hoje cedo, você me disse certas coisas e-ー Eu tentei continuar e ir direto ao ponto, mas a voz da chefe interrompeu a minha fala. 

innocence - JenlisaWhere stories live. Discover now